sexta-feira, 27 de novembro de 2009

A Cólera Nunca é Súbita


Há determinadas coisas que as pessoas dizem por aí que não deixam a menor sombra de dúvida de que falaram sem pensar. Aliás, o mais se tem visto e ouvido são pessoas sofrendo verborréias de fazer tremer o mais reles mortal, que dirá os Imortais. Embora muito do meu respeito pela Casa tenha ido por água abaixo depois que aquele senhorzinho maranhense adquiriu sabe-se lá como o seu fardão. Enfim, acabamos nos acostumando tanto a estes despautérios com nossa língua e literatura que nos surpreendemos muito quando algo de bom surge diante de nossos olhos e ecoa em nossos ouvidos. E ficamos dias e dias nos lembrando daquele momento de luz.

A Cólera Nunca É Súbita.

Alguém aí já tinha parado para pensar nisso? Já ouvi várias vezes as pessoas dizendo “fui subitamente tomado pela cólera”, “o ódio tomou conta de mim de repente”, “ quando vi, a raiva tinha me dominado na hora”! Antes que alguém ache que eu acabei de sair de um hospício ou até mesmo da cadeia, pra quem não sabe, advoguei na esfera criminal durante quase sete anos, por isto é que já ouvi muito estas frases.

Mas a realidade é que ninguém é subitamente tomado pela cólera. O ódio não toma conta de ninguém de repente. Nem a raiva nos domina sem que tenha nos dado sinais de sua presença. Aquele momento no qual passamos do limite, quando perdemos o controle de nós mesmos e nos sentimos completamente dominados por um sentimento ele não surge assim, do nada. A palavra, o gesto, o olhar, o riso. Ou justamente o contrário, a ausência da palavra, do toque, do olhar, do sorrido são apenas a gota d’água no copo de cólera.

Quem nunca assistiu ao filme do Raduan Nassar devia. Um Copo de Cólera pra mim era um filme meio incompleto até eu ver a Cólera, do Alexandre Wagner. Acho que agora o filme faz mais sentido pra mim. Era o que faltava pra eu entender aqueles olhos vidrados do personagem que superficialmente apenas declarava guerra às saúvas! Se é que alguém consegue perceber algum tipo de superficialidade num trabalho tão profundo como o do Raduan Nassar.

Você tem razão, Alexandre, a cólera nunca é súbita. Acho que cólera pode ser o somatório de tantos sentimentos e experiências que eu não me atrevo a entendê-la, tampouco a defini-la. Esta é uma tarefa complexa demais. Mas tenho um palpite: talvez a cólera seja apenas a gota d’água.


Laeticia já teve seus dias de fúria. E quem não os teve?



(*) http://www.alexandrewagner.com.br/

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