terça-feira, 30 de junho de 2009

Aconteceu!

Houve um tempo em que perdi a fé nas pessoas, nos atos e sentimentos humanos. Me senti lograda, enganada mesmo. Mas Ele colocou em meu caminho pessoas que foram mudando isso, a começar pela minha filha, um ser humano que vale a pena conhecer e conviver (não por ela ser minha filha, ela é maravilhosa).
Conheci pessoas de vários jeitos, com várias crenças e vários modos de vida. E, aos poucos, fui saindo do meu mundinho e me abri. Deixei que elas vislumbrassem um pouco do meu eu, e dei uma olhadinha no eu delas. E vi que há várias formas de felicidade. E vi que há muita gente boa. E vi que há esperança pras pessoas.
E aí, o inevitável aconteceu: me apaixonei! Sim, teimei, relutei em admitir, mas não adianta. E depois que parei de lutar contra, tudo ficou ainda melhor!
E tenho tido experiências incríveis, descobrindo-o, me descobrindo e me deixando descobrir! E sou uma pessoa muito mais completa e muito feliz!

Renata está simplesmente apaixonada!

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Dias em resumo


Na quinta esperei te ver, e você veio. Saímos, conversamos.
Na sexta, trabalhei, dormi, acordei, conversamos, saímos, aniversário, falei mais do que devia, mais do que pensava e mesmo assim você gosta de mim. Voltamos pra casa, dormi.
No sábado, te esperei. Você estudou, trabalhou, chegou tarde e me ligou. Estava pronta, lendo um livro pra ver se o tempo passava, e passou sem te dar um beijo de boa noite.
Domingo, acordei, choveu, lavei roupa, almoçei, cansei de esperar e saí. Você trabalhou de novo, demorou e me ligou, mas eu não vi. Ligou de novo e não vi tambem. Na casa de amigos estava e só mais tarde percebi que havia me ligado, fui pra casa e depois pra sua, já era tarde e nem sei se te vi direito.
Hoje tenho saudade.

Tenho sentido os dias passando cada vez mais rápido, o fim de semana mal começou e já terminou. Aguardo ansiosamente minhas férias, mais duas semanas e espero que aí os dias passem bem devagar.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Música

Eu amo música.

Não me lembro de ter passado um dia sequer da minha vida sem ouvir música.

Tenho vários gadgets cheios dela para me acompanharem em qualquer momento da minha vida.

Se na minha velhice eu conseguir escrever um livro das minhas memórias, a trilha sonora para o filme que se seguirá já está pronta.

Mas o grande lance de gostar muito de música é que toda semana eu descubro a minha música preferida. Tipo, a música mais legal de todos os tempos. A melhor música que se melhor reproduz o que se passa na minha cabeça. Ou não.

REM, Chico, Bach, Cake, Ana Carolina, O Teatro Mágico, Zeca Baleiro, Alanis, Marisa, Evanescence, Roberta Sá, A Pequena Sereia (rs) – só pra citar alguns – figuram pelas minhas preferências ultimamente.

A música dessa semana não reproduz exatamente nenhum momento recente, mas eu não consigo parar de ouvir. É uma versão de You Belong To Me cantada por Vonda Shepard, do seriado Ally McBeall, e segue abaixo, para vocês.

Jason Wade - You Belong to Me

See the pyramids around the Nile

Watch the sun rise

From the tropic isle

Just remember darling

All the while

You belong to me

See the market place

In old Algiers

Send me photographs and souvenirs

Just remember

When a dream appears

You belong to me

And I'll be so alone without you

Maybe you'll be lonesome too

Fly the ocean

In a silver plane

See the jungle

When it's wet with rain

Just remember till

You're home again

You belong to me

Milena escreve aqui às quintas com muita música em sua vida.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Quer mesmo?

Longe, em tempo e não distância, ela lembrava do quanto o querer trouxera-lhe coisas.

Há décadas, quando o amor fora seu principal passatempo, de fato teve tudo o que quis, menos aprender a amar, que era o que mais lhe faria bem no futuro. Aprender a amar só chegou em um longo e despercebido, disfarçado, intervalo de querer.

Depois, em paz com o amor, o trabalho passou a estar no holofote em sua vida. E o querer voltou a andar a seu lado, como o irmão mal do gênio da lâmpada a realizar seus desejos. Aprendeu o que quis, trabalhou onde e como quis, mas nem sempre quando quis, pois o irmão mal do gênio era meio preguiçoso.

Tarde demais e duramente, sob o escárnio do querer, descobriu que ter o que se quer não é garantia de viver em paz. Isso porque o homem é incapaz de querer algo por completo.

Quer alguém legal e inteligente para amar e encontra, mas não lembra de querer também que este alguém tenha os mesmos objetivos de vida. Daí se ferra.

Quer trabalhar com algo envolvente, estimulante, desafiador e recompensador. Consegue, mas não lembra de querer também que o trabalho seja num lugar legal, com gente legal, em uma empresa preocupada com sua qualidade de vida pois quanto melhor ela for mais a empresa vai render. Não lembra de querer poder escolher a hora que vai trabalhar e ter um pouco de liberdade sem ter que implorar ou ofender ninguém. Não lembra de querer estar satisfeita com o trabalho e ainda ter vida além dele. Daí se ferra.

Quer um emprego mais legal e consegue. Mas esquece de querer algo que ainda não sabe o que é, mas que logo, logo vai se arrepender amargamente de ter esquecido. Daí se ferra. E ainda por cima, descobre que, pelo jeito, querer atrasado não conta.

Não quis um amor concreto, não quis filhos leves e lindos, não quis andar descalça pelo dia, não quis dar-se o tempo de viver, não quis a paz. E foi só assim que tudo isso teve, por completo, sem a falta dos detalhes de quem esqueceu de querer.

Hoje, longe de salas fechadas, ares gelados, cartões de ponto e gravatas, ela observa o manjericão da janela, prestes a florescer de novo. Trocou a nuvem de interesses por uma nuvem de aromas, o cinza do concreto pelo colorido dos temperos, o som de fábricas e máquinas e caminhões pela conversa leve sobre a vida com a irmã, sua sócia, alternada com o silêncio confortável de quem tem intimidade e com as horas de conversa consigo mesma, no caderno de papel reciclado colorido, à mão livre, longe de teclados e do branco de monitores, escrevendo receitas de bolos ou de sonhos.

Hoje, vestida de avental e mais bela do que antes, quando vestida de guerra, com uma colher de pau numa mão e um livro na outra, sorri ao ver o tanto do querer da filha, mas cala, pois sabe que é ela própria que terá que abandoná-lo, como já conseguiu antes fazer com o Ico, o bico, com o tata, o cobertor e com o péssimo hábito de roer as unhas, quando ficou mocinha. Ela sabe que a filha vai chegar lá, talvez ainda mais cedo que ela.

