quarta-feira, 30 de abril de 2008

O Pescador

Era uma vez um humilde pescador. Ele trabalhava apenas para o seu sustento, e vivia tranqüilo com seu trabalho, mas nada lhe faltava, nem à sua família. Um belo dia chega um empresário de férias na praia do pescador e ao observar sua rotina pergunta-lhe:

- Pescador, o senhor pesca em uma região tão rica, porque não monta uma cooperativa para aproveitar melhor esta abundância?

- Pra quê?

- Porque então vocês poderiam comprar barcos melhores, em maior número e extrair mais peixes do mar.

- Pra quê?

- Para então vocês poderem beneficiar os peixes na cooperativa e ter um produto final com maior valor agregado, uma marca de impacto no mercado e um ótimo apelo para exportar para investidores japoneses. Depois vocês poderão até abrir o capital e entrar para o mundo de investimentos financeiros.

- Mas pra quê tudo isso?

- Ora, meu amigo, daí você ficará rico!

- Há, legal, e daí, e depois de ficar rico?

- Aí você poderá ir para a praia pescar sem preocupação nenhuma!

- Mas, senhor, isso já é o que eu faço, então quer dizer que já sou rico?

Esta fábula moderna, pra lá de batida, me pegou de jeito nesta semana. Porque tanto querer acomete a nós, pobres mortais? Se antes o desejo geral da nação era “ficar rico” hoje queremos mudar de emprego, de marido, de profissão, de cidade, de país, de sexo, de status. Tudo bem querer, nos leva pra frente, mas pra que querer tanto sem perceber que boa parte do que desejamos com nossos “quereres” nós já temos e nem damos muito valor?

Gisele Lins anda com muito querer ultimamente, mas talvez não esteja pronta para ele, ou enquanto não dar valor ao que já tem não o mereça. Escreve aqui às quartas-feiras.

terça-feira, 29 de abril de 2008

“Trem Bão de Minas” Eu Recomendo MILHO VERDE

Conheci o distrito de Milho Verde há 13 anos e me encantei com a beleza e a calma do lugar. Era um feriado de Tiradentes (acho que foram 03 dias) e lá fui eu com mais dois casais (Angélica, a vela!) conhecer esse paraíso.

A história conhecida do distrito vem desde o século XVIII quando garimpeiros ocuparam o local em busca de diamantes e ouro. Entre proibições e permissões de exploração mineral, a vila foi se formando. Na década de 80, a cidade começou a atrair hippies devido à calmaria e natureza rica do local. Hoje, a população do distrito criou uma infra-estrutura mínima para a recepção de turistas e vivem praticamente disso.

Conta-se que o nome Milho Verde surgiu pelas lavras do local pertencerem a Manoel Rodrigues Milho Verde, um português natural de Moinho.

Milho Verde fica a 333 km de Belo Horizonte e está no trecho entre o Serro e Diamantina, pela Estrada Real.

Para falar da cidade tenho de falar de minha viagem. Na época, o acesso já próximo à vila (uns bons quilômetros*) era de terra, portanto cheguei ao local com gosto de terra na boca. Imaginem a minha roupa, meus cabelos então... (por sorte eram curtos).

Já havíamos reservado uma pousada**, era a mais nova da vila na época. Tinha quartos simples com beliches e só um banheiro pra galera toda.

Quando chegamos estávamos cansados, mas eles estavam mais cansados que eu. Foram dormir. Pensei: dormir? Eu? Nem morta, vou andar por aí... E foi o que fiz. Perguntei ao primeiro nativo que encontrei onde era a cachoeira mais próxima (tenho medo de nadar em cachoeiras, meu barato é contemplar) e o “gente boa” me ensinou. Lá fui eu, mal imaginava a aventura. Pelas indicações dele, me embrenhei mato adentro descendo, descendo e só ouvindo o barulho da água. Demorou um tantão, mas a água chegou. Era sim uma cachoeira escondida no meio do mato, deserta e linda. Tirei algumas fotos, fiquei ouvindo o barulho da água e dos bichos e depois voltei, afinal já estava quase anoitecendo e eu ali no meio do mato. Além dessa, outras cachoeiras vieram, mais lindas ainda: Lajeado (tem três cachoeiras), Arco-Íris, Taioba, Canelau.

Conheci um bar apenas na cidade, em que as mesas eram feitas de roda de carro de boi. Só abriu um dos dias em que estávamos na vila. Nos outros ficamos na pousada ao som de um violão e muita conversa. Um detalhe do qual nunca me esquecerei é que a fome da noite era resolvida por nós mesmos na cozinha da pensão. É isso aí, nós fazíamos um mexidão. Foi simples e fantástico!

Um detalhe interessante da cidade foram os búfalos. Eles andavam pela cidade à noite, as pessoas se escondiam porque eles atacavam as roupas nos varais e destruíam algumas coisas em quintais. Fiquei olhando o passeio deles numa das noites que passei em Milho Verde e choveu muito nesse dia.

Outros atrativos da cidade são:
· Capela e Cemitério Nossa Senhora do Rosário (tenho uma foto na cruz em frente a essa igreja) construída no século XIX pelos escravos e negros livres da região;
· Cachoeira do Moinho (acabei de reconhecer as fotos pela internet, foi esta a cachoeira que persegui mato adentro), Cachoeira do Carijó, Cachoeiras do Alto Jequitinhonha.
· Igreja Matriz de Nossa Senhora dos Prazeres;
· Cachoeira do Piolho;
· Lago Azul.

Eu recomendo Milho Verde pelas belezas naturais, pela paz, pela simplicidade dos moradores, pela emoção que sinto agora ao lembrar de momentos tão especiais vividos nessa vila e pela grande vontade que sinto de voltar.

Para maiores detalhes sobre a vila acessem
http://www.desvendar.com/cidades/milhoverde/default.asp.

* Pelas minhas pesquisas são 33 km de estrada de terra.
** Grande parte da emoção que sinto ao escrever esse texto é porque reconheci a foto da pensão em que fiquei quando a vi na internet. A única coisa diferente nela é que hoje ela tem placa (que não consegui ler na foto). Fora isso, está como há 13 anos atrás. Daí, me lembrei da dona da pensão com quem fizemos amizade a ponto de tirar fotos para recordação.


Angélica lembra de Milho Verde com um carinho imenso e declara, sem dúvidas, que essa vila é uma das muitas razões que reforçam a conhecida frase:
“Oh Minas Gerais, quem te conhece não esquece jamais.”

segunda-feira, 28 de abril de 2008

Lança sem ponta

Anastácia continuava sozinha, não se sentia realmente só, sua companhia era sua melhor companheira, mas às vezes se pegava pensando nos motivos de ainda estar só com ela mesma. No entanto nos últimos tempos se sentia vivendo uma saga. As poucas pessoas que apareciam ao seu redor eram verdadeiras lanças sem ponta. Será que ela estava num momento Madre Teresa de Calcutá? Talvez, mas se este era o caso, Anastácia acreditava que já tinha terminado toda a sua lista de caridades, pelo menos por alguns anos. Contudo não era assim que o destino pensava, e este havia reservado infortúnios ainda maiores, mas que com certeza ela iria tentar lidar da melhor maneira possível e, possivelmente, iria rir dos mesmos, passados alguns dias.

Numa de suas viagens, e, diga-se de passagem, Anastácia adorava viajar sozinha, um rapaz sentou ao seu lado, nem bonito, nem feio, um tipo normal. Perguntou se podia sentar e se apresentou. Coisa que Anastácia ate achou gentil...hummmmm, que ilusão!! Apos alguns minutos o rapaz começou a puxar conversa, ate ai, tudo bem, e por ai foi, durante todo o trajeto da viagem ate seu destino. Anastácia nunca foi muito de conversar assim de uma hora pra outra, então respondeu algumas perguntas e fez outras, nada de mais, nada de amigos, nada de nada, e pronto, era assim que ela queria.

Chegando no destino do tal passeio, Anastácia exultante por poder finalmente recuperar sua liberdade de livre pensamento e poder assim desfrutar a cidade que iria visitar; Vem o tal rapaz e pergunta se poderia acompanhá-la... Sinceramente Anastácia gostaria muito de dizer um lindo e esplendoroso NÃO, mas como? Seria no mínimo falta de educação. Então Anastácia vestiu seu manto sagrado de misericordiosa e aceitou o inconveniente intruso. Foram quatro horas de perguntas, traduções, elogios, indiretas. Por fim e antes tarde do que nunca o final do passeio chegou, Anastácia só queria voltar para seu quarto, esquecer aquela tarde passada com um rapaz estranho e que pra completar tinha uma meleca pendurada no nariz.

O rapaz, contudo estava muito feliz por tê-la conhecido, claro e obvio, afinal Anastácia era bonita, inteligente, sabia falar a língua do pais em que estavam e ainda por cima decorava mapas como ninguém, ou seja, ela foi sua guia, tradutora, por vezes professora e ainda sua companhia. Ahhhh como as estórias tem sempre dois lados heim. No caminho para casa o tal infeliz ainda lhe pediu seu e-mail e claro, não e preciso nem dizer que já lhe escreveu... Sinceramente ninguém merece, nem mesmo as mais bondosas irmãs de caridade! Em casa Anastácia concluiu que sua saga continuava com mais uma lança sem ponta, mas tinha esperanças de esta seria a ultima.

