domingo, 30 de março de 2008

Possibilidades da História

A História é a forma de alterar o passado. Engana-se quem pensa que ela não muda; que não há mais nada para se saber sobre história e que não se pode mudar o que já aconteceu. A história depende de quem a conta, de quando ela é contada e até de onde é contada. Afinal, a história da colonização do Brasil com certeza não é a mesma contada em Portugal.

Assim, personagens históricos que hoje admiramos e chamamos de heróis já foram os vilões da mesma história. Tiradentes, idealista que lutou para libertar Minas de Portugal, era visto, até o fim do Império no Brasil, em 1889, como um criminoso que ousou insurgir contra a Coroa Portuguesa, que era a autoridade maior no período colonial, e que continuou no poder após a Independência, pois nossos Imperadores pertenciam à Família Real Portuguesa.

Outro personagem que hoje é símbolo da resistência à escravidão no Brasil, Zumbi dos Palmares, também era um criminoso perante as leis que regiam o Brasil até 1888, quando a escravidão foi abolida por lei assinada pela Princesa Isabel.

E, se você acha que a História estava errada até fins do século XIX por isso, engana-se. Ora, se a autoridade em 1789 era D. Maria I, rainha de Portugal, e a Conjuração Mineira tinha a intenção de libertar Minas do domínio português; então Tiradentes, Tomás Antônio Gonzaga, Cláudio Manoel da Costa e demais conjurados agiam fora da lei, sendo, portanto, criminosos. Quando foi proclamada a República, e os militares tomaram o poder, a figura do alferes Tiradentes como herói era muito bem-vinda.

A mesma análise se aplica a Zumbi, pois o Quilombo dos Palmares era o refúgio dos escravos que se rebelavam contra seus donos. E, por mais que seja vergonhoso hoje que tenha havido escravidão no Brasil até 1888, é preciso pensar que era uma prática comum, aceita e legalizada durante um longo período. E não podemos aplicar o nosso conceito de humanidade e direitos humanos ao período da escravidão no Brasil. Assim, por lei, Zumbi era criminoso no fim do século XVII, e continuou sendo até o fim do século XIX.

Hoje ambos os personagens são símbolos da luta pela liberdade; é claro que por liberdades diferentes, com ideais diferentes, mas são vistos como heróis. Hoje nossa cultura é outra, nosso pensamento é outro. Logo, a História também é outra.

Mas não se pode dizer que há história certa e outra errada, e nem que uma história se opõe à outra. Como exposto no início deste texto, a história muda com o tempo, e depende do tempo, do lugar e de quem está no poder.

Por isso não podemos julgar o passado, e sim procurar compreendê-lo; saber o que era lei ou costume na época, e ver que o que é certo para nós, na maioria das vezes, só é certo em nossa época.



Tania não gosta que se busque no passado a causa de todos os males do mundo. Ela respeita a História e acredita que história é para a vida toda, e não uma matéria imutável nos livros escolares.

2 comentários:

Gisele Lins disse...

Tânia teu texto é um estímulo para pensarmos no que nos choca, ou é contra nossas crenças e filosofias de hoje: quem sabe estas coisas não são visionárias e representam um pouco do que vai ser o nosso amanhã?
Gostei do texto!
Um beijão para você!

Angel disse...

A História, certa ou errada, construiu o país, o estado, a cidade em que vivemos hoje. Foi a vontade de homens comuns que mudou a história e deflagrou movimentos duradouros e de grandes frutos.

Ótimo texto, pra variar...

Bjos!

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