sábado, 18 de agosto de 2007

“Compositor de destinos, tambor de todos os ritmos...”

O tema de hoje continua sendo 'relacionamentos', mas o foco não mais está nas pessoas.
O mote é o meu relacionamento com um velho amigo, o tempo.
Aquele que voa.
Aquele que não perdoa.
Aquele que cura as piores mazelas.
Ouso hoje dizer que com o passar dos anos fica cada vez pior.
O tempo, quanto mais passa, mais implacável se apresenta.

Concretamente (se é que posso aplicar esse conceito ao tempo), gosto de defini-lo como aquele pequeno intervalo entre o carnaval e o natal, que se esvai num piscar de olhos.

Se o tempo lhe permitir, pare por alguns segundos e olhe alguns meses para trás.
Olhou? E então?
Não é surpreendente a quantidade de acontecimentos e emoções que ele pode encerrar?
Um ano? Para mim, é um pouco mais do que o tempo de uma batida de um coração.

Por exemplo, acompanhem comigo um “mini-flashback”: um ano atrás, neste mesmo mês...

Lado A - Com o coração lanceado:
(tá bom, eu sei que o vinil já cedeu a vez, mas é que dá ao flashbach uma cara de viagem no tempo, não dá?)

- Tenho que dizer ao meu chefe que estou indo dessa para uma bem melhor. Partindo mesmo. Tá, isso eu admito que nem doeu, mas deu dor de barriga.
- Tenho que acertar a mudança da cidade grande pro interior. Combinar com o carreto para buscar as coisas quando alguém estiver em casa. Tudo já foi empacotado, ensacado e parcamente identificado – com exceção das calcinhas que esqueci na gaveta da cômoda e quase mataram a Débora de vergonha.
- Tenho que me despedir das pessoas. De algumas nem tanto, pois sei que estarão comigo sempre. Mas principalmente das muitas que é certo que jamais cruzarão o meu caminho novamente.
- Tenho que juntar os cacos do meu coração e me desfazer de alguns sentimentos.
- Tenho que apagar a luz, fechar a porta e não olhar para trás.

Lado B - Alguns dias depois, com o coração já um pouco mais solto:

- Tenho que aprender o nome de 25 novas pessoas que agora dividem a sala comigo (todas muito gentis e receptivas).
- Tenho que ir até a república que será meu novo "lar".
- Tenho que aprender a andar pela nova cidade (coisa que até teria feito, se alguém já não tivesse investido nisso antes de mim).
- Em síntese, tenho que recomeçar outra vez (não, não é pleonasmo, é recomeçar outra vez mesmo).

Sem cansaço. Sem trégua. Sem brandura.
Não é surpreendente o modo como as coisas tomam forma dentro do tempo?
Deixar para trás, sentir saudades, esquecer.
Conhecer, aprender, confiar.
Tudo isso no mísero espaço de tempo contido em quatro estações.
Tudo isso em uma batida de um coração.


Milena é escorpiana, adora desafios, nunca diz não a uma boa mudança, mas já está cansada de deixar as coisas para trás. Escreve nesse blog aos sábados.

11 comentários:

Paula disse...

Realmente, Milena, o tempo voa e não perdoa. Por isso estou tentando, a duras penas, aprender a difícil arte de viver o momento mais que olhar para frente ou para trás...
Muito bom seu texto!
Bjs.

Anônimo disse...

Realmente tenho discutid muito com o Tempo ultimamente, principalmente, este ano. Tenho pedido para ele ser bonzinho. Ele sempre é cruel, concordo. Passa rápido demais tantas vezes, mas, em outras, é tão d-e-m-o-r-a-d-o....
Mas uma coisa eu tenho de agradecer ao Tempo: aliado às amizades, ele é o remédio mais eficiente que eu já recebi. Tantas curas em mim eu devo aos meus Amigos e ao senhor Tempo.

Professora Vanessa disse...

Milena,
tenho percebido muito isso com relação à minha filha. O tempo passa mesmo e dá uma vontade imensa de pegá-la no colo pra impedir isso, como se fosse possível... Nunca gostei tanto de máquinas fotográficas!
Seu texto, brilhante, me fez lembrar da música "Resposta ao Tempo", de Nana Caymmi
(...) respondo que ele aprisiona,
eu liberto,
que ele adormece as paixões,
eu disperto,
e o tempo se rói
com inveja de mim,
me vigia querendo aprender,
como eu morro de amor,
pra tentar reviver(...)
Um grande abraço,
Vanessa.