Após dois e-mails sem resposta, Anastácia espera que sua companhia de viagem consiga perceber que o inverso não é sempre proporcional aliás, muitas vezes e totalmente desproporcional. Pena que nem todos pensem dessa maneira.
Sim, a saga de Anastácia continua, mas espero que as próximas sejam boas anedotas.

domingo, 27 de abril de 2008

A Inveja é Uma Merda

Tudo bem, não tenho o carro dos meus sonhos (ainda). Mas é que sonho realmente alto. Adoro carros. Sempre gostei. Por muitos anos, meu sonho foi um Chevette 86. Eu achava que conseguiria comprar meu carro muito mais rápido do que consegui realmente. Mas quando consegui, e o Chevette já tinha saído de linha havia muitos anos, comprei um carrinho lindo, minha Smurfette. Era um Celta azul todo arrumadinho. E que carro, viu? A GM devia me pagar pela propaganda que eu faço. Umas cinco pessoas compraram Celta depois que me ouviram falar do meu carro. Por percalços da vida, acabei trocando a Smurfette quase quitada num Ka preto, zero quilômetro (mas todo financiado), que imediatamente foi batizado de Zulu. O Zulu que me perdoe, mas a Smurfette atendia melhor meu pé pesado. Cinco cavalos fazem diferença, principalmente num carro mil com o ar condicionado ligado. Então que desde sempre eu namoro carros. Carros próprios ou na vitrine, diga-se de passagem. Nunca fui maria gasolina. Gosto de carros pra eu mesma ter, pra eu mesma dirigir. E carro já deixou de ser luxo há muito tempo.

Então que fiquei super feliz quando uma amiga que ia de ônibus de Belo Horizonte pra Contagem todos os dias me contou que tinha comprado um carro. E a menina não brincou em serviço, comprou de cara um Punto. Lindo de morrer. Lá estava ela toda feliz que tinha comprado um Punto, chega um invejoso e solta: “P*T* QUE P*R*U!!! Que desperdício de carro!! Você pagou mais de quarenta mil num carraço destes pra arrebentar os retrovisores dele e as laterais nas pilastras da garagem!! Jogou dinheiro fora, tinha que ter comprado um Uno velho”. Minha amiga não se calou: “Olha, se você não tem um carro decente, azar o seu, mas eu posso me dar ao luxo de ‘arrebentar’ um carro de mais de quarenta mil porque quem paga as minhas contas sou eu!!!”

Aí eu fico pensando: o que que leva uma pessoa a dizer uma coisa destas?! Minha amiga lá, toda alegre, juntou dinheiro um tempão pra comprar o carro, fui em quinhentas mil lojas com ela fazer test drive, o marido olhou vários carros pra ela também, todo orgulhoso que ela tava comprando um zero quilômetro, e chega um invejoso pra dizer que era desperdício de carro.

Não satisfeito, o invejoso ainda deu mais uma. Na hora de ir embora, comentei que pensava em vender o Zulu no fim do ano (não me adaptei mesmo aos cinco cavalos a menos) e perguntei se ele não queria comprar. Imaginei que quem tem um carro de quase dez anos, mil, pelado, com mais de 110 mil Km rodados podia querer trocar de carro, né? E o Zulu é novo em folha. Perguntei só porque quando vendi a Smurfette pra um amigo, ele se queixou que eu não tinha comentado antes que ia vender o carro e que ele e todo mundo queria comprar carro que tivesse sido meu (quase vendi pra uma concessionária, mas aí ele soube e comprou antes). Pois o que eu pretendi ser uma gentileza recebeu de volta uma patada: “Nem f*u*endo!!!!!!!!!!!!! Quando eu for trocar de carro, vou comprar um muito melhor que o meu!!!!! Não quero porcaria de carro mil, não!!!”

Menina, mas me deu uma raiva!!! Tudo bem que o Zulu não é assim um Vectra GTX, muito menos uma BMW 120i, mas afinal de contas é o carro que eu posso ter honestamente, e é muito bom, é novo, e adquirido com muito suor. Pago prestação todo mês, tive que financiar em muito tempo, mas pelo menos não preciso ir trabalhar de ônibus e só usar o carro fim de semana porque o dinheiro não dá pra gasolina igual aquele invejoso faz!!! Respondi na hora: “Mas meu carro não é só melhor que o seu, ele é muuuuuuuuuuuuito melhor que o seu, é 2008, tem ar condicionado e tem só 8 mil quilômetros rodados e o seu é 2001, tem mais de 110 mil quilômetros rodados, você já comprou ele velho e sambado, é pelado e já foi batido mil vezes!!!” “Muito melhor que o seu, eu quis dizer”, tentou consertar o invejoso. Mas não teve jeito. “Então vai trabalhar muito, meu filho, igual eu e a fulana fazemos, porque se este Ka não cai do céu, você imagina um Punto!!!” E fui embora macha da vida. Definitivamente, a inveja é uma merda.

Laeticia ficou horrorizada com as palavras do seu amigo e sentiu pena dele. Porque apesar dele ter tido sim um momento de inveja, ela sabe que ele não é assim e torce pra que as coisas comecem a dar certo na vida dele porque ele é do bem e merece.

sábado, 26 de abril de 2008

Bullying

Essa palavra inglesa, sem tradução específica para o português, diz respeito a um problema que acontece em sala de aula e que certamente todo mundo, um dia, vivenciou, direta ou indiretamente. (Mesmo nós, mulheres de 30!!!).

Trata-se daquela brincadeira boba, daquele deboche, daquela zombaria, muito comuns no período escolar. Por exemplo, se você usava óculos, dá-lhe QUATRO OLHOS; se era gordinha, BALEIA; se era aplicada, estudiosa, toma CDF... e tantos outros apelidinhos e gracinhas que poderiam ser citados aqui.

Mas como doía... e como dói, porque crianças e adolescentes continuam sendo vítimas do bullying, principalmente aquelas mais retraídas, que possuem alguma dificuldade de relacionamento ou um problema físico aparente. (Mães, fiquemos de olhos bem apertos!)

A vítima, acuada, não pode sequer contar em casa, quanto mais na escola, para alguma autoridade. Caso seja um garoto, pior ainda, MARIQUINHA, CHORÃO, BAMBI...

Além da vítima, é claro, podemos identificar outros papéis. Temos o agressor, geralmente algum colega da sala que exerce relativa liderança sobre os demais e que possui, digamos assim, a coragem para fazer a brincadeira, ou iniciá-la. Os demais colegas são cúmplices, mas não deixam de ser também agressores, pois contribuem com risinhos e comentários não menos maldosos.

Uma característica importante para se identificar o Bullying é o caráter repetitivo do fato. É algo intermitente, dia após dia, muitas vezes de maneira velada. Vale também lembrar que pode ser considerado bullying apelidos, deboches, atirar objetos na vítima ou jogar objetos na vítima, que tem medo de contar e muitas vezes finge aceitar a brincadeira, mas certamente sofre, perde o entusiasmo, tem vontade de faltar às aulas.

Às vezes pensamos que isso ocorre somente entre os alunos, mas pode acontecer de alunos para com os professores e vice-versa também. Eu já fui vítima de bullying, apesar de não saber que era esse o nome que tinha. Fui vítima enquanto professora, em início de carreira, anos atrás.

Uma turma de 5ª série, onde os alunos tinham a minha idade ou eram mais velhos do que eu, passaram a ter muita resistência comigo, batiam de frente e se comunicavam como se eu não estivesse ali, levavam correntes, batiam com o lápis na carteira enquanto eu falava, entravam e saíam da sala e se perguntavam: “Você vai assistir a aula dessa mulher?” Entre outras coisas, eu sinceramente não entendia o que tinha acontecido, até que uma pessoa da sala me contou que uma professora teria dito que eu falei mal deles na sala dos professore e que, ao contrário do que eles imaginavam, eu não gostava tanto deles assim.

Até que tudo se esclarecesse, sofri muito, tive depressão e uma vontade louca de largar trabalho, faculdade, tudo que tivesse relação com a área de educação e ensino, que eu tanto amo. Foi difícil contornar, mas dei a volta por cima. A respeito do que aconteceu, até depoimento eu já dei em um colóquio sobre o tema. Hoje, nada disso me passa despercebido em sala de aula, mas ainda temo pelas coisas que são ditas e que acontecem durante recreio e intervalos. Já foram tantos casos... mas o que eu posso fazer para defender “minhas coisinhas pequenas” , eu faço! (As grandes também!!!).
Um grande abraço!


Vanessa adora escrever no blog, pois é um espaço para o crescimento de quem lê, de quem escreve. Uma pena pessoas fazerem uso de orkut e blog para praticarem o cyberbullying. Deixa aqui o seu protesto, e um aviso: É CRIME.



Frases

Tu podes repetir o lanche quantas vezes quiser, não precisa comer tão rápido, vai te fazer mal. Aqui na escola tu não precisas comer até acabar, embora tu não saiba o que é comer até ficar satisfeito.
É, é verdade que existem pessoas que pagam para estudar. Não, áreas verdes não são aquelas que se invade para morar; nem sempre, ao menos.
Um buraco aberto na tua cabeça, com sangue e secreção não é normal... Olha, é um verme. Deu, já tirei...
Olha, quando a mão está limpa não tem esses risquinhos pretos...vamos lavar de novo?
Para isso se usa papel higiênico.
Ninguém te chamou pra acordar e vir pra escola? Quem cuida de ti? Alguém viu que tu chegaste machucado em casa? Alguém te diz “bom trabalho!”? Alguém te levou ao médico? Essa tosse está bem feia...
Por que tu ficaste fumando ao invés de vir pra escola? Por que tenta me agredir quando tento tocar teu ombro, ver teu caderno, saber de ti?
Ninguém viu que teu braço tava quebrado desde sexta-feira?... Hoje já é segunda...
Eu entendo que caminhaste horas pra conseguir pão pros teus irmãos, mas tu não podes faltar aula todos os dias por isso... Não, não vão te tirar da tua mãe por isso. Calma.
Ninguém te diz que roubar é errado? Ninguém vê todas estas coisas que levas pra casa? Quem te procura quando tu sais de casa e volta só de madrugada?
Quem fez isso contigo?!? Hoje está tão frio... Tu não tinhas meias?
Eu não posso não contar pra ninguém... eles não podem fazer isso contigo.


A maioria destas frases foram ditas por mim a alunos com os quais trabalhei nos últimos 10 anos... Algumas delas foram só pensadas... Com nenhuma delas me conformei. Ensinei uns a lavar as mãos. Alguns a escovar os dentes. Muitos a ler, ou a ler melhor. E quero crer que ensinei a maioria que eles têm um futuro, que eles podem sonhar, podem querer e devem se esforçar para vencer.