Hoje, prefere ter o querer como um amigo não muito próximo, em intensidade e não distância, que aparece em casa sem avisar e a faz sorrir mas vai logo embora, deixando-a em paz.

Gisele Lins escreve aqui às quartas-feiras.

terça-feira, 23 de junho de 2009

Espiadinha


Prazos, provas, pedidos.
Telefonemas, tarefas, temas.
Registros, rotina, rapidez.
Decisões, desafios, desaforos.
Obrigações, objetivos, objeções.
Medo, mudo, mais.
Ansiedade, anseios, ações.

Meio sufocada, às vezes, dou uma espiadinha para fora da caverna e me deparo com boas surpresas!
Uma noite com cheiro bom! Pão quente! Cobertor de orelha! Uma boa piada! Um colo, um carinho... Uma rosa! Um bom texto.
Cochicho. Cochilo.


Renata espia sempre que pode, e sempre que se lembra de que pode ESCOLHER espiar.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Noite de Inverno


Finalmente o Inverno, ontem.
Não senti realmente frio,
ainda assim coloquei um casaco bem quentinho,
imaginei que fosse você,
que ele me daria boa noite,
boas vindas, e quem sabe,
notícias.

Mas não, junto com o frio,veio a noite,
o silêncio, e a ausência de palavras.
Fazendo me sentir novamente em segundo,
segundo lugar, segundo plano, a segunda a saber,
a ver seu trabalho.
Sem estória pra compatilhar, ou dividir,
sem risada pra dar,
olhar pra trocar.
Me fazendo sentir realmente no primeiro dia de inverno, 
seco e frio.

Silvia escreve às segundas, por vezes feliz, noutras triste. Mas hoje, ainda com seu casaco, que te dá comforto pro corpo, mas não pra alma, mas já é um começo.

sábado, 20 de junho de 2009

Vida na Bolha Infantil


Os pais entram em uma zona própria pelos primeiros meses de vida dos seus recém-nascidos. 

Recentemente várias das minhas amigas tornaram-se mamães, assim como eu, e tenho observado com fascinação e interesse essa nova fase. Inicia-se no hospital logo após o parto e dura pelo menos 4 meses. Assim que a bolha explode, a vida nunca mais é a mesma.

Acho que tenho refletido mais sobre isso com a iminência da chegada da minha primeira sobrinha, em setembro deste ano. 

Nossa bolha, minha e do Sr. Fritz, já explodiu há um tempo. O que ainda me intriga é o mistério de tomarmos consciência da existência dela quando já não mais existe. Todos os conselhos do mundo não nos prepara para a vida na bolha. É uma série de momentos inesquecíveis que deixarão marcas para todo o sempre.

Tudo começou quando eles retiraram aquela pequena pessoa de dentro de mim e disseram: “aí vem ela”. O meu parto foi normal e bem alerta pude curtir aqueles primeiros momentos. Instantaneamente ela foi colocada sobre o meu peito com aquele rosto roseado, inchado, olhos bem abertos a me encarar e então o elo estava feito, instantâneo e intenso. Senti um amor que nunca senti antes e nem sabia que existia. Explodindo de orgulho, lá estava o Sr. Fritz nos assistindo silenciosamente para não interromper aquele momento sagrado. Eu acho que foi naquele instante que nós 3 entramos na bolha, de cabeça.

Meus pais estavam em Nova Iorque e estranhamente só pensei nisso e em ligar pra eles no dia seguinte. 

Bem, todos sabem que enquanto vivemos nessa fase, estamos sem dormir nem a metade das horas que dormíamos antes, e a cabeça não funciona propriamente. O sorriso no meu rosto era constante, mesmo que eu não tivesse dormido ao menos uma hora cheia nos 3 primeiros dias, tal era a minha felicidade. Eu era incapaz de manter uma conversação com qualquer um que superasse os 2 minutos e sempre me esforçava muito para me concentrar. Tinha que evitar o distanciamento da mente e a constante concordância da cabeça ao fingir que estava escutando o que estava sendo dito. Durante o período hospitalar as enfermeiras me davam instruções e nada daquilo fazia o menor sentido. Na maioria do tempo eu me perguntava: “Eles (os bebês) vêm com instruções de uso?”.

O momento que eu soube que a minha vida tinha mudado para sempre foi quando fomos liberados do hospital. Enquanto o Sr. Fritz buscava o carro e organizava a cápsula (ou assento) onde nosso bebê seria transportado pela primeira vez até sua primeira casa, me senti uma pessoa diferente. Olhei para o hospital por um longo período e mal conseguia acreditar que tudo aquilo (parto, primeiro banho, primeira troca de fraldas, amamentação no peito e a explosão do amor) aconteceu em apenas 3 dias e que agora eu estava solta na vida, “a minha própria sorte”, responsável por um ser humano. Pela primeira vez na vida. 

É um misto de pavor e desafio. Dá uma vontade de gritar: “chama minha mãe!” ou então de me culpar por vir parar em um país economicamente desenvolvido onde é impossível pagar por uma babá com muita experiencia que more na minha casa por muitos e muitos anos (minha mãe fez isso, esperta ela!).

Já havia escutado que algumas mulheres tornam-se um pouco relapsas com a própria imagem assim que se tornam mães por colocar as necessidades do bebê em primeiro lugar e portanto, temporariamente abolir o uso de maquiagem, fazer uso constante do cabelo em um rabo-de-cavalo, vestindo conjuntos de moletom e eu, secretamente, me dizia: “Não, eu nunca farei isso”. Haha... Eu estava errada. 

Entretanto, agora compreendo que não é o ser relapsa que está em questão. É o caso de absoluta falta de tempo e energia para fazer o esforço. De fato recordo que nos dias de bolha frequentemente eu andava pela casa de camisa aberta pois quando eu menos esperasse eu teria que abrí-la de novo. Então, por que se importar em fechar? A vaidade sentou-se no banco de trás temporariamente porque naquele período os interesses do nosso bebê eram minha prioridade número 1!

Sem dúvida quando nossa bolha explode nos tornamos mais tolerantes e pacientes. Nosso recém-nascido foi agitado, chorava muito, acordava várias vezes durante a noite até os 10 meses de vida (agora quer dormir 14hs por noite hahahaha, como muda). Eu desenvolvi um novo nível de paciência que honestamente não sabia que tinha. Sobretudo eu e meu marido agora temos um nível bem mais profundo de compaixão pelas pessoas, principalmente crianças.

