sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Se eu pudesse

Se eu pudesse te ensinar alguma coisa na vida, a primeira delas seria que só se tem 16 anos uma vez na vida, e se você não aproveitar este momento agora, não vai aproveitar mais. Eu te ensinaria que estudar é importante demais, porque o mundo é muito cruel com quem está bem preparado, e mais cruel ainda com quem não está. Ensinaria também que não gostar de uma coisa não faz dela menos importante pra vida, e que por isso um dia você vai agradecer ter tido a oportunidade de estudar inglês desde muito novinho. Eu te ensinaria que embora suas obrigações pareçam muitas e muito pesadas, elas são mínimas se compararmos com sua capacidade, e que com disciplina e força de vontade você pode tirar todas elas de letra.

Se eu pudesse te dar um conselho neste minuto, diria pra você colocar sua roupa mais estilosa, seu perfume mais cheiroso, passar numa floricultura e levar uma flor praquela menina por quem você tem uma quedinha desde criança. Diria pra você roubar um beijo dela, mas se isso for demais pra sua timidez, pra você pelo menos pedir esse beijo, e prestar atenção na resposta: se ela disser “não”, ela quer dizer “talvez”; se ela disser “talvez”, ela quer dizer “sim”, e se ela disser “sim”, não espere nem um segundo e corra pro beijo! Mas diria também que isso só funciona pra beijo, e se algum dia você pedir algo mais pra uma menina, se ela disser “sim”, você aproveita com responsabilidade, se ela disser “talvez”, você precisa respeitar o ritmo dela, e se ela disser “não”, não insista. Diria pra você lembrar que uma menina com quem você se envolva é provavelmente irmã de alguém (ou pelo menos muito importante pra alguém), e não fazer nada com ela que você não gostaria que fizessem com suas irmãs. Diria pra você beijar muito. Beijar por amor, por farra, por curiosidade. Beijo apaixonado, beijo de carnaval, beijo sem graça, beijo de amigo que se beija.

Se eu pudesse abrir seus olhos pra alguma coisa, seria pro fato de que o tempo não volta. Se você não passar tempo e não se dedicar às pessoas que você ama, quando elas se forem não haverá mais tempo. Não vai adiantar chorar. O vazio vai te consumir, e a vida inteira você vai se perguntar como teria sido se tivesse sido mais atencioso e presente. Por isso eu diria pra você gastar menos tempo no computador e mais tempo com pessoas. Mas diria também pra você reservar um tempinho pro computador, porque fazer as coisas que a gente gosta na vida também é muito importante. Portanto, eu abriria seus olhos pra tentar fazer você estar mais presente na vida dos que você ama e reservar um tempo fazendo o que você gosta. E se o que você gosta também é aquilo em que você é muito bom, gaste muito tempo. Por isso eu te diria pra nunca abandonar o papel e o lápis, porque os contornos do que você desenha provavelmente vão delinear seus sonhos.

E se finalmente eu pudesse, faria você perder a visão adolescente que você tem do mundo, porque com maturidade você veria que suas irmãs não brigam com você nem implicam com sua vida de graça. No fundo elas têm maturidade suficiente pra saber as conseqüências de vários dos seus passos errados, e tudo que elas querem é evitar que você fique frustrado, que você bata com a cabeça na parede, que você sofra, que sinta dor. Elas preferem puxar sua orelha do que esperar o mundo te dar uma rasteira, porque elas te amam demais e seu sofrimento sempre vai ser o sofrimento delas.

Mas isso tudo seria se eu pudesse, mas eu não posso. A vida é sua, e quem deve percorrer o caminho é você. Eu não posso viver por você, não posso evitar seu sofrimento, porque através dele que você vai crescer e se transformar numa pessoa melhor. Eu não posso querer evitar de você dar suas cabeçadas, da mesma forma que mamãe não conseguiu evitar que eu desse as minhas. A única coisa que eu posso fazer é pedir pra você nunca duvidar que por trás de tudo que suas irmãs fazem não tem nada além de amor. Muito amor.


Sisa fica apavorada vendo seu irmãozinho (que agora já não é mais tão “inho”, já tem idade pra votar) fazendo besteira, mas ela sabe que o que ele vai aprender com as conseqüências vai ser o mais importante que ele vai carregar pela vida. Então ela tenta relaxar um pouco, mas nunca consegue e briga muito com ele, na esperança que ele entenda aos 16 anos o que ela levou quase 30 pra aprender.



2 comentários:

Angel disse...

Essa é a oportunidade de você gastar todo o seu instinto maternal, já que, até agora, não quer ser mãe oficialmente.
É isso que faço com meus sobrinhos.

Sorte (ou azar rs) do João que tem três leoas para protegê-lo.
Bjos!

Anônimo disse...

Chorei!!
Às vezes sentimos um amor tão grande que não conseguimos mostrá-lo muito claramente. Mas com certeza, quando as emoções não estiverem tão à flor da pele, ele será percebido. Cuidar não é fácil, proteger muito menos...
bjs

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