Renata queria ter inventado algumas destas frases, porque se nega a se conformar com a situação cada vez pior a que são expostas as crianças desse país.



sexta-feira, 25 de abril de 2008

Cabra – cega

Quem não lembra das brincadeiras de criança? Pegador, amarelinha, cabra – cega... Na verdade eu nunca soube direito se era cabra – cega ou cobra – cega, mas entre tantas brincadeiras de criança era a que eu mais odiava. Eu não lido muito bem com tensão, e pra mim esta brincadeira sempre foi tensa. A pessoa é colocada de olhos vendados em um lugar, rodada até ficar tonta e quase cair, depois tem que sair caindo pelas beiradas tentando agarrar pessoas que ela não vê, que fogem dela passando muitas vezes raspando nela, gargalhando às custas do infeliz.

Pois minha vida ultimamente parece uma brincadeira de cabra – cega. Eu sei que tudo que quero (e quem eu quero) está ali, perto de mim, e me sinto cega e tonta, sem saber nem como começar a tatear. Às vezes sinto que quase agarro uma coisa ou outra, e o que era pra ser desafiador vira uma frustração que me persegue. Sinto que o que eu tenho que agarrar está ali, ao alcance das minhas mãos, e quando eu passo perto e deixo escapar, escuto gargalhadas se afastando.

Esta brincadeira é de extremo mau gosto e eu estou odiando.


Sisa está sendo obrigada a brincar de cabra cega em uma vida que ainda precisa de uma faxina que ela ainda não conseguiu enxergar nem por onde começar.



quinta-feira, 24 de abril de 2008

Oneomania

Olá.
Meu nome é Milena.
Hoje é a minha primeira vez aqui e eu sou oneomaníaca.
Não sei dizer ao certo quando foi que isso começou.
Na realidade, gosto de pensar que essa é uma das heranças genéticas que ganhei da minha mãe. Não sei se posso afirmar isso, mas diminui consideravelmente a minha culpa.

A wikipédia, fonte universal de saber, cultura e blábláblá diz o seguinte sobre o oneomaníaco: “consumidor ou devedor compulsivo. Pessoa que tem a necessidade de comprar assim como um viciado necessita da droga. O primeiro grupo de apoio para a doença (D.A. - Devedores Anônimos), surgiu em 1968 nos Estados Unidos, migrou para o Brasil em 1997 e tem reuniões de apoio em São Paulo, Rio de Janeiro, Ceará e Paraná. Não existe um dado oficial sobre oneomaníacos no Brasil, mas acredita-se que 3% da população sofra com a compulsão de comprar. Para a Oneomania não existe remédio, ela é uma doença tratável assim como o Alcoolismo”.

Para minha sorte - e devo nessa hora agradecer à Santa Nossa Protetora dos Saldos Bancários - não ligo para grifes, marcas e etcéteras. Ligo para liquidações. Ligo para promoções. Meu deus, só de ver essas duas palavras juntas na mesma oração já tenho faniquitos!

O problema começa quando eu descubro na minha cidade uma loja de bugigangas boas, bonitas, baratas e inúteis! Pronto, lá vou eu, lépida e fagueira, todas as manhãs de domingo - como quem vai à missa - exercitar um pouquinho do meu vício.

Outro problema foi a introdução das compras on-line no meu dia-a-dia. Lojas sem o menor pudor enviam-me diariamente e-mails contendo promoções de livros - e esses sim, admito são minhas maiores compulsões. Juro, eu tento resistir. Mas quando vejo um guia de turismo ilustrado de Jerusalém e da Terra Santa por R$ 9,90... ahhhhhhh Eu chego a suar frio!

Mas também tenho meus momentos de glória ao comprar uma sandália de qualidade razoável - tipo, que dure uma ou duas primaveras - por R$ 19,90. Rua 25 de março, Brás, José Paulino, Jaú e outros destinos como esses me fazem muito feliz. E depois da felicidade vem a culpa. E a ressaca moral.

Ser oneomaníaca não é divertido, e para sua sorte, se você nem sabe o que é isso, provavelmente você não sofre desse mal.


Milena sofre e é feliz com esse vício/ doença/ compulsão. Já está tentando se tratar sozinha, mas nem sempre consegue. Escreve aqui às quintas.

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Tenho me sentido só. Não solitária, mas em contato com uma das condições humanas mais imutáveis que considero existir: somos seres sós. Nascemos e morremos essencialmente, literalmente, apenas na nossa própria presença, sendo que, no teatrinho que se passa entre um momento e outro, são alguns expectadores distraídos (mas com certeza não ocasionais) que nos servem de espelho para o que vai lá dentro do mais íntimo de nossas vísceras, e que às vezes nem nós mesmos queremos enxergar.

Quase recentemente (não muito, mas também não tão pouco) peguei meu palquinho itinerante e levei meu teatro para outro lugar. Meus antigos fãs (os verdadeiros, que hoje ainda me importam e vice-versa) ainda me acompanham: por e-mail, internet, carta ou telepatia eles me fazem saber que estão lá, pensando em mim. Às vezes eles dão até um jeito de vir visitar a minha tenda colorida pra matar a saudade, olho-no-olho, tomar um mate e contar as novas. Hoje somos redondos um para o outro. Nossas arestas foram aparadas quando era mais fácil fazê-lo e quando podíamos dedicar uma semana inteirinha para remoer e resolver algum perrengue entre nós. Tolerância era implícita e não algo que precisamos lembrar de recrutar, enquanto engasgamos com bolas de pêlos de nosso orgulho. Em algum momento desta peça eu jurei que “Há, tempo bom...” seria uma fala que jamais se ouviria no meu palco, mas ao pensar nisso, bem que dá vontade de soltar essa, mas não vou.


Nós, ciganos, sempre estamos a montar um novo acampamento e a magia, incerteza, curiosidade, desafio, que acompanham esta itinerância, correm nas nossas veias mais rápido que nosso sangue bugre de raças misturadas. E o descompasso é o que nos causa estas sensações estranhas. Como posso estar a pensar tanto em minha condição de ser só, quando rodeada por tantas novas pessoas (em frescor na minha vida, não necessariamente em idade), mas já tão queridas?

Seria o saber que os velhos amigos não virão bater na porta, desavisados, com o baralho numa mão, um vinho na outra, e a prosa solta, entediados numa noite chuvosa qualquer? Não! A possibilidade de não mais vivermos algo maravilhoso além de não diminuir a beleza do que já passou engrandece absurdamente a possibilidade de um outro momento além.

Seria o sabor de fracasso (ou tomates sendo jogados?), fugaz, mas presente quando uma nova turnê se inicia e nem a todos convencemos de que nosso show vai valer a pena? Não! Existem aqueles cujas arestas são tão distintas das nossas que não é possível nos dispormos ao atrito necessário para que melhor possamos nos aproximar. Nem por isso sua passagem em nossas vidas deixará de ser bela (apesar de provavelmente dolorida).

Seria a auto-decepção que surge quando, através do outro, percebemos que estamos fazendo exatamente aquilo que ontem condenamos tanto (como horrivelmente fazer um julgamento apressado ou uma cobrança a quem quase certamente não nos disporíamos a agradar)? Não! Não, e não! Os expectadores estão lá justamente para que eu me dê conta disso e solitariamente mude, ao invés de ficar inerte, apenas me flagelando por constatar que sou um ser humano, e bastante imperfeito.

Foi quando vi a beleza de se ser (e não apenas estar) só. De que outra forma poderia sentir a honestidade com que alguém se interessa pelo meu espetáculo, tão trivial e igual ao ali do lado, a ponto de, mesmo sem eu nada ter a oferecer, resolver ir ficando por aqui, sem cobranças e sem interesse maior do que dividir uma risada ou fazer nada junto comigo. Apenas sendo realmente só e deixando de estranhar ou temer a minha solidão é que descobri entre os expectadores (de longe ou perto, frescos ou maduros, de infância ou de ontem, com arestas ajustadas já nascidas redondas – sim eles também existem!) aqueles que eu posso, e sempre poderei chamar de amigos.


Gisele Lins espera um dia aprender a ser tão fiel quanto seus amigos têm sido para ela, mesmo quando ela se faz só. Escreve aqui às quartas-feiras (olha a cigana aí, se mudando do sábado...).

terça-feira, 22 de abril de 2008

Caixa Significante

Desde o início do semestre letivo, recebi a informação de que, nos próximos meses faria uma Caixa Significante. Essa informação foi passada pelo professor de Gestão Mercadológica, que se enquadra naquele grupo de professores que vai além do “feijão com arroz” na sala de aula, graças a Deus! O objetivo do trabalho é retratar o mundo culturalmente construído ligado a cada aluno.

A tal Caixa Significante deveria ser criada de acordo com a criatividade do aluno e deveria representar o próprio aluno, ou seja, eu tinha de montar uma caixa que contasse quem sou eu. E agora José?

Pensei em tanta coisa e desisti da maioria delas. Vieram logo à mente liberdade e poesia. Liberdade, que cada dia torna-se mais importante em minha vida e que, de certa forma, dirige meu comportamento. E a poesia, às vezes penso que nasceu comigo. O gosto por ela e a vontade de me arriscar nela. Não poderia esquecer de música, que também sempre foi forte em minha vida.

Enfim e com certa pressa (pois já não havia mais tempo para pensar) montei minha caixa. Os quatro lados de minha caixa são de letras de músicas e poesia, assim como o fundo e a tampa. Naturalmente, são de autores que admiro, entre eles Fernando Pessoa, Arnaldo Antunes, Carlos Drummond de Andrade e eu mesma (rsrsrs). O interior da caixa é revestido por algodão, retratando o céu que é o símbolo maior de liberdade pra mim. No meu céu estão uma estátua de anjo (simbolizando a fé sempre associada ao céu), um bonequinho pára-quedista (a melhor experiência de liberdade que já tive) e uma escultura de pássaro feita em vidro (simbolizando a vontade que tenho de voar quando me der vontade, como ele).