Aquelas amigas, as quais assisti entrarem nas próprias bolhas infantis já estão fora dela agora (e eu também, entretanto provavelmente mais tarde que a maioria das pessoas) e espero todas estarmos preparadas para a próxima fase, pois como já ouvi alguém dizer: “a próxima sempre é um desafio maior que a anterior”. Graças a Deus. Mágica da vida, cada dia um aprendizado. 


“Lil escreve aqui aos sábados. Ama a filha e a maternidade. Acredita ser esse o papel que execute com mais eficácia e prazer, e quer gritar para o mundo ouvir que as renúncias existem mas que nada na vida se torna mais importante do que ouvir de um filho como eu ouvi essa semana : “Mummy, I love you!”.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Garota em Ipanema (faz favor de cantar igual Garota DE Ipanema)


Olha que coisa mais linda a vista da praia
Tá frio lá em baixo na areia dourada
Mas mesmo assim dá vontade de ir pro maaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaar

O Rio no outono tem vento
Mas é este vento que faz o cabelo da gente na praia
Voar e a aura da diva brilhaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaar

Ah eu me sinto tão viiiiiiiiivaaaaaaaaaaaa
Ah eu me sinto tão liiiiiiiiindaaaaaaaaaaa
Ah eu me sinto tão triiiiiintaaaaaaaaaaaa

A alegria de curtir a vidaaaaaaaaaaa, que
Anda sempre corriiidaaaaaaaaaaaa!

Ah, mas a vida é da gente e é a gente quem manda
Devia parar de correr um pouquinho
E guardar todo dia um tempo pra sonhaaaar

Um tempo pra sonhar
Mais tempo pra sonhar
Muito tempo pra sonhar

Laeticia nunca gostou de paródias, mas desta vez, da janela do hotel no Rio, não resistiu. Pede perdão de joelhos ao maestro Tom Jobim e ao poetinha Vinícius de Moraes.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Freaky Dreams

Tem gente que nem lembra de seus sonhos. Eu, literalmente, não consigo viver sem os meus, mesmo quando não quero saber deles.

Desde pequena comigo é assim: não tem noite que eu não sonhe. Mas não é sonhar com alguma coisa difusa, alguma coisa que eu quero ou com algo relacionado ao meu momento de vida. Não. Eu sonho complexo. Meus sonhos têm enredo, início, meio e fim, e se eu acordo antes disso, consigo voltar a dormir (se naquele dia for possível, é claro) e continuar sonhando apenas para saber como termina. São imagens cheias de detalhes, cores, sons, cheiros e personagens com características psicológicas complexas que inspiram muito das minhas doideiras diurnas. Conforme a época da vida eles ainda têm um certo padrão, uma linha de fundo que se repete. É claro que nem sempre me lembro de tudo, mas geralmente o que lembro é suficiente para me abismar e seguir perguntando: “mas de onde é que isso sai?”.

O sonho mais antigo que eu me lembro foi de quando eu ainda não era nascida. Era de um berço com um vaso pequeno que tinha uma rosa, perto de uma janela iluminada. Minha mãe disse se lembrar desta cena, e garante que ainda estava grávida de mim.

Depois eu lembro de sonhos aos dois anos. Nesta época meus pais estavam a caminho da separação. Sonhei que nossa casa era um navio que tinha sido atacado por piratas, que amarraram meu pai, colocaram-no na prancha (que era o escorregador do quintal), fizeram picadinho dele e depois jogaram-no aos tubarões (?). Em seguida sonhei que ele me convidava para andar de pedalinho em um laguinho de um parque. Eu não quis ir pois preferi ficar comendo Jamelão numa árvore da margem. Meu pai foi sozinho e no meio do lago os tubarões viraram o barco e comeram-no. Eu devia mesmo morrer de medo de tubarões.

Então vieram os sonhos com o lugar com o céu lilás, onde uma moça de cabelos longos, crespos e escuros, conversava comigo em uma casinha todas as noites, contando coisas sobre as constelações e me ensinando a fazer contas com frutas. Sinto saudades deste lugar de céu lilás e desta moça.

Logo depois vieram os sonhos de perseguição, que aconteceram durante anos e me faziam acordar toda noite gritando. Neles eu sempre fazia parte de algum grupo, ou facção que estava sendo perseguido (terráqueos por extraterrestres, índios por soldados, um time de futebol por outro, e por aí vai...). Nestes sonhos, que eram muito vívidos, eu via meus comparsas correndo, ficando para trás e sendo aniquilados nas mãos do inimigo. Quando eu estava preste a ser pega, de alguma forma, eu acordava gritando desesperadamente. Até o dia em que sonhei que lagartixas saltitantes atacavam os humanos. Se elas saltassem e encostassem a pele de alguém, imediatamente a pessoa se pulverizava no ar e acabava-se. Eu corria, e corria, e corria do raio das lagartixas, até que cheguei em um campo de trigo com um casebre de madeira no meio. Corri para lá e tranquei portas e janelas. As danadas passaram pelas frestas e quando uma delas pulou e ia me alcançar, ela virou uma bolacha Maria que eu comi, e a partir daí fiquei anos sem ter estes sonhos de perseguição.

O legal foi que, apesar de mudar os personagens, estes sonhos sempre aconteciam em um mesmo lugar, no qual cada noite eu ia conhecendo um novo cantinho, uma clareira, uma estrada, uma construção. Pasmei quando há uns dez anos estive na Irlanda, fazendo uma viagem que eu queria muito sem um motivo concreto, até que comecei a ter a sensação de que já tinha estado neste ou naquele lugar por onde passávamos. Então que comecei a “prever” o que vinha no caminho, o castelo, a falácia, depois da curva, e acertava! Freaky, hã? Mas foi uma das coisas mas emocionantes da minha vida, graças às lagartixas saltitantes.

Por agora voltei a ter pesadelos, mas não tenho lembrado muito bem do contexto deles. Apenas acordo gritando quase toda noite. Eu não, o Sr Puko, pois é ele quem acorda com meus gritos e depois me acorda delicadamente (pois se ele me acorda gritando, quando eu recupero a consciência aí é que eu grito mais ainda). Duro mesmo é ver a cara dos vizinhos para o coitado do Sr Puko quando saímos de manhã cedo, achando que ele me espanca toda noite.

Por estas e outras, sigo curtindo minha “vida dupla”, mesmo em meio a pesadelos (daqui a pouco alguma coisa vira uma barra de chocolate meio amargo 70% que eu vou comer e vai ficar tudo bem – pois afinal, tudo e todos evoluem, não?).

