segunda-feira, 21 de julho de 2008

O vidro foi quebrado

Anastácia sabia que uma vez iniciado o processo o mesmo não poderia ser parado, não. E ela também tinha conhecimento de que não tinha realmente certeza se queria iniciá-lo ou não, mas começou, na verdade o desencadeou e ele aconteceu por si só. Sim, foi irresistivelmente tentador e Anastácia se sentiu embriagada pois não conseguia mais parar. Se viu sozinha no meio de tantas novidades, de tantos segredos, alguns que talvez ela preferiria não conhecê-los mas era tarde demais. Anastácia abriu as portas, remexeu as gavetas, encontrou e escondeu de novo, tentou fazer como se nunca estivesse estado ali, mas sabia que apagar sua presença totalmente também seria impossível, o vidro havia sido quebrado. Anastácia não era perfeita, era apenas humana, o que também não significava que tinha permissão para investigar a vida das pessoas, mas ela sabia que não era a única, sabia que muitos não resistiriam, mas ela gostaria de ter resistido, sim.

Encontrou fotos, cartões, remédios, roupas, vestígios de uma vida feliz, pedaços do que ela gostaria de ter para si, sim, Anastácia se sentiu infeliz, sem lugar, sem espaço, sem ninguém. Não havia mais retorno, iriam descobrir que esteve ali, pois por mais que tentasse apagar suas impressões, ela não era mais a mesma, e o lugar não era mais imaculado, as amarras haviam sido soltas, o espelho do mistério havia desaparecido e Anastácia havia transposto o vidro que tinha se quebrado. Não existia perfeição, nem desculpas, nem nada, apenas uma fotografia onde Anastácia não se encontrava e que ela não queria ver mais, mas já era muito tarde, tarde demais.


O título foi apenas uma metáfora, apenas uma maneira de dizer que tomamos decisões constantemente, por vezes estas são grandes e por outras pequenas, e nem sempre conseguimos distinguir se estamos a pensar sobre grandes ou pequenas decisões e nos enganamos. Afirmação certa é a que diz que todas as ações desencadeiam reações. Anastácia havia se mostrado ao remexer nos pertences de outrem, Anastácia não estava mais do outro lado do vidro.

Um comentário:

Mariana disse...

puxa! me identifiquei demais com seu texto silvia! belissimo, como sempre! beijo!

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