Apresentarei o trabalho amanhã e não me canso de pensar qual será a reação das pessoas que podem enxergar nessa montagem características que eu não planejei demonstrar e que podem estar lá em meio àquele monte de algodão...

Bem, à caça de boas poesias para colar em minha caixa, encontrei algo de Fernando Pessoa (Alberto Caeiro) que preciso dividir com vocês e que me desperta um sentimento de que eu a declamaria como se a tivesse feito.

“Se eu morrer novo,

Sem poder publicar livro nenhum,

Sem ver a cara que têm os meus versos em letra impressa,

Peço que, se se quiserem ralar por minha causa,

Que não se ralem.

Se assim aconteceu, assim está certo.

Mesmo que os meus versos nunca sejam impressos,

Eles lá terão a sua beleza, se forem belos.

Mas eles não podem ser belos e ficar por imprimir,

Porque as raízes podem estar debaixo da terra

Mas as flores florescem ao ar livre e à vista.

Tem que ser assim por força. Nada o pode impedir.

Se eu morrer muito novo, oiçam isto:

Nunca fui senão uma criança que brincava.

Fui gentio como o sol e a água,

De uma religião universal que só os homens não têm.

Fui feliz porque não pedi cousa nenhuma,

Nem procurei achar nada,

Nem achei que houvesse mais explicação

Que a palavra explicação não ter sentido nenhum.

Não desejei senão estar ao sol ou à chuva –

Ao sol quando havia sol

E à chuva quando estava chovendo

(E nunca outra cousa),

Sentir calor e frio e vento,

E não ir mais longe.

Uma vez amei, julguei que me amariam,

Mas não fui amado.

Não fui amado pela única grande razão –

Porque não tinha que ser.

Consolei-me voltando ao sol e à chuva,

E sentando-me outra vez à porta de casa.

Os campos, afinal, não são tão verdes para os que são amados

Como para os que não o são.

Sentir é estar distraído.”

Angélica quebrou a cabeça procurando o próprio significado para construir sua caixa.

E foi com grande prazer que escarafunchou seus livros de poesia em busca de ajuda.

Os grandes poetas sempre me ajudam...

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Quando não vale a pena fazer parte do grupo

Sempre me recordo de uma pergunta que meu pai me fez há alguns anos atrás. Estava fazendo minha segunda graduação e não me sentia realmente incluída no grupo. Alem de meus colegas terem se assustado comigo quando souberam que já havia concluído um curso, era, ainda, um curso que provavelmente eles nunca escolheriam. Senti-me num misto de curiosidade, preconceito e medo. Por vezes parecia que eu já havia vivido toda uma vida, que estava com meus 70 anos tentando viver no meio de adolescentes. E, o pior, provavelmente, percebi que comecei a me fazer de burra para que fosse aceita. Não que eles não tivessem suas qualidades, as tinham, eram alegres, entusiásticos, gostavam de farra e cerveja. Mas no geral nossos interesses não combinavam, uma vez que não gostavam de ler, nem de estudar e muito menos de MPB. - Como assim né? - Também não estou dizendo que eu sou cem por cento gente boa, legal e que só tenho bom gosto. Era simplesmente incompatibilidade. Nua e crua.

Foi um sentimento muito ruim quando percebi o que estava fazendo comigo mesma. E o pior, não era feliz onde estava. Não gostava do curso no geral e percebi que o melhor mesmo seria continuar estudando Filosofia, elevando meu nível de conhecimento, do que continuar com mais uma graduação que só me deixaria no mesmo lugar. Apos essas reflexões conversei com meu pai sobre o que estava pensando, sobre me diminuir para me encaixar num grupo que nem estava gostando realmente e se continuaria o curso ou não. E ele me fez uma pergunta que nunca me esquecerei: "Mas você quer mesmo fazer parte desse grupo?" A resposta foi clara e imediata, não, na verdade não. Adeus, boa viagem, vou sair pra comprar fósforo e não volto mais. Não preciso nem dizer que não voltei depois das ferias, mas ao contrario, fui estudar o que eu já sabia que gostava, com pessoas que me entendiam e que, usualmente, tinham o gosto parecido com o meu.


Ate hoje uso esse ocorrido pra me guiar nas minhas escolhas e definitivamente procuro sempre seguir o sábio provérbio: "Antes só do que mal acompanhado". Hoje posso dizer com certeza que eu me guio, eu sou meu senhor e que tudo que eu sei e todos que eu considero amigos são minhas maiores preciosidades.

domingo, 20 de abril de 2008

No Volante

Tirei carteira de motorista – ou parte da minha carta de alforria – tarde, já era formada, tinha passado na prova da OAB e tinha vinte e cinco anos. Não que eu não tivesse tentado antes, mas minhas dificuldades iam além da motricidade. Na primeira tentativa, aos dezoito anos, fui fazer prova oral de legislação pronta pra ir direto pra uma entrevista de estágio. O examinador implicou com o fato de eu estar arrumadinha e soltou algo tipo “você devia estudar ao invés de ficar se arrumando”e ouviu um “no dia que você pagar as minhas contas, aí você dá palpite na minha maneira de vestir”. Precisa dizer mais alguma coisa? Mas pelo menos consegui o estágio.

Fiz intercâmbio e voltei toda feliz, doidinha pra tirar carteira. Fui marcar a prova de legislação e meu exame médico tinha vencido... tinha que fazer tudo de novo, mas não tinha dinheiro. Tive que deixar pra depois. Consegui emprego, fiz cursinho, entrei na faculdade e aí voltei a pensar na minha tão sonhada CNH. Só que aí eu trabalhava o dia todo e estudava à noite. Tinha aula sábado de dia, fazia os trabalhos sábado de tarde, caía na gandaia sábado de noite e dormia domingo o dia todo. Que hora que eu ia fazer auto escola? Só dava nas férias. Aí tentei três vezes em três férias seguidas, ou seja, uma tentativa cada seis meses sem colocar as mãos num carro. Não dava, né? Foi muita inocência minha mesmo. Aí decidi parar de jogar dinheiro na latrina e só tentar de novo depois que eu me formasse. E assim foi. Um ano depois da minha formatura eu estava feliz da vida com minha permissão para dirigir! Hehe

Já se passaram alguns anos e, como comprei um carro relativamente rápido, com poucos meses meus retrovisores deixaram de ser batidos e minhas rodas, arranhadas. Tive que encarar o centro de Belo Horizonte desde o início, então nem deu tempo de ter medo do trânsito pesado, nem da estrada, já que de Nova Lima pra Belo Horizonte não há alternativa. Hoje, segundo meu marido, dirijo “até bem”, o que, vindo de um exemplar de homo sapiens sapiens do gênero masculino pode ser considerado um senhor elogio!

Aí aconteceu o inevitável: deixei de ter paciência com quem está aprendendo a dirigir, com quem acabou de tirar carteira e com os domingueiros de plantão. Ou seja, esqueci que um dia fui aprendiz, barbeira e domingueira. Pus minha mão na consciência e voltei a ser condescendente. Mas nunca aceitei aquelas piadinhas tipo “mulher no volante, perigo constante”, “agora as apólices de seguro vão dobrar de preço em Belo Horizonte”, “tinha que ser mulher mesmo” e por aí vai. Confesso que esta última sempre me irritou profundamente.

Aí hoje, eu tava indo ao centro da cidade e fui direto pro estacionamento de sempre, já que parar no centro é impossível. Se eu não fosse de lá pra outros lugares, teria ido de ônibus. Mentira, teria ido de táxi, mas de qualquer forma, o carro teria ficado em casa. Bem, quando cheguei na porta do estacionamento, tinha uma moça assim da minha idade mais ou menos (obviamente que somos moças, ou seja, jovens mulheres, no entorno dos trinta), com o carro em cima da calçada, bloqueando entrada e saída do estacionamento!!! Estava com o porta malas aberto esperando que algum cavalheiro (como se o habitat natural deste espécime fosse os hipercentros das grandes cidades) tirasse um trombolho qualquer de lá pra ela. Quando vi que o sinal lá atrás estava aberto e ia fazer fila de carro atrás de mim, o carro de trás deu uma rézinha (tive sorte de ter alguém de bom senso atrás de mim, que viu a situação e me deu espaço), eu manobrei e, como o Ka é minúsculo, consegui passar quase raspando numa pilastra – sim, tem uma pilastra na calçada – e entrei no estacionamento. O outro veio atrás, mas o terceiro carro era grande, não passou. O pessoal começou “educadamente” a buzinar,gritar, fazer sinais e xingar até a terceira geração dela, e a mocinha nem se abalou. Lá estava, lá permaneceu. Saí do estacionamento e comentei com o atendente, que me conhece pelo nome: “é triste, né, Rafael, tudo que é homem chama a gente de nó cego e esta aí me dá uma destas...” Ele riu e disse que já tinha chamado o reboque antes que alguém matasse a menina.

Resolvidas minhas pendengas hipercentrinas, voltei ao estacionamento e, quando estava no meio da manobra pra tirar o Ka daquele buraco que só Deus sabe como conseguiram colocar lá, me vem outra moçoila, entrando no estacionamento, pára o carro no meio da pista e simplesmente fica esperando eu sair pra ela passar!!! Jesus!! Será que ninguém ensinou pra esta menina que dois corpos não ocupam o mesmo espaço? Bem, as físicas de plantão me corrijam se eu estiver errada, mas até onde eu sei, é assim. Aí como eu vi que a madame realmente nem tinha percebido o tamanho da caca que fizera, fiz mais mil trezentas e quinze manobras e consegui sair passando por vagas que abençoadamente não estavam ocupadas. Passei novamente pelo Rafael e tive que ouvir: “é, doutora, sinto muito, mas mulher é tudo nó cego mesmo!!”


Laeticia fica revoltada com as piadinhas sobre mulheres no volante, sabe que ninguém nasce sabendo dirigir e defende as pessoas por isso, mas hoje infelizmente teve que se calar porque a barbeiragem das duas colegas foi demais!!

sábado, 19 de abril de 2008

Se entrar areia... faça um castelinho!