Gisele Lins escreve aqui às quartas-feiras. Hoje sonhou nitidamente com sua irmã, que ia com ela na loja experimentar o vestido de noiva e que ela aprovava ( Ôba!). Saudades baixinha...

terça-feira, 16 de junho de 2009

As novelas da Manchete


Saudosismo não faz muito bem, mas vale a pena rever as novelas da extinta Rede Manchete, exibidas pelo SBT nos últimos anos. Começou com Xica da Silva, depois Pantanal, e atualmente, Dona Beija. Como a época das novelas era outra, o tempo delas também é diferente, e foi preciso adaptá-las ao correr do século XXI. Todas foram muito editadas, e, algumas vezes, perderam o charme do tempo lento, com paisagens, pequenos diálogos, mas que engrandeciam as novelas. De toda forma, a decisão do SBT de comprar e exibir as novelas foi muito acertada.
 
Embora sempre fizesse parte da indústria cultural, pois é televisão, as novelas já foram melhores, inclusive da Rede Globo, que ainda é líder de audiência na teledramaturgia, mas perdeu o glamour. A Rede Manchete, até seu fim, em meados da década de 1990, manteve a qualidade em suas novelas, com uma produção muito superior à concorrência, mesmo que o orçamento de suas produções não pudesse ser tão alto. 

Dona Beija, atualmente em exibição, foi um marco nas telenovelas, e chegava a ameaçar a audiência da Rede Globo, que passava Roque Santeiro, também de excelente qualidade, no ano de 1986. As novelas não eram no mesmo horário, mas a parte final de uma coincidia com o início da outra. Mas o mais interessante não foi concorrer com a Rede Globo. O impressionante da produção foi colocar em uma novela de época, temas que permanecem atuais, e até polêmicos. Em plena década de 1980, com a redemocratização do país, e uma novela com movimentos republicanos, de libertação do Brasil, ambientada no século XIX.
 
Também o tema da beleza, o principal tratado em Dona Beija, tem um requinte cinematográfico. Basta observar a quantidade de espelhos em cada residência, especialmente nas da protagonista. O jogo de espelhos é especial, principalmente para o período em que a novela foi produzida. Também os cenários, são muito bem ambientados, sem exageros, sem excesso de claridade. Aliás, ambientes externos, internos, manhãs, tardes e noites eram muito bem reproduzidos nas novelas da Manchete; o que não se pode dizer da Rede Globo. Em Xica da Silva, a fuligem dos candieiros aparece das paredes externas das casas. Também era possível observar quando era noite, mesmo em ambiente interno, pois havia pouca iluminação, como deveria ser no século XVIII, época de Xica da Silva.
 
As histórias eram espetaculares, sempre com muita ação, mesmo sendo novelas de época, como no caso de Dona Beija e Xica da Silva, ambas baseadas em livros de Agripa Vasconcelos. No caso de Pantanal, não é preciso falar muito, pois é até hoje um marco na teledramaturgia brasileira, pois mudou o estilo de fazer novela, com paisagens naturais, do centro do Brasil, com animais, verde e água, fugindo do asfalto e praia, e do eixo Rio-São Paulo.
 
Sem dúvida, a Rede Manchete faz falta, pois mantinha um padrão de qualidade muito difícil de ter num mundo globalizado, que infelizmente vulgariza a beleza, estereotipa as pessoas, banaliza a violência. 

Tânia não costuma ser saudosista, mas acredita que meios de comunicação de massa podem voltar a ter um padrão de qualidade. 

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Quando mudam os planos.


Talvez seja chatiçe da minha parte, talvez não, mas como tenho tendências a me auto-criticar vorazmente, por inúmeros motivos, e um deles que vale a pena ser ressaltado aqui é o de que sempre me incomodei com gente que põe a culpa pelos seus erros, sofrimentos, dores e outras coisas nos outros; talvez - para não dizer - bem provavelmente, seja por isso que me critico, ponho a responsabilidade sempre em mim em primeiro lugar, pra depois racionalizar, pensar e repensar e compreender o que aconteceu. Bom, fato é, que já é até ditado popular - segunda é dia. É segunda é dia. Dia que vai dar tudo certo ou tudo errado. Dia que você começa a semana bem ou mal, o que não quer dizer que seja fator determinante de todo o resto da semana, mas apenas do início. Ainda bem né. De qualquer forma, hoje, segunda, já havia me planejado, como sempre. Eu planejo tudo, e gosto que seja assim, e sou feliz assim. Mais feliz ainda, quando o que planejo acontece, funciona e dá certo. Aí fica tudo lindo e sinto que não preciso de mais nada. Meu mês de Agosto já está planejado, começo de semestre, terei mais duas turmas, e, como haveria de ser, já estou a pensar nisso.

No entanto, nem sempre as coisas acontecem assim. Por vezes o que pensei para semana no final de semana, muda completamente no decorrer do tempo, e, posso vir a ficar, completamente sem eixo. O que não me deixa uma pessoa nada agradável de se conviver. Se a mudança for então relacionada a trabalho, só penso nisso e fico incomunicável até que sinta que tenho o controle de tudo novamente. Hoje não haveria de ser diferente. Passei o Sábado fazendo provas, exercícios extras, checando sites para projetos, em fim, tarefas do cotidiano de um professor, que só os professores conhecem. E fiz, me senti ótima, tudo pronto, aulas planejadas, tudo liindo; pois essa semana farei uma prova para pegar mais um certificado que me certifique de qualquer coisa, então adiantei tudo com o intuito de estudar. E, como era de se esperar, tudo estava bom demais... o telefone tocou, gostariam que fosse para o trabalho mais cedo, bem mais cedo, ou seja, perderia minha tarde inteira e sei que só poderia estudar então na quarta à tarde, um dia antes do exame. Falei - não posso, minha prova é na quinta, tenho um grupo de estudo hoje e na quarta.

Apesar de realmente não poder, fico sempre com pesar quando não posso atender as demandas do meu trabalho. Tenho um horário a cumprir, e o cumpro. Quando posso ajudo, e já o fiz várias vezes. Mas segundas por vezes me dão arrepios, pois é sempre nesses dias que tentam mudar os meu planos.

domingo, 14 de junho de 2009

Insubordinação Masculina


Como é difícil gerenciar os homens, se mais velhos então ufa é quase um teste de tolerância súbita. Quem disse que “experiência” é sinônimo de “competência”. E melhor ainda se somos o sexo frágil há algo de errado em sermos profissionais de “punhos fortes”?! Tudo tem que ser em dobro se for feito por uma mulher, as regras tem que ser duplamente fiscalizadas, as ordens triplamente pensadas e os erros?! Nossa... esses então não podem sequer existir. O dia de hoje foi marcado por uma insubordinação que faz refletir o porquê de atitudes assim, o porquê das perseguições... e de algumas pessoas terem que questionar sempre na tentativa de atingir as outras. Não, não é fácil ser mulher, a real verdade é que somos muito mais fortes, talvez nem sempre sejamos tão racionais mas isso nada tem a ver com a nossa fortaleza. Para ser emocional é necessário sermos mais corajosas, mais fortes do que qualquer homem que nos espreite por aí. O recado é: “que não nos abatemos pela rigidez masculina” às vezes; ela é prova suma da auto-afirmação e nós mulheres temos muito menos necessidade disto. As aparências enganam ... e como enganam! Há muitas dúvidas, inseguranças e ansiedades por trás daqueles ternos impecáveis e “nós” de gravatas perfeitos. As chefias femininas estão cada vez mais firmes e surpreendentes e isso ás vezes incomoda.


