sábado, 20 de outubro de 2007

Parodiando Drummond

"Um aluno cabeludo,
desses que vivem pulando muros,
me disse: “ Vai, professora,
vai vê se eu tô na esquina..."


Eu fui. Vou sempre, pra falar a verdade. Já disse aqui que educador é aquele que acredita no ser humano, mesmo quando ele não acredita mais em si mesmo. Os alunos que recebemos hoje não são mais os de antigamente. Muitas vezes eles vêm para a escola buscando tudo, menos conhecimento. O professor acumula várias funções, como a de psicólogo, médico, enfermeiro, motorista de ambulância, além da sua própria função de educador.

As escolas também passaram a ser espaços de multiuso, o conselho tutelar, inclusive, sempre nos faz umas visitinhas, mas infelizmente a comunidade escolar, principalmente a fatia onde se lê “pais de alunos”, não é comprometida.

Penso que seria tão bom e tão mais proveitoso se pudéssemos trabalhar juntos. Seria tão melhor para os alunos, que certamente sentiriam-se amparados por dois pilares importantíssimos em sua formação: família e educação.

Recordo-me de situações ímpares (?), como a de um pai que falou que se o seu filho de 5ª série não me obedecesse que eu tinha a sua permissão para lhe dar umas boas bofetadas. Além disso disse também ameaçou o filho na minha frente com uma marreta que estava carregando. Eu chamei a atenção do pai, obviamente, mas ele disse que estava educando seu filho. Educando...

Um aluno cabeludíssimo, também de uma 5ª série, teve os pais chamados pela supervisão. Vieram o menino chorando, a mãe chorando e o pai bêbado. No dia seguinte o menino não apareceu. Dias depois ele chegou e me mostrou as costas marcadas por correiadas que ele ganhou do pai. O pai foi também chamado e ele argumentou que se a escola não estava dando conta do menino que então deixássemos ele educar o filho do jeito dele. Educar...

Há inúmeros exemplos que poderiam ser tecidos aqui. Eu estou pedindo socorro , enquanto educadora. Os pais não entendem, o governo não comparece, os alunos se perdem... mas eu vou sempre atrás.


Ah, o que eu posso dizer? Vanessa é brasileira e não desiste nunca!!!





6 comentários:

Angel disse...

Vanessa,
Que missão divina a sua! Realmente nos deparamos com cada situação hoje em dia... Na empresa onde trabalho há alguns menores,do Cesam, trabalhando. Eu escuto cada uma... Dia desses um deles me contou que uma senhora atravessou a rua quando o viu pensando que fosse ladrão. E por isso ele ficou mesmo com vontade de roubá-la pra ela "aprender" a não ter preconceito.Eu tive vontade de chorar. A reação da maioria dos adolescentes é "partir pra guerra" física. Tento fazer a minha parte, repetindo, incansavelmente, o quanto é importante estudar, conhecer, que só se ganha com isso. Imagino o quanto deve ser difícil pra vc e o quanto tb deve ser prazeiroso quando seu esforço é recompensado.
Não desista nunca!
Bjos!

Paula disse...

Vanessa...
É admirável esta sua vocação e persistência, impressionante!
Para mim, educar é mostrar através de exemplos o que é certo e o que é errado, possibilitar o desenvolvimento físico, psíquico, intelectual e, principalmente o social e o emocional. Se vale dar umas palmadas? Bem, eu sou contra, mas há quem diga que umas palmadas podem acertar o passo... Mas uma coisa é certa: tem de aprender desde cedo que as ações têm conseqüência!
De qualquer forma, educar é reservar tempo e recursos (como faz o professor e deveriam fazer Estado e pais, principalmente pais) para tentar ensinar algo a alguém. Acredito muito na imaturidade de muitos pais, o que os leva a ver a escola como tábua de salvação para seus filhos. No entanto, como o Estado não subsidia o mínimo suficiente um trabalho assim em uma escola, acaba estourando a bomba na mão dos professores...
Sorte dos seus alunos que você tenta se desdobrar em mil e suprir todas as falhas e faltas adjacentes, mas muitas crianças e adolescentes não têm esta mesma sorte...
Admiro muito você! Mais um texto perfeito!
Beijos.

Anônimo disse...

Vanessa, acho que você poderia ter acrescentado algumas outras funçoes, como humorista,amiga e enfim , mudando o jingle:"Nesquik traz amor e alegria".Se existe alguém descontente com sua metodologia de ensino, nao te conhece bem.Vanessa não é bombril porcausa que tem cabelo bom, mas é mil e uma utilidades.
Continue assim Vanessa,
Aguentando tantas "Tipatias",
Parabéns e muito obrigado por ser assim.

Anônimo disse...

Vanessa,vc com esse texto me tocou muito,la no fundo mesmo,vc sabe pq!!!
É muito importante e dificil hoje em dia ser educadora,pois vc tem que desempenhar muitas funçoes,como vc disse.Mas que bom que existe educadores no mundo,quando digo educadores,me refiro a aqueles que nao so desempenham sua funçao de ensinar, mas sim aqueles que querem nos ajudar,que sao amigos,que nos dao conselho,que querem fazer parte da nossa vida,que dizem "pode contar comigo",eu como aluna confesso que ouvir essa expressao hj em dia é muito raro.
Agradeço-te pela educarora que é,não sei se é verdade,mas um dia uma pessoa me disse que educador é aquela pessoa que educa a dor, e se isso for verdade, pode ter certeza que esse papel de educadora vc cumpre muito bem.
Muito obrigada por me ajudar sempre..te adoro muito, muito mesmo..pode ter certeza!!!
Mil beijos e abraços,da sua aluna que te adora!!!

Sisa disse...

Vanessa,
Eu quero ser professora e tenho certeza que é esta minha missão. Mas também tenho certeza que só poderei fazer isto bem se for pra adultos, porque trabalhar com crianças e adolescentes é ajudar a formar caráter e isso é muita responsabilidade pra mim. Educação de um ser humano numa fase tão em formação é uma coisa complicada. Eu adoro isso de diálogo, explicação, ser razoável. Mas às vezes dá mesmo um desespero e a única saída que vejo é psicologia sólida...

Advokete disse...

Faço das palavras de Cecília as minhas. E olha que enfrento com bastante freqüência a tarefa de ajudar moldar caráter apesar de não ter nem querer ter filhos. Definitivamente este instinto, esse dom, eu não tenho. É realmente muita responsabilidade.

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