No último feriado fui para uma casa de praia com a parentada do meu namorado.
Na última hora descobrimos que a energia estava cortada e resolvemos ir assim mesmo, quer dizer, os mais empolgados resolveram ir e eu não quis ser estraga prazeres.
Pensei logo “aff... que programa de índio!!! Mas fazer o que né? Melhor não contrariar gente doida”.
Fomos prevenidos, levamos repelente além de muito gelo e é claro, velas...
Foi como se estivéssemos acampando, com a vantagem de ser no conforto de uma casa.
Assim que chegamos mais um imprevisto, a chave da dispensa não estava junto com as outras.
Tivemos que pedir uma vassoura emprestada na casa de um vizinho, mas ela soltava tanto pelo que sujava mais do que limpava, no final das contas tacamos água em tudo e pedimos um rodo emprestado para outro vizinho.
Acabou dando certo e no dia seguinte compramos uma vassoura para segurar as pontas até irmos embora.
Me surpreendi com meu bom humor, ao invés de morrer de ódio e dizer “bem que achei que ia ser uma furada”, só dava vontade de rir de cada imprevisto que acontecia.
A praia, os churrascos e as conversas à luz de velas valeram à pena mesmo quando a carne saía salgada demais ou surgia alguma discussão de bêbado.
Aprendi que quem diria, eu, a mais tensa das criaturas, consigo relaxar e rir dos problemas!!!! Gente será que consigo fazer isso de novo?? Vou pelo menos tentar né?


Louise é fria e calculista, não consegue fazer nada sem planejar, mas se os planos forem por água abaixo, não quer mais se afogar com eles.

A tão falada vida

Como é fácil sensibilizar-se com o que passa na televisão a toda hora...Não que não sejam coisas terríveis, que mexem conosco, mas ao nosso redor coisas terríveis, e também coisas maravilhosas acontecem o tempo todo...

O amigo que há tempos não se vê. A flor que abriu. O filho que foi para a escola com marcas de surra. O acidente de trânsito. O amor. O ódio. A fome. A alegria. O milagre da vida. O mistério da morte.

A vida. A vida não passa na televisão. A vida não dá IBOPE. A vida não é perfeita. Não tem Photoshop. Não tem edição. Não tem seleção.

A vida acontece sempre, não só ao ligar um aparelho. A vida não para, pra gente fazer um intervalo. A gente não pode mudar de canal. A vida está aí pra quem quiser ver. E viver. Pois quem apenas sobrevive não sabe a riqueza de sensações que está perdendo.


Renata pensa que não é uma emissora que deve determinar as coisas com as quais as pessoas se sensibilizam, se revoltam ou se emocionam. Cada um tem sua oportunidade de escrever o roteiro.

sexta-feira, 18 de abril de 2008

A faxina

Como eu disse aqui semana passada, percebi que precisava dar uma faxina na minha vida. O que motivou isso foi descobrir mágoas que eu não achava que fosse sentir, perceber que não havia deixado pra trás assuntos que pra mim estavam enterrados e não saber lidar com isso.

Como não tinha outro jeito, lá fui eu, timidamente, espanador na mão, começar a faxina. Até que olhei pros lados e percebi que a bagunça está maior do que eu pensava. E enquanto eu olhava sem saber o que fazer pra sujeira toda, completamente desanimada, percebi que enquanto eu estava ali, parada, assustada com a desordem toda, alguém vinha discretamente jogar mais porcaria no meu quintal.

Vou confessar, meu primeiro impulso foi “Quer saber? Vou sentar aqui na sujeira e deixar rolar.” Meu segundo impulso foi fingir que não percebi a bagunça e continuar vivendo como se estivesse tudo na mais perfeita ordem. Meu terceiro impulso foi sair correndo sem olhar pra trás.

Sinceramente, ainda não tomei a atitude de começar a limpeza geral. A vontade ainda é não começar nunca. Mas eu sei que é necessário e uma hora vou precisar começar. Já estou bem aos poucos tomando atitudes que vão ajudar a dar coragem pra fazer o que tem que se feito. Mas vou confessar: ô preguiça...


Sisa queria pelo menos poder esganar quem está sujando o que ela nem teve coragem pra começar a limpar ainda. Espera até sexta que vem ter começado a sair da letargia.



quinta-feira, 17 de abril de 2008

A hora de retribuir

Minha mãe, linda e vaidosa que é, resolveu fazer uma recauchutagem geral! Fez uma cirurgia plástica e está muito satisfeita. Os primeiros dias doem mesmo, mas eu acho que uma cirurgia destas não é nem um pouco supérflua, a despeito do que dizem muitos por aí.

A auto estima de uma mulher é fundamental! Não só da mulher, mas é que o corpo feminino não reponde à idade da mesma maneira que o masculino. È uma injustiça, mas que uns fios de cabelo branco no homem, ou até uma barriguinha de chope acabam sendo charme no homem de meia idade, isso lá é verdade!

Apoiei a minha mãe desde o início. Além de achar necessário, estou adorando a idéia de poder retribuir um pouquinho tudo o que minha mãe já fez por mim. Todo o cuidado e dedicação... claro que um ou dois meses não são anos... mas é legal poder cuidar de quem já cuidou tanto da gente!!!


Fabiana está muito feliz por ter a oportunidade de ajudar a sua mãe, retribuindo tanto amor e dedicação!



quarta-feira, 16 de abril de 2008

Para assistir e pensar: “Antes de Partir”

Sempre gostei das atuações de Jack Nicholson e Morgan Freeman, mas nunca os havia imaginado atuando juntos em um filme. “Antes de Partir” colocou-os na mesma película, e foi um verdadeiro show de interpretação. Aliás, quase não há outros atores no filme, pois aparecerem somente alguns, com poucas falas, para comporem as cenas. No restante, são seqüências de diálogos entre os dois personagens, de Nicholson e Freeman, e belíssimos cenários, com paisagens de várias partes do mundo.

Trata-se da história de dois pacientes com câncer em estágio avançado, com pouquíssimas expectativas de meses de vida. Um deles é riquíssimo, e o outro, pobre. Assim, eles elaboram uma lista do que gostariam muito de fazer antes de morrer, e resolvem sair pelo mundo para realizarem seus sonhos. Os diálogos são lindíssimos, e tratam, com muita delicadeza, de um tema tão denso, e tenso, como os últimos dias de vida de uma pessoa com doença grave.

É um filme que não leva às lágrimas pela dor, mas nos faz compreender as decisões das pessoas nos momentos finais, e o quanto é importante deixa-las livres, sem abandoná-las, é claro, para que realizem seus últimos desejos. Não deixem de ver!


Tania adora cinema, e acredita que, apesar dos temas pipocas que grande parte dos filmes apresenta, há muitas mensagens belas que devem ser vistas, ouvidas, e pensadas, e que são passadas pelo cinema.

terça-feira, 15 de abril de 2008

Escrevo desde

Nem sei... Não me lembro ao certo, mas quando aprendi escrever, devo ter gostado tanto que quis colocar, no papel, pensamentos, sentimentos e afins, muito cedo.

Quando criança criava “letras” de música, inventava uma melodia e cantava para o meu pai. Afinal sempre me identifiquei com ele nesse aspecto intelectual. Pai é pai, né gente... Ele achava tudo lindo...Talvez ele tenha me convencido de que eu estava arrasando e então eu continuei escrevendo.

No colégio, tinha uma colega que sempre me encomendava cartas. Era assim: ela me dizia o destinatário e o que ela queria dizer e não sabia como expressar e eu fazia a carta. Segundo ela, eu conseguia traduzir direitinho tudo o que ela queria dizer. E eu nem cobrava por isso, rsrsrs.

Na adolescência tinha cadernos e cadernos de texto. Cada “viagem”! Eram espécies de romances sem pé nem cabeça que só eu lia, claro! Acho que ainda tenho tudo guardado. Ainda nessa época começaram a surgir poesias, pura inspiração, zero de transpiração. Com um pouco de coragem, comecei a submetê-las à análise de que entendia do riscado. O Sérgio era um amor também. Algumas foram reprovadas por caírem no senso comum, mas outras ele até elogiou. Não fiquei “me achando” porque sabia que para escrever bem mesmo, teria de estudar muito. Precisava de técnica. Pensei muito (e ainda penso) em cursar Letras, mas acabei adiando esse plano. Acho que ainda dá tempo...

Passei muito tempo sem escrever. Sentia-me sem inspiração. Exceto em algumas ocasiões apaixonadas, no ápice das emoções sempre saía alguma coisa. Mas emoção demais resulta, muitas vezes, em pieguice. E quando escrevo com destinatário certo não costumo registrar o que escrevo. Entrego e pronto. Não tenho cópia. Tem muita produção legal perdida por aí... Em uma ocasião, um colega de trabalho fez uma versão em inglês de uma poesia que fiz para meu então namorado. Achei o máximo! Se procurar bem, creio que encontro essa versão.

É engraçado, a maior parte do que escrevo, principalmente poesias, e leio anos depois, não acho muita graça. Talvez se tivesse a dita técnica, essa seria a riqueza eterna, intocável. Não seria como a emoção do momento, que passa...

Fico pensando como será fazer poesia e torná-la comercial. Será que as pessoas ficariam ligadas definitivamente ao que eu escrevesse como eu sou ligada ao Soneto da Fidelidade de Vinícius de Morais?

Hoje estou em um momento privilegiado de escrita. É um grande prazer publicar um texto aqui no blog toda terça-feira. Agora mais distante da caneta e do lápis e mais próxima do teclado, ainda atuo com grande emoção ao escrever. E me permito escrever textos e poesias, mesmo sem ápices de paixões. Um dia, quem sabe, surja um livro meu, nem que seja só pra matar o desejo de “me sentir” escritora, poeta. Mais real do que isso, pode surgir um livro nosso, meninas! Tipo: “The best of Drepente 30 – o blog”. Que tal!!!??? Rsrsrs...


Angélica escreve desde criança quando os sentimentos já eram muitos e precisavam alcançar o papel. Hoje escreve por isso, por prazer e por exercício.
E volta na próxima terça.