Thacia se sente em um momento de testes, de provas e expiações mas ainda vibra, ás vezes se cansa dos testes e das pessoas maldosas... mas com um simples sorvete de amora ou mesmo uma caminhada ao vento, recupera todas as forças.

sábado, 13 de junho de 2009

O Jeitinho Brasileiro

Dizem que o brasileiro tem um jeitinho especial para encontrar soluções para tudo. Um atalho, na maioria das vezes.

Particularmente acredito que o tal jeitinho brasileiro é um tanto complicado.

Uma expressão na verdade significa uma intenção completamente diferente daquela que se quer comunicar.



“Passa uma hora lá em casa pra tomarmos um café e colocarmos o papo em dia”.

Hahahahaha, está de sarro com a minha cara?

Um estrangeiro entenderia esse convite como algo real e provavelmente ligaria dali uns dias para saber se aquele dia era apropriado para o tal café mais conversa.

Se liga gringo. Na língua da tribo tupiniquim, uma hora é nunca, sacou?

O cidadão que disse isso só o fez porque quis ser gentil e em momento algum gostaria de recebê-lo na sua morada em um futuro próximo. Se assim o quisesse já teria marcado dia e hora, caso contrário, historinha para boi dormir.

Delicadeza? Eu certamente não definiria assim pois todos envolvidos (se brasileiros), teoricamente, estariam a par sobre a verdadeira intenção do interlocutor .

O mesmo serve para as mais variadas situações, assim como aquela famosa entre os casais:

- “O que houve amor, está tudo bem”?

A namorada responde com a maior cara de bunda: “NÃO FOI NADA!”

Nada uma pinóia, ela está muito p da vida com alguma coisa que o cara fez ou disse mas mas prefere “se fazer de morta” para saber qual é a reação dele e se ele vai começar a tentar se explicar.

Dá para complicar menos por favor?

Tente fazer perguntas quando quiser saber algo ao invés de tirar suas próprias conclusões.

Se coloque no lugar do outro.

Compreenda mais, cobre menos.

Tão mais simples seria se fôssemos honestos o suficiente para comunicar de maneira adequada nossa real vontade.

Não é necessário ser rude. É possível sim ser direto de uma maneira gentil.

Sim, é possível... Impressionante, não é?

Os alemães são pródigos nisso e eu tenho um diplomata em casa que só diz o que pensa. Simples, bem simples.

Dizem que em uma comunicação entre duas pessoas somente 60% do que é dito é apreendido. Acho que o cálculo se baseia na comunicação simples e direta. Qual então seria a percentagem em um diálogo em que a mensagem tem que ser entendida através do que não é dito? 20?

5 anos se passaram desde que deixei Porto Alegre.

Muitas saudades ficaram, mas certamente uma delas não é a maneira complicada que o brasileiro escolheu de se comunicar com os seus.

E a por falar nisso, desde quando jantar marcado as 20hs passou a ser as 21:30hs?

“Lil escreve aqui aos sábados e hoje particularmente irritada com a falta de objetividade e pontualidade brasileira. E considera esses um dos motivos pelo qual há muito desperdício de tempo e porque as coisas se arrastam no país que apesar de tudo, ama.”

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Minha Alma

A Alma Imoral

Conheci a Clarice Niskier no mesmo dia em que conheci o Domingos de Oliveira. Então, pra mim eles são quase uma coisa só. Mulheres de 40, Amores, Separações, apesar de provocarem reflexão, são filmes leves, também provocam risadas. Não conseguia imaginar a Clarice Niskier em uma peça que não fosse do Domingos de Oliveira e, principalmente, numa peça densa. Tive que pagar pra ver. Meninas, babei. A peça é simplesmente fenomenal. Aquele Prêmio Shell não foi de graça. A palavra é brainstorm. Vou precisar de meses pra tirar algumas conclusões. Rabino Nilton Bonder, vou ter que ler seu livro umas quinze vezes. E tenho certeza de que não vou me arrepender.

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A Alma Egoísta

Minha avó sempre foi uma espécie de segunda mãe. Quando minha mãe queria me dar uns tapas, era pro lado da minha avó que eu corria. Aí ela me segurava pra minha mãe me dar os tais tapas! Certamente eu merecia! Ela só aconselhava minha mãe a não me dar tapas, mas sim chineladas porque senão ela apanhava também. Instintivamente vovó conhecia a 3ª Lei de Newton. Mas agora minha avó está com oitenta e sete anos, doente, há quinze dias no CTI. A gente tava quase saindo no tapa pra poder visitá-la. Ontem à noite eu fui lá. A infecção não cede nem a pau, mas ela está mais consciente. Tanto que tentou arrancar a mangueira do oxigênio duas vezes. Não deu pra segurar. Abri o berreiro quando vi aquilo. Mas acabei ficando feliz de ver que ela estava, em termos, melhorando. Mesmo eu sabendo que se minha avó voltar pra casa, ela vai voltar pior do que quando saiu, eu quero que ela saia. Definitivamente, o ser humano é muito egoísta.

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A Alma Sonhadora

Há doze anos eu voltei da Tailândia. Há doze anos eu sonho em voltar, em rever minha família. Há doze anos eu sonho em ter certeza de que aquele ano não foi um sonho, que foi real. Esta semana, mesmo não tendo voltado à Tailândia, eu realizei parte do meu sonho. Minha prima tailandesa está lá em casa com o marido. Pudemos conversar um monte, lembrar de muitas coisas, muitos momentos, muitas pessoas. Pude ver que ainda consigo falar tailandês! Melhor, consigo entender, o que é mais difícil. Sábado iremos à Ouro Preto e domingo iremos ao Rio de Janeiro. Ela e o marido querem conhecer o Patrimônio da Humanidade e a Cidade Maravilhosa. Ambos sonhavam em conhecer o Brasil. Eu sonho em voltar à Tailândia. Agora eu tenho certeza de que aquele ano foi real.

Laeticia acha que esta semana foi muito cheia de emoções.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Partes de mim

Ontem ouvindo Lavoura – cantada pelo Ney Matogrosso e pela Roberta Sá – me peguei pensando na passagem: “sei que o destino do amor é sempre a despedida”.

Confesso que em primeira instância minha experiência pessoal encontra conforto nessa afirmação. Me faz sentir menos só.