Anônimo disse...

Oi Mi, adorei o texto mais uma vez! Realmente se a gente ficar analisando muito o tempo, correremos o risco de ficarmos malucas, porque tudo muda, o tempo todo! Mas temos que ter isso em mente para vivermos o aqui e o agora da melhor maneira possivel... Bjs, Maisa

Sisa disse...

Eu tambem estou cansada de deixar as coisas e pessoas pra tras. Mas quanto mais me canso, mas desconfio de que esta vai ser sempre minha vida... e quer saber? Sou feliz com ela! Beijos!

Anônimo disse...

Paula,
viver o momento é bem mais difícil do que parece. Mas creio que é imprescindível não esquecermos nosso passado para obtermos sucesso no futuro. Afinal, o que somos hoje não é o resultado do que vivemos ontem?

Tati maria,
o senhor tempo sabe exatamente como nos deixar malucos. Algumas semanas parecem ter 25 dias, outras parecem ser apenas 3, mas no geral a impressão que tenho é sempre de que os ponteiros do relógio se adiantam, e para não perder o chavão, principalmente quando estamos felizes.

Vanessa,
também adoro máquinas fotográficas! E olha que nem tenho filhos! Mas parar o tempo no exato segundo daquele sorriso especial não tem preço!

Maisa,
obrigada! Eu aprendi muito ultimamente sobre abstração. Acredito que as coisas acontecem como têm que acontecer, e isso independe do tempo que gastamos analisando-as. Parar para ver que o tempo passou é inevitável, mas não dá para 'perder tempo' com isso, pois ele continua passando...

Cecília,
eu também sou feliz na mudança. Mas às vezes, só as vezes, dá uma vontade bem no fundo de ter uma casa com cerca branca, dois cachorros, uma rede... Acho que poderia ser feliz assim!

Anônimo disse...

Milena...
adorei seu texto... principalmente a frase: "Aquele que não perdoa.
Aquele que cura as piores mazelas.", duas coisas que eu entendo bem.
No meu caso o tempo também é favorável no sentido de fazer esquecer as coisas ruins... sim, porque sem isso, seria impossível viver...rsrs

Anônimo disse...

Consegui me ver em seu “mini-flashback”, uma porque passei por coisas bastante parecidas nesse mesmo intervalo e outra por ser uma das 25 novas pessoas que você teve que aprender o nome...

Depois de ler o seu texto, concluí que se em vez de contarmos a passagem do tempo em dias, meses ou anos, devemos contar em amigos que fizemos, obstáculos que superamos, risadas que demos...
Para mim ficou muito mais proveitoso...

Beijo

Unknown disse...

Nossa, me deu um aperto no peito de lembrar daquele dia!! vc já tinha ido e eu ia ficar sozinha, com o Mário longe por alguns meses!Sem contar a vergonha mesmo que passei com aquelas calcinhas!!!rs
Putz!deu uma saudade de vc e das nossas longas conversas sobre a vida!bjs

Advokete disse...

Confesso que tenho evitado pensar sobre o tempo. Ou pela passagem dele. Já se foram mais de dez anos que vim da Tailândia e ainda não consegui voltar lá. Será que algum dia vou conseguir rever quem me acolheu com tanto carinho? Quero acreditar que sim, senão vou ficar perdida no tempo.

Anônimo disse...

Carol,
esquecer coisas ruins é mesmo essencial. Mas sabe o que é melhor? Aprender com elas. E nisso tenho certeza de que você é mestra!

Wall,
também acho mais proveitoso contar o tempo em amigos, risadas e experiências. Afinal, todos eles deixam marcas profundas em nós, e no fundo no fundo, sempre deixamos alguma coisa para trás, mas sabe, acho que as pessoas e coisas que não nos acompanham nunca foram nossas.

Débora,
muitas saudades de nossas conversas! Tantas dúvidas pra uma só vida, não é? Tanta coisa em uma só vida...

Laeticia,
também quero acreditar que um dia estaremos de novo com as pessoas que passaram por nossa vida mas deixaram um pouco de si em nós. É muito triste acreditar no contrário!

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