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Descobrindo

Algumas coisas nunca mudam,
talvez possam até ter se modificado,
mas não percebemos realmente.

As ovelhas continuavam lá,
disso não restavam dúvidas.
Lindos flocos de algodão!

Os gramados ainda não tão verdes,
devido ao rigoroso inverno,
mas já com flores; rajadas de tinta amarela.

Cidades, casas, novos edifícios,
tijolos aparentes, madeira,
janelas e portas; pequenos vitrais.

Gatos, amarelos, pretos, brancos.
Coelhos, brancos, pretos, cinzas.
Pessoas, brancas, loiras, morenas.

Países, Brasil, Suíça, Coréia,
Turquia, Espanha, Polônia,
Japão, Palestina, Inglaterra.

E, algumas coisas nunca mudam,
as pessoas, mudam, se descobrem,
redescobrem, vivem a mesma vida de maneira diferente.


Silvia vai ficar um tempo fora e escreve no Blog as segundas-feiras.

domingo, 13 de abril de 2008

Vou morrer tentando não chorar

Nós estranhamos quando o Buda não apareceu na Saideira do Comida di Buteco. A Saideira era um ritual nosso, um programa sagrado. Nada nos faria deixar de ir à Saideira. Ou quase nada.

No dia seguinte, ele nos telefonou logo cedo: queria saber se o Bola não poderia tentar agendar uma tomografia de urgência pra ele. A voz não estava boa e o Buda assumiu que estava sentindo muita dor. Quem atendeu o telefone fui eu. E foi a última vez que ouvi a voz do meu amigo. Um mês depois nós estavamos no velório dele. Era tudo tão ruim, tão triste, que não parecia real. Eu custava a acreditar que aquilo estava mesmo acontecendo. Mas a pior parte era saber que eu não ia acordar nunca daquele pesadelo. Meu amigo se fora. Exatamente dois meses depois do aniversário dele. Havíamos preparado uma festa surpresa. Ele adorou. Tinha sido surpresa de verdade.

Quase um ano depois, fui surpreendida com uma mensagem do yahoogrupos: “Lembrete de aniversário. 11 de abril. Quinta-feira. Buddhakhan.” O Buda era o moderador do nosso grupo e quem assumiu depois dele (conhecíamos tanto nosso amigo que descobrimos a senha do grupo na base da tentativa) se esqueceu de apagar aquele lembrete. Ou faltou coragem. Quem sou eu pra condenar. Até duas semanas atrás o e mail do Buda ainda estava registrado na minha lista de contatos e mesmo assim foi estranho apertar a tecla “del”. Eu tinha a sensação de que apertar aquela tecla seria o mesmo que deletar o meu amigo e isto era inadmissível. Comentei com o Breu que aquela mensagem tinha acabado com o meu dia e vi que ele também tinha ficado péssimo com a mensagem. Saímos pra almoçar juntos no dia 11 de abril de 2007. O Breu, eu e um silêncio lacerante. Sabíamos que dali a dois meses estaríamos no sentindo péssimos de novo e assim foi.

Lembro-me de que, no desafortunado dia 11 de junho de 2007, data em que completaria um ano sem o Buda, não consegui segurar minha onda. Cheguei em casa no fim do dia e chorei feito criança. Saudade dói demais. Principalmente quando metade da sua vida, das suas lembranças, têm a presença de alguém que já não está mais presente. Quando o Bola ligou na hora do almoço, ficou rodeando, mas acabou falando que estava com um nó na garganta, que parecia que toda a tristeza do dia do enterro havia voltado. E havia mesmo. Choramos juntos a perda de um amigo. Um grande amigo, um irmão.

Mas o tempo passa, a saudade permanece, a lembrança continua, mas tudo pára de doer. Não sei se ficamos insensíveis ou se a vida é assim mesmo. Me consolo lembrando que o Buda jamais ficaria feliz de nos ver num luto eterno.

A tristeza acabou dando lugar à saudades, às boas lembranças, à alegria de ter sido amigo até o fim. O que o Buda pôde esperar de um amigo, ele teve de nós quando estava vivo. Nunca tratamos o Buda como um coitado porque ele era gordinho (ah, estes eufemismos... ainda vou me livrar deles). O Buda nunca teve nada de coitado, aliás. Mas era tímido, precisava exercitar a auto estima e, infelizmente, morreu antes que isso acontecesse. Quando o Buda foi promovido, foi pra gente que ele contou. Quando viajava, era pra mim que ele trazia chocolate suíço, era pro Bola que trazia Jack Daniels. Quando bebia, era no meu ombro que ele se amparava. Era conosco que o Buda comentava sobre um novo livro que tinha achado fantástico e foi por causa do Bola que ele decorou a primeira página de “Cem Anos de Solidão” inteira. Quando o Bola decidiu me pedir em casamento, foi pro Buda que ele perguntou o que ele achava de fazer uma surpresa. E o Buda, amigo, aconselhou o Bola a me perguntar primeiro. Não que ele duvidasse do meu sentimento pelo Bola, mas eles dois haviam se tornado grandes amigos e ele não queria que o Bola se expusesse ao risco de ouvir um “ainda não” em público. O Buda me conhecia bem. Dizia que se demorasse mais dois dias pra eu nascer, eu teria nascido homem. E foi o Buda quem se responsabilizou por colocar pra tocar “Todo Sentimento” na hora em que o Bola me pediu em casamento. Foi no meu ombro que o Buda chorou quando o Galo caiu pra segunda divisão. E foi comigo que ele passou vergonha na praia da Pipa quando o fiz entrar comigo numa festa particular achando que era um local público. Como nos divertimos eu e o Buda e depois eu, o Bola e o Buda. Temos muita história pra contar.

É por isto que nunca voltei naquele cemitério. Porque acredito que temos que aproveitar as pessoas enquanto elas estão entre nós. Não adianta chorar em lápide, se arrepender de ter sido ausente, de não ter feito o melhor, de não ter se dado por inteiro. O que já foi, já foi. E foi por isto também que este ano, quando recebi aquele lembrete de novo, tive vontade de matar o moderador do grupo (que nem sei quem é mais), porque não tinha nada a ver aquele e mail. Primeiro porque não precisa de lembrete pra se lembrar do Buda, segundo porque já se passaram quase dois anos desde a morte dele. Mandei um e mail meio desaforado pro grupo: “Que merda, hein? Alguém podia tirar este lembrete daí porque isso não vai nos trazer o Buda de volta!”

A ausência de comentários deixou claro que o pessoal ficou puto comigo. E, quer saber? Azar de quem ficou, se é que ficou. Ficar eternamente chorando as mágoas por uma perda não traz ninguém de volta, não recupera o tempo perdido. Eu não tenho arrependimentos. É claro que eu me lembrava do aniversário do Buda, mas a matéria não existe mais. Existe a lembrança. E não são necessárias datas pra se lembrar de uma pessoa querida. A gente lembra, esteja ela entre nós ou não, justamente porque gosta, porque ama.

Então, quem ficou puto comigo, não espere um pedido de desculpas meu. Não espere que eu me retrate. Não espere me encontrar aos pés daquela lápide fria, chorando a morte do meu amigo. Porque a ausência dele não faz parte da minha vida. Fez sim num primeiro momento, no calor das emoções, na dor da tristeza. Mas já não faz mais. E não porque eu não o amasse, porque não sinta falta do seu abraço, do seu beijo e da sua risada, mas porque as lembranças dos bons momentos que tivemos juntos nunca deixou de me acompanhar.

Laeticia é sincera quando diz que seu luto já passou, mas de vez em quando ainda não consegue segurar o choro. Lembra-se do seu amigo a todo momento, desde que ele se foi. Mas tem a consciência tranqüila de que se o Buda teve amigos, ela certamente foi um deles.

sábado, 12 de abril de 2008

Ê tranqueira

Doutor:

- A senhora tem que entender que este é um problema que atinge essencialmente as mulheres. Não necessariamente é uma disfunção fisiológica, mas sim funcional. Está tudo bem com o seu intestino, é apenas o seu cérebro que está ocupado demais com outras coisas para dar o comando para que ele funcione. É normal evacuar apenas duas ou três vezes por semana. Você tem que se liberar para poder liberar.

Paciente (a resposta que ela pensa em silêncio):

- É sim, toda a vida nós fomos tão come-e-caga (quá-quá) quanto o senhor e qualquer exemplar “liberado” do sexo masculino. “Efeito sifão” como ainda ontem eu ouvi, e morri de rir. Daí, de um dia para o outro somos mulheres adultas e responsáveis. Liberar? Eu me liberava sim, quando andava vestida de grunge e se arrotasse na rua é quase certo que quem estivesse comigo ia achar lindo! Agora, pergunte pra qualquer mulher que fique quase dez horas por dia em um lugar com um banheiro glacial, que nada tem do aconchego no lar, muito menos o nome dela escrito na toalhinha ao lado da pia, se alguma vez ela ouviu um sonoro peido, ou mesmo sequer pensou na possibilidade de produzi-lo em tal lugar (o que sem dúvida é comum e corriqueiro na “casinha” ao lado, ou seja, a sua, porque inclusive nós costumamos escutar seus diálogos gasosos)? Duvido, mas duvido mesmo! Imagina se bem na hora adentra o recinto justo aquela pessoa que não vai mesmo com a sua cara e passa praticamente a te conhecer por dentro em um instante?