Afinal, eu também já compartilhei da obsessão do Renato Russo e me apaixonei todo dia. A questão é que nenhuma dessas paixões acabou em algo diferente de uma despedida.

Considerando – de forma muito, muito simplista, eu admito - que todo grande amor tem sua origem em uma paixão, despedi-me de muitos grandes amores.

Alguns se foram de mansinho. Daqueles que um dia a gente acorda e ele não está mais lá.

Outros se foram querendo ficar, e deixaram atrás de si o rastro amargo da ausência e da impressão do que poderia ter sido e não foi.

Mas sem sombra de dúvida, todos se foram.

Refletindo sobre a efemeridade e a temporariedade do amor na minha vida, sempre me parto em duas.

Parte de mim é feliz porque já conheceu um grande amor. Alguns, na verdade. Daqueles de perder o juízo. Daqueles que a gente chega a sentir dor física quando da ausência do ser amado. Daqueles que nos fazem ter certeza de que nada está no lugar certo a não ser que estejamos juntos. Essa parte de mim guarda essas memórias como um tesouro. Doam onde doerem.

Por outro lado, a outra parte ainda espera um amor maior do que os que passaram. Um amor que me faça acordar no meio da noite simplesmente porque invadiu os meus pensamentos. Um amor que me encha os pulmões e a alma. Um amor que dure mais de um dia, um ano, uma vida.

Claro que nenhuma dessas partes admite ceder espaço para a outra, e a angústia de uma mente dividida constantemente só é suportável quando considero verdade a velha analogia:

“O bem e o mal existem dentro de você em partes iguais. Qual crescerá? Aquele que você alimentar”.

Milena escreve aqui às quintas. Não sabe se deve alimentar o contentamento ou o anseio.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Escolhas de gente grande

Sempre achei que quando crescesse as coisas seriam preto-ou-branco, quero-não-quero, gosto-não-gosto, vou-não-vou. Mas não, cá estão meus primeiros cabelos brancos e fazer escolhas ainda é um tormento dos mais angustiantes.

Adoro ganhar bijuterias, blusas, bolsas, só pelo fato de que quando eu gostei do presente, além do mimo, não tive que ficar eu mesma um tempão para escolhê-lo na loja. Será que é hora de casar, mudar de casa, ter um filho? E de mudar de emprego?

Sempre achei que seria muito fácil largar um emprego que fosse um horror e partir para outro. Mas na vida real empregos simplesmente não são horrorosos. Mas também nem sempre são lá aquilo que esperávamos, ou nossa satisfação é que não é tão grande, mesmo fazendo o que escolhemos e gostamos. Não é insuportável acordar todo o dia e ir trabalhar, mas voltar pra casa todo dia P da vida com muitas picuinhas do trabalho é frustrante. É frustrante perceber que nosso antigo conceito de realização profissional, da época da faculdade, é ingênuo e tolo. Considerávamos apenas a atividade per se: pensávamos que se estivéssemos exercendo de alguma forma digna a profissão que escolhemos, seria suficiente para enchermos a boca e dizermos o quanto nos sentimos realizados e privilegiados, frente a tantos que trabalham para viver.

Quem disse que tínhamos condições de prever que ter um trabalho legal seria quase tão importante quanto a qualidade de vida que conseguimos nos proporcionar com ele? É claro que a grana conta: não resolve, mas facilita. Mas ainda não é tudo. De que adianta viver para trabalhar? De que adianta um emprego razoável, mas que nos toma as horas que sobram do dia com transporte, congestionamento e estresse? Ou um lugar onde você é obrigado a comer bandejão, sendo o tempero num dia larva, e no outro, pedra, quando você achava que já havia chegado a hora de poder escolher o que comer? Ou então, onde você é explicitamente explorado, sendo o resultado do seu trabalho claramente apropriado por outrem? Ou quando você não é compreendido, e seu esforço em fazer o melhor possível é interpretado como dificuldade, e sua independência como arrogância? E quando você, que sempre acreditou que se cada um faz a sua parte as coisas andam, os projetos florescem e até o mundo melhora, percebe que a cultura generalizada não é essa, mas sim a do “se dar bem”, seja às custas do que, ou de quem for? E se você percebe que o trampo é show, mas também consegue ver o potencial que teria de ser muito, muito melhor, e sabe que ele não vai mudar, e que isso independe de você? E se você tem que trabalhar com pessoas sem escrúpulos, sem educação, sem tato, ou que não tomam banho? E se você faz o que gosta, mas não ganha o que sabe que merece? E se você tem que bater cartão todo dia, todo dia, e mora em algum lugar onde tudo fecha na mesma hora que seu trabalho termina? E se você, quando olha em volta, não enxerga as muitas outras oportunidades que sempre teve certeza que estariam lá esperando por você? E quando você percebe que seus conceitos de ética estão mudando mesmo se você não tem certeza de que os novos são corretos? E se você desaprende a desligar a cabeça, por ter tanto dentro dela, e acaba ficando meio lelé? E se você fica doente de desgosto?

É lógico que nenhum trabalho é tão ruim, mas é certo que todos possuem muitos destes elementos desconhecidos para nós, pobres sonhadoras mais ou menos iniciando suas vidas profissionais. É lógico que em qualquer lugar teremos dias ótimos, conheceremos pessoas que valem a pena, nos sentiremos recompensadas, valorizadas e realizadas eventualmente, seja fazendo faxina, pilotando um avião, ou sentada em uma mesa de reunião. É lógico que é justamente tudo isso o principal cenário que nos faz pipocar no óleo fervendo do panelão que é a nossa vida e ter a oportunidade de tentar exercer aquilo que acreditamos que somos, como pessoas, e não como profissionais.

Mas qual é o nosso limite de aceitação? Quando é hora de dizer chega e se mexer de verdade para mudar? E se eu tiver desperdiçando o meu talento, achando que tenho que exercer a todo o custo a profissão que um dia escolhi porque era uma pessoa muito criativa, mas deixando de ser feliz de verdade, trabalhando apenas com arte em sapatos? E se na outra empresa a comida é boa, mas o chefe é um horror? O salário é bom, mas terei que morar num lugar pior? E se eu falir no primeiro ano ao abrir uma empresa para tentar ser mais independente? E se em outro país os direitos do trabalhador forem muito melhores mas eu não agüentar o fato de ser eternamente um estrangeiro? E se eu mudar tudo, virar meu mundo de pernas para o ar, e no fundo, continuar tudo a mesma coisa?

E aí, o que fazer? Não dá para voltar a ser gente pequena e sonhar de novo em ser astronauta?

Gisele Lins escreve aqui às quartas-feiras. Acha que escolher é tão difícil que, inclusive, andou percebendo que perde um tempão tentando fazer escolhas de problemas que ainda nem existem, e que muitas vezes simplesmente nunca virão a existir.

terça-feira, 9 de junho de 2009

Eu quero um clone

Eu quero um clone pra trabalhar enquanto eu faço as unhas!

Pra atender cada um dos meus 37 alunos (daí seriam 37 clones e eu pra coordenar)!

Pra ficar ir trabalhar enquanto eu fico quentinha embaixo das cobertas.

Pra fazer os pareceres enquanto eu converso com minha filha e ouço com calma as coisas dela.

Pra fazer ligações importantes enquanto eu separo briga de aluno.

Pra fazer meu trabalho enquanto eu volto pra academia, como direito, me curo da anemia...

Pra tomar banho no inverno enquanto eu fico mais 10 minutinho na cama!

Pra sentir meu cansaço enquanto eu tenho pique pra mais um, dois, três turnos!

Pra me substituir e eu poder dar atenção à quem precisa de mim!

Pra cuidar dos meus alunos enquanto ajudo na secretaria.

Pra cuidar dos meus alunos enquanto eu cuido dos meus alunos! Hehehe!

Eu quero um cloneeee!

 

E fica instaurado agora o MSC (Movimento dos Sem Clone)! Quando tivermos mais que 5 membros, já podemos pensar no estatuto e na organização e na demanda...

Bom, deixa isso pra quando eu tiver um clone, ok?

Renata está cansada. E pequena. E sozinha. Não triste, cansada.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Falar é sempre mais fácil

E disseram a ela, mais uma vez, você tem que estudar mais,
que trabalhar mais, ganhar mais, e, principalmente, gastar menos.

Outros ainda se aventuraram,
não esquenta a cabeça, vai dar tudo certo, isso é paranóia sua.

E por fim, mas não finalmente,
você deve ir mais a ginástica, beber menos, comer menos, sair menos.

Ficou pensando por que não disseram logo,
viver menos?

Pois já sabia de tudo, não estavam nem certos e nem errados,
nem mínimos ou máximos, apenas sabia desde sempre,
assim como se sabe o que é certo ou errado.
Mas sabia também que falar é sempre muito mais fácil.


Há muito tempo abandonei os discurssos, ou faço ou não faço. E se não dou conta não reclamo, mas tento de novo, pois usualmente quem fala demais, faz de menos e passa a vida dando conselhos que não segue. Como aquele velho ditado "cão que late não morde", pois o que morde não avisa, chega no silêncio e faz.

domingo, 7 de junho de 2009

Sonhos de um fim-de-semana de inverno

Naquela manhã acordei de conchinha, não sabia ao certo onde estava. Antes de abrir os olhos, pelo cheiro sabia que não estava entre estranhos. Mas pelo barulho do vento lá fora parecia que fazia frio através dos cobertores. Não queria me mover temendo o frio. Descobri a cabeça e vi belas paredes de adobe, janelas grandes, baixas, daquelas que foram feitas pra sentar muita gente. Havia pouca luz, mas certamente já era dia lá fora.

De pé, na sala da linda casa de paredes de adobe me deparei um uma imensa janela de vidro que dava vista pra um paredão de pedra de beleza indescritível! Ainda meio sonolenta, abismada com tanta beleza, não sabia se tudo aquilo era real. Minhas costas se aqueciam com o calor que vinha do fogão de lenha aceso no centro da sala-cozinha. Nele sempre tinha um bule com água quente pro chimarrão (sim, alguns mineiros gostam de chimarrão!). Rodeada de poucos novos e velhos amigos saboreava o chimarrão contemplando o mar de montanhas a perder de vista. Enquanto isso o café era coado em coador de pano, o pão-de-queijo feito por uma legítima mineira (euzinha) começava a cheirar no forno e laranjas frescas colhidas a pouco do pé perfumavam a linda casa de paredes de abobe. Parecia o cheiro do paraíso (embora nunca tenha estado lá). Na mesa queijo branco bem mole, morangos e bolo. Ao fundo, sempre musica de bom gosto, faziam a trilha sonora perfeita para cada momento.

Não dava pra contemplar aquela beleza só de longe. Era preciso sentir a energia que vinha daquele chão. Depois de algum tempo caminhando pelo mar de montanhas, enfim as cachoeiras. Muitas, para todos os gostos. Mas só os corajosos e as piscianas teriam coragem de entrar naquelas águas geladas, como um banho de descarrego, revigorante! O sol dessa época do ano não queima, abraça.

De volta à bela casa de paredes de adobe, banho quente e todos a postos para ver o espetáculo do sol se pôr e o nascer das estrelas. A noite não tinha lua, mas pra compensar as estrelas eram muitas, milhares! Não imaginava que existiam tantas! Parecia que estava mais perto do céu do que de costume. Cinco estrelas cadentes, duas garrafas de vinho, alguns chocolates e muitas gargalhadas pra celebrar aquele momento tão especial! No dia seguinte, pé na estrada e de volta a vida real.

A tudo isso retribui com uma muda de jequitibá.

Mariana escreve aqui às vezes e tem achado a vida chata ultimamente. Mas é surpreendida com momentos de perfeição, que faz ela ter certeza que a vida vale a pena.

sábado, 6 de junho de 2009

As mulheres de 30 - Por Mário Prata



O que mais as espanta é que, de repente, elas percebem que já são balzaquianas. Mas poucas balzacas leram A Mulher de Trinta, de Honoré de Balzac, escrito há mais de 150 anos.

Olhe o que ele diz: 'Uma mulher de trinta anos tem atrativos irresistíveis. A mulher jovem tem muitas ilusões, muita inexperiência. Uma nos instrui, a outra quer tudo aprender e acredita ter dito tudo despindo o vestido. (...) Entre elas duas há a distância incomensurável que vai do previsto ao imprevisto, da força à fraqueza. A mulher de trinta anos satisfaz tudo, e a jovem, sob pena de não sê-lo, nada pode satisfazer'.

Madame Bovary, outra francesa trintona, era tão maravilhosa que seu criador chegou a dizer diante dos tribunais: 'Madame Bovary c'est moi'. E a Marilyn Monroe, que fez tudo aquilo entre 30 e 40?

Mas voltemos a nossa mulher de 30, a brasileira-tropicana, aquela que podemos encontrar na frente das escolas pegando os filhos ou num balcão de bar bebendo um chope sozinha. Sim, a mulher de 30 bebe. A mulher de 30 é morena. Quando resolve fazer a besteira de tingir os cabelos de amarelo-hebe passa, automaticamente, a ter 40. E o que mais encanta nas de 30 é que parece que nunca vão perder aquele jeitinho que trouxeram dos 20. Mas, para isso, como elas se preocupam com a barriguinha!