Liberar? Há é muito fácil mesmo, quando é muito comum estarmos dilaceradas, arrasadas porque fomos, por algum motivo, menosprezadas pelo chefe e ele nem percebeu, escanteadas pela equipe que nem sentiu a nossa falta, fizemos muita hora-extra e vamos ter que pagar de imposto mais do que recebemos de grana, pegamos de relance a bisca impecável daquela reunião observando nossas unhas caóticas, nossa mãe está doente, ou triste e com saudade e nós não estamos lá, nossas pernas estão peludas e há dias nosso corpo moído não consegue fazer com o amorzinho tudo o que nossa mente queria, e ainda perdemos um amigo porque afinal nem temos mais tempo para os amigos, há meses não falamos com nossa avó e não vemos nossos irmãos, o DVD nos espera na assistência técnica porque ainda não juntamos forças pra xingar o tanto que achamos que eles merecem, nossas finanças esperam ser organizadas mas continuam um caos, continuamos sem ganhar dinheiro investindo na bolsa de valores porque não temos tempo para pensar nisso, as blusas que compramos um pouquinho maior porque estavam na promoção continuam lá, com etiqueta, na sacola e esperando para irem para a costureira, e ainda por cima temos uma pilha de roupas para lavar antes das oito da noite pra não acordar o bebê do vizinho com a escola de samba que se instala na área de serviço (isso para quem não tem filhos, pois as que têm o senhor veria pelo menos por mais uns dois dias sentadas nesta cadeira olhando para o senhor e pensando no resto da lista com esta mesminha cara de paisagem que o senhor vê agora). Tudo isso sorrindo e com o salto esmagando o joanete, mas de salto, é claro! Queria ver o senhor sem ir aos pés* e enfezadíssimo há três dias, se ia achar normal!

Paciente (a resposta que ela realmente dá):

- É claro, doutor, eu entendo! Liberar...

* ir aos pés: expressão gaúcha para “pagar um barro”, “sujar a louça”, fazer um “número 2” ou um “download”, etc., a qual eu educadamente utilizei com meu doutor de São Paulo e tive que vê-lo engolindo a risada e perguntando “o que mesmo você disse?”. Grrrrrrr!!!! Liberar, liberar...

Gisele Lins escreve aqui aos sábados. Às vezes bem liberada, mas muitas outras não!

Dúvidas

Sempre me considerei uma pessoa decidida. Avaliava o impacto e duração das conseqüências e, se fossem pequenos, nem pestanejava: a primeira idéia prevalecia e fim. De que cor? Hoje ou amanhã? Café ou chocolate? Nunca me incomodaram, sempre rebati na hora. Se o impacto era maior, também era o tempo pra pensar, mas jamais passei dias pensando, consultando oráculos pra me decidir.

Agora vivo um momento de muitos questionamentos... Carreira, vida pessoal, família, destino ou coincidência... Até azul ou verde, sim ou não estão me mobilizando muito mais. Está sendo um pouco custoso, mas estou me permitindo duvidar, refletir, mudar de idéia, ouvir opiniões, inclusive elegi até um oráculo virtual (sentiu a responsa?). Acho que a gente sempre acaba tomando a melhor decisão para o momento. Mesmo que, após algum tempo, isso mude. Mas tudo muda. O tempo. As pessoas. As opiniões. É o desequilíbrio, causa e conseqüência das mudanças, o real mantenedor da vida.



Renata estava muito indecisa sobre o tema do texto desta semana. Pensou e repensou, decidindo no último momento, por este. É possível que mude de idéia antes mesmo de ser publicado, mas não vai se arrepender.

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Colocando ordem nas coisas

Eu me lembro que uma amiga me contou uma história, uns dez anos atrás. O melhor amigo dela teve um problema com o computador e mesmo sabendo resolver, por comodidade, chamou um técnico, que foi à casa dele. Resolveu o problema que foi contratado para resolver, e quando foi embora tinha deixado o computador cheio de problemas que não existiam antes. O rapaz se sentou calmamente na frente do computador e começou a colocar ordem nas coisas. A amiga que me contou o caso surtou, xingava, falava do absurdo que era, e o amigo respondeu “A vida às vezes é assim. A pessoa entra na sua casa, avacalha suas coisas, vai embora e no fim é você que tem que colocar tudo no lugar depois.”

Pois é, às vezes eu constato que é uma das coisas mais certas que já ouvi. E detalhe, a gente, que deixa a pessoa entrar na nossa casa, e às vezes até a chama para vir, tem também uma parcela de culpa na avacalhação. Claro que a gente não espera que a pessoa atrapalhe tudo, mas tinha que contar com esta possibilidade. E isso não vale só pra casa, vale principalmente pra vida da gente.

Recentemente descobri que tinha mágoa de uma pessoa por coisas que talvez ela nem tenha percebido que fez. E também tenho muita mágoa de mim por ter deixado a situação acontecer. O fato é que agora estou sozinha em casa, no meio da bagunça, sem saber por onde começar a organizar, ainda apontando culpados (eu e a pessoa em questão). Preciso colocar na cabeça que agora o que importa é arrumar tudo, senão quem vai morar na bagunça sou eu. O que menos interessa nesse momento é quem bagunçou.

É uma coisa que quem pode fazer sou só eu. Acho que vou precisar de ajuda profissional, que neste caso infelizmente não é uma faxineira. Acho que vou precisar mesmo de muita terapia antes de resolver isso comigo mesma. Não pode é ficar do jeito que está.


Sisa gostaria muito de terceirizar esse serviço. Infelizmente não é possível.

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é...

Não sabe?

Eu por exemplo, sou PREGUIÇOSA. Tá, eu sei, pecado capital e essas coisas... Mas eu não sou perfeita, ok? E convenhamos, ser preguiçosa pode ser uma coisa boa... Aos domingos em Itapira com certeza é. Eu fico fácil fácil jogada na cama assistindo meus programas preferidos o dia todo. Ou mesmo lendo um bom livro, ou até escrevendo alguma coisa. Invento hobbies, descanso, levanto e me deito de novo. E consigo fazer isso o dia todo!
Mas ser preguiçosa também é bem ruim durante a semana. Na hora de acordar então, eu chego a sentir dor. Dor física mesmo, sabem?

Outra coisa que eu sou é PONTUAL. Eu e uma parcela apoucada da humanidade. Eu tenho ânsias se percebo que vou me atrasar. E sou tomada por um sentimento de que estou fazendo algo muito errado e vil.
O resultado disso é o mais triste possível... Estou sempre esperando alguém ou alguma coisa. Esperando. No gerúndio. Péssimo mesmo.

Também sou DISTRAÍDA. A parte boa disso é que você pode me convidar para visitar a sua casa sem se preocupar com a arrumação. Eu não vou notar nem se a casa tiver sido decorada pelo decorador mais famoso do universo.
A parte ruim é não notar a iminência de certas coisas, nem a beleza de certos lugares.

Mas sem dúvida o que eu mais sou é MULTIFUNCIONAL. Eu cheguei a conseguir - na época da faculdade, claro – estudar, assistir televisão e prestar atenção na conversa dos outros. Tudo simultaneamente! Tá, tá, isso não é lá muito bonito. Mas pode ser bem útil, às vezes.
Mas só depois de muito treino para aprender – a duras penas - o significado da palavra FOCO.

E você? O que VOCÊ sabe sobre VOCÊ?

Milena é uma escorpiana preguiçosa, pontual, distraída e multifuncional. Escreve aqui às quintas.

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Maternidade

O dia tão esperado finalmente chegou, com um pouquinho de antecedência, mas estava preparada pra qualquer coisa. Tinha lido tudo sobre ‘partos’, de todos os tipos, de todas as maneiras. Depois de quase dois dias na espera por um parto normal, acabei conhecendo minha filha através de uma cesariana. Então a médica disse: ‘agora ela está vindo...’ E eu fiquei lá esperando aquele momento tão mágico chegar. Mas quando ouvi o chorinho dela, infelizmente não escutei violinos ao mesmo tempo, e nem vi borboletas brancas sobrevoando a cama. Não chorei de alegria. Estava sim morrendo de curiosidade para ver a carinha dela. Quando finalmente a trouxeram foi como se tivesse conhecendo uma pessoa nova, foi interessante ver a carinha dela, mas tirando a curiosidade não tive nenhuma sensação de outro mundo. Não foi assim o ‘melhor dia da minha vida’, como muita gente costuma dizer sobre o nascimento dos filhos. Tive alguns instintos normais de ‘animais’, como proteção por exemplo, responsabilidade, mas não foi amor à primeira vista. O amor e o carinho foram vindo aos poucos, com os dias passando e eu conhendo melhor aquela criaturinha que agora era minha filha, minha responsabilidade para o resto da vida. É claro que por alguns momentos me achei esquisita, como assim? Como eu não escutei violinos na hora que minha filha nasceu? Acho que a sociedade impõe isso pra gente e muita gente se decepciona. Até hoje, 3 meses depois, ainda ando sofrendo com as mudanças que um filho traz. A vida da gente muda demais, e é praticamente impossível se preparar para este momento. É uma responsabilidade sem fim, 24 horas por dia. Nunca acaba. Andei tentando encaixar minha filha no meu ‘mundinho da casinha’, mas foi impossível. Então percebi, que não daria pra fazer isso, e que eu teria que criar um novo mundinho, uma nova rotina para nós três. Me sinto numa curva ‘seno’. É um vai e vem sem fim, um dia está tudo maravilhoso, outro dia tenho vontade de ligar para o hospital e pedir uma ‘devolução’.

Tem gente que acha que isso é depressão pós-parto, mas eu acho na realidade que a maioria das mães de primeira viagem sofrem disso, mas ninguém tem coragem de dizer, todo mundo tem que dizer que a maternidade é a melhor coisa do mundo. Claro que a maternidade tem os seus momentos, um sorriso, um carinho realmente é muito legal e bem especial, é até difícil de explicar. Mas infelizmente esse sorriso não cobre todas os outros planos da nossa vida. Infelizmente só ser mãe não traz felicidade. Eu também quero ser ‘esposa’, ‘amiga’, ‘jogadora de vôlei’, ‘escritora de blog’ etc.... e no momento sinto que só posso ser mãe. As outras coisas estão sempre para o último plano, e às vezes isso me deixa triste. Fico triste de não poder dar atenção às minhas amigas da mesma maneira que fiz antes. De não poder estar na quadra ajudando meu time a ser campeão, de participar de todos os debates do blog, de poder mandar um texto escrito em 10 minutos se o blog tiver em crise. Eram essas coisas que juntando tudo formavam o meu ‘Eu’ e agora me sinto tão perdida.