A mulher de 30 está para se separar. Ou já se separou. São raras as mulheres que passam por esta faixa sem terminar um casamento. Em compensação, ainda antes dos 40 elas arrumam o segundo e definitivo. A grande maioria tem dois filhos. Geralmente um casal. As que ainda não tiveram filhos se tornam um perigo, quando estão ali pelos 35. Periga pegarem o primeiro quarentão que encontrarem pela frente. Elas querem casar.

Elas talvez não saibam, mas são as mais bonitas das mulheres. Acho até que a idade mínima para concurso de miss deveria ser 30 anos. Desfilam como gazelas, embora eu nunca tenha visto uma (gazela). Sorriem e nos olham com uns olhos claros. Já notou que elas têm olhos claros? E as que usam uns cabelos longos e ondulados e ficam a todo momento jogando as melenas para trás? É de matar.

O problema com esta faixa de idade é achar uma que não esteja terminando alguma tese ou TCC. E eu pergunto: existe algo mais excitante do que uma médica de 32 anos, toda de branco, com o estetoscópio balançando no decote de seu jaleco diante daqueles hirtos seios? E mulher de 30 guiando jipe? Covardia. A mulher de 30 ainda não fez plástica. Não precisa. Está com tudo em cima. Ela, ao contrário das de 20, nunca ficou. Quando resolve, vai pra valer. Faz sexo como se fosse a última vez. A mulher de 30 morde, grita, sua como ninguém. Não finge. Mata o homem, tenha ele 20 ou 50. E o hálito, então? É fresco. E os pelinhos nas costas, lá pra baixo, que mais parecem pele de pêssego, como diria o Machado se referindo a Helena, que, infelizmente, nunca chegou aos 30?

Mas o que mais me encanta nas mulheres de 30 é a independência. Moram sozinhas e suas casas têm ainda um frescor das de 20 e a maturidade das de 40. Adoram flores e um cachorrinho pequeno. Curtem janelas abertas. Elas sabem escolher um travesseiro. E amam quem querem, à hora que querem e onde querem. E o mais importante: do jeito que desejam.

São fortes as mulheres de 30. E não têm pressa pra nada. Sabem aonde vão chegar. E sempre chegam. Chegam lá atrás, no Balzac: 'A mulher de 30 anos satisfaz tudo'. Ponto. Pra elas.

“Lil escreve aqui aos sábados e amou o texto do Mário Prata. Infelizmente assume aqui que ainda não leu o referido livro de Balzac mas que esta é sua resolução do mês de Junho. Me cobrem!!!!”

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Sonhava

Provavelmente ela era só uma menina quando descobriu que podia sonhar acordada. Não que ela se lembre de algum dia ter sido diferente. É como se esse “dom” fosse parte dela desde sempre. 

Fantasiava histórias que poderiam ser verdade, histórias que podiam acontecer com qualquer pessoa normal. 

Mas também fantasiava sonhos impossíveis. Contos de fadas. Histórias de terror. Histórias de amor. 

Em momentos muito difíceis, fantasiava. E sentia como se pudesse fugir. Refugiava-se no aconchego de seus próprios sonhos, e sentia-se confortável, aquecida e segura. 

Sonhava. 

Construía personagens, imaginando sua aparência e personalidade, seus gostos e desgostos, suas alegrias e decepções. 

Imaginava cenários, lugares fantásticos com beleza e mistério, onde as histórias aconteciam. 

Histórias sem fim, obviamente, porque geralmente sua imaginação ficava fora de controle antes de chegar a qualquer lugar coisa meramente parecida com uma conclusão. 

E entre um mundo e outro a vida passava. 

E a menininha cresceu. Um triste dia esqueceu-se que podia sonhar. Esqueceu-se que tinha o poder de criar um outro mundo, com tantas cores, cheiros e gostos, ali na sua imaginação. 

E virou uma adulta. Com os dois pés no chão e a cabeça “no lugar”. 

Milena escreve aqui as quintas. Esse texto não é autobiográfico, já que ela não tem nem um dos pés no chão, quem dirá a cabeça no lugar =)

terça-feira, 2 de junho de 2009

Meu tempo é meu!

Sorte de hoje: Envelhecer não é tão ruim quando se pensa nas alternativas.

Acreditam??? Ninguém merece essa sorte do dia! E ainda li no jornal de hoje que o envelhecimento começa aos 27 anos! Sério?!

Tudo bem, eu sempre achei que a gente começa a envelhecer ao nascer, mas essa era uma visão meio romantizada, misturada com crescimento.

Mas parece que hoje o universo tirou pra me lembrar de que o tempo passa, que não para nunca...

E parece que cada vez passa mais rápido, mais rápido, mais rápido... o tempo é um tema recorrente neste blog, mas que não se esgota jamais.

Todo mundo me fala que eu não tenho mais tempo para nada, nem ligo pra ninguém, nem pra jantar nem nada. E realmente me sinto assim.

Deve ser a TPM aliada a esse inverno congelante que tira meu bom humor e boa vontade, pois ando não dando conta de coisas que sempre fiz. Aliás, já vivi épocas nas quais eu fazia ainda mais coisas do que hoje. E dava conta.

Acho sinceramente acho que tempo é algo misterioso, pra Einstein entender e explicar, mas acho que no NOSSO tempo a gente tem alguma influência, e pode, sim, fazer tudo o que acha realmente importante, desde que com certa organização. Claro, é preciso saber separar o estritamente necessário, o urgente, o indispensável, o desejável, o inadiável...E assim poder administrar melhor o tempo.

Então, ao invés de me entregar aos clichês de que o tempo passa, o tempo voa, o dia é curto, blá, blá, blá, escolhi um novo slogan: Meu tempo é meu!

Renata escreveu um texto curtinho pra poder ir dormir mais cedo, porque ambas atividades são importantes em sua vida!

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Melhores Juntos


A música assim já o dizia,
eram melhores juntos.

Pensou em várias maneiras de escrever uma cartinha,
de amor, de boas-vindas, de carinho.
Mas não conseguiu achar melhores palavras do que aquelas,
repetidas desde o início pela música que ouvia.

Percebeu que tudo era mais bonito,
mais feliz, combinado e coordenado,
quando estavam juntos.

E que nessas horas vemos que palavras nem sempre são suficientes,
se o que dizem é verdade,
que o amor é a resposta,
então ela sabia, não era necessário dizer mais nada.

Novos dias, novas manhãs,
desde que estivessem assim,
sentariam sim, debaixo da goiabeira,
olhando o tempo e as vacas passarem.


A música em questão se chama "Better Together", do Jack Johnson. Ouvi para dar uma aula e gostei, tive vontade de escrever sobre ela ou, melhor seria, inspirada nela.
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