Eu sei que com o tempo a tendência é só melhorar. No fundo eu sabia disso, mas eu pensava que um ano ia passar rápido. Bom, agora eu acho que um ano é uma eternidade, meu Deus só se passaram 3 meses??? Nãããããão!

É muito engraçado, antes quando eu via mulheres grávidas na rua, eu sempre ficava pensando, ‘Ai que lindo!’, agora ainda acho bonito, mas sempre penso: ‘Oh tadinha!’, dou aquela risadinha mórbida para mim mesma e penso: ‘tá ferrada!’. Quando encontro mulheres com carrinhos de bebês eu já mostro aquele sentimento de solidariedade: ‘Coitada! Olha a cara de sono! Sim, eu entendo!’ É tão estranho, sentir todas essas coisas, passar por todas essas mudanças.

Eu passei muito tempo, esperando a hora perfeita pra escrever esse texto. Eu já tinha decidido que o primeiro texto depois do nascimento, meio que tinha que ser sobre minha filha. Ficava eu me imaginado escrevendo aquele texto clichê de que a maternidade foi a melhor coisa do mundo, o melhor dia da minha vida, minha filha é tudo pra mim bla bla bla. E quando o sentimento não veio assim instantaneamente, eu fiquei esperando. Agora me sinto muito melhor, mas passei por períodos de caos total, ainda ando procurando o meu novo EU, mas tenho certeza que no final tudo vai valer a pena.


Liz tem certeza que ama a sua filhinha linda, mas ainda acha que ser ‘mainha’ é um negócio muito complicado. Anda procurando o seu novo ‘EU’, quem achar por aí favor mandar entregar!

terça-feira, 8 de abril de 2008

Pode melhorar

Convivo com uma pessoa, de quem gosto muito, que é conhecido por uma espécie de bordão. Muitas vezes, quando alguém o cumprimenta e pergunta se está tudo bem, a resposta é “Pode Melhorar”. Sem pensar, quem convive acaba adotando o bordão, e foi assim comigo.

Pensando melhor nessa expressão, na maioria das vezes ela é bem real. As relações, as situações podem melhorar e isso depende muito de nós.

Penso que ela não me ouve quando falo, seja lá qual for o assunto. Se eu perguntar qualquer coisa sobre o que acabei de dizer, ela não me responde. Não ouviu, não estava atenta a mim. Daí falo menos, cada dia menos. E a distância entre nós aumenta. Sei que essa situação pode melhorar, mesmo porque já me flagrei (algumas vezes) sem atenção a um assunto que ela me dizia. Erro também, o mesmo erro.

O que falta em nossa relação? Posso diminuir essa distância, mas como? Ela é resistente e muito diferente de mim. É difícil conviver com o diferente, o muito diferente.

Existe, nessa situação, uma grande vantagem: Amor. É isso que me dá certeza absoluta de que podemos melhorar nossa relação, nossa rotina, e, então, ouvir, realmente.

Farei um exercício. Tentarei vê-la como ela é e não como eu queria que ela fosse. Será que, assim, consigo inspirá-la a fazer o mesmo comigo? Tomara!


Angélica está cansada e com pouco tempo até para dormir... Mas sempre acha tempo para pensar em suas relações. Agora pensa como melhorar a convivência com alguém a quem ama, ama e ama.

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Entrelinhas

Às vezes o caminho que tomamos nos exige que pulemos etapas, que pulemos sonhos, muitas vezes para chegarmos a algo maior. Por vezes nossos maiores sonhos exigem esforços de tamanhos igualmente proporcionais e, talvez, tenhamos que sacrificar algo neste caminho. Mas sinceramente não espere desculpas, nem me peça perdão, pois tudo o que você ou eu dissermos nós já teremos ouvido antes. E, sinceramente já nos conhecemos o suficiente para nos compreendermos sem termos que fazer o uso de palavras. Por vezes achei que não escaparia de meus próprios desejos, apreendi a respeitá-los e, ao mesmo tempo, a desejá-los ainda mais. Percebi também que é muito pior não saber o que se quer do que o temor proveniente da certeza. A dúvida sempre me incomodou, mas, ao mesmo tempo, não consigo imaginar a ausência de dúvidas. É provável que eu tenha sido rude em algumas ocasiões, mas, sinceramente, não foi minha intenção, na verdade, foi a minha tensão. Sabe, tenho me sentido pronta para qualquer coisa, desde que não seja pequeno, desde que faça a máquina continuar a girar. Fale-me da vida, das pessoas, do mundo, menos do cotidiano, da rotina, mais do mundo, das músicas, das novidades, menos dos jornais e noticiários e mais das conquistas. Conte-me suas vontades, mas, por favor, não me diga que não sabe, e, se isso for verdade, só vou lhe dizer para tentar ouvir seu coração, ele, provavelmente esta gritando baixinho. Sei que nem sempre é fácil ouvi-lo, nos desacostumamos, desaprendemos, esquecemos. Já tentei emudecê-lo, mas no final das contas, nada é apagado e, sinceramente, tenho orgulho de saber que hoje, a pessoa que eu sou deve toda sua existência a ele, o primeiro é único motor que nos move. Afinal o mais importante nas quedas são os momentos em que nos levantamos e hoje consigo perceber que toda escuridão possui pontos de luz, precisa-se apenas aprender a vê-los e a distingui-los.


Já vivi bastante, o que não quer dizer que é o suficiente, mas acredito que por mais medo que já tenha tido, tenho prazer em dizer que o mesmo foi enfrentado, com medo, sim, com braveza, muitas vezes nenhuma; alcancei meus objetivos, nem sempre, mas sempre, sempre, sempre, fui real, translúcida e emocionalmente desnuda.

domingo, 6 de abril de 2008

Você tem medo de que?

Ultimamente estou com a mania de planejar, planejar, mudar de idéia, planejar outra coisa, e não fazer coisa nenhuma...

Nunca vi uma pessoa pensar tanto quanto eu antes de tudo.

Não compro nada sem ser à vista porque como sou autônoma, não sei se no mês seguinte vou ter dinheiro para a próxima prestação.

Pensei em viajar pra estudar inglês, conhecer outras culturas, mas apareceu um trabalho irrecusável e como é temporário resolvi adiar meus planos, afinal vai ser melhor ir com mais dinheiro.

Agora comecei a achar que preciso mesmo é de um carro, mas e a viagem? Tudo bem, qualquer coisa vendo o carro e vou... O que eu não agüento é continuar andando de ônibus lotado nesse calor infernal.

Agora pra comprar o tal carro tem sido outro suplício, será que vale a pena? Não entendo nada disso, e se for uma furada? Será que junto mais um pouco pra comprar um carro zero, o que eu faço??? Na dúvida como sempre não faço nada.

Eu tenho completa consciência da minha sonseira, mas é inevitável, sou medrosa de mais pra tudo, chego ao cúmulo de ter tirado carteira e até hoje só ter dirigido o carro da auto-escola, vai que eu bato com o carro dos outros?

Bom, começar a prestar atenção nisso já é uma evolução, vamos ver se consigo agora é me mexer.


Enquanto tem gente por aí movida à coragem, Louise é impedida de se mover pelo medo, mas se Deus quiser, um dia vai conseguir calcular um pouco menos os riscos e fazer algumas coisas por impulso.

A difícil escolha da casa própria

Desde o início do ano passado, eu e meu marido estamos obcecados pela idéia de ter uma casa própria. Eis que se inicia a via sacra...

Sentamos e discutimos, ainda civilizadamente, sobre quais seriam nossas possibilidades de casa, concluímos que poderiam ser: apartamento, casa pronta ou um terreno para construir. Seguimos exatamente esta ordem, começamos vendo ap, começaram as brigas! Eu queria um de 3 quartos, ele de 2, eu queria com lavanderia separada da cozinha, ele não se importava e achava que isso era um mero detalhe e assim foi reinando o desentendimento. Avaliamos o custo benefício e resolvemos partir para uma casa, afinal não teríamos vizinhos sapateando nas nossas cabeças e nem horas infinitas de espera pelo elevador em momentos de puro cansaço, após um dia terrível de trabalho...

Fomos então olhar as casas prontas, eu queria uma bem localizada, num bairro bom que fosse valorizar com o tempo, ele queria uma casa barata, não importava se ela ficasse ao lado do bairro mais perigoso da cidade e que se precisássemos vender, certamente seria por metade do preço que havíamos pago, eu queria uma casa com laje devido à durabilidade, ele queria uma casa barata e bonita, entenda-se com teto de gesso, eu sonhava alto com uma casa grande, ele com uma casa pequena e aconchegante, nem preciso falar qual foi o desfecho né? Após muita briga, cara amarrada e bico montado, decidimos construir uma casa, afinal era a única maneira de ficar com um pouquinho da cara de cada um do casal...

Inicia-se outra via sacra, a escolha do terreno, após 3 meses, encontramos 01 que agradasse aos 02! Após adquirir experiência de como nos relacionamos quando se trata de gostos e opiniões, resolvemos que iríamos decidir como queríamos a casa antes de ir falar com o arquiteto. Após vários desentendimentos, chegamos a um denominador comum.

Fomos ao arquiteto e explicamos o que queríamos, após unas 15 dias voltamos para ver o pré projeto, meu marido ficou maravilhado, eu, horrorizada, achei um monte de defeitos que sinceramente, se fosse ficar daquele jeito eu não seria feliz naquela casa, não teve jeito, rolou uma pequena discussão na frente do arquiteto e contornamos a situação, meu marido abriu mão do que ele havia achado lindo, eu abri mão de alguns outros detalhes para agradá-lo e o arquiteto refez a planta. Agora posso dizer que estou realizada com o projeto, ele também gostou bastante e teve que dar o braço a torcer, dizendo que este projeto ficou bem mais bonito que o anterior. Vamos começar a construir em breve, nem preciso dizer que já estou preparada para os desentendimentos homéricos que irão ocorrer na hora de decidir os acabamentos!! Mas com amor tudo acaba se acertando...


Débora está muito feliz, pois nunca sua tão sonhada casa própria esteve tão próxima de se tornar realidade.
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