sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Que Exemplo Infeliz ou Que Preguiça de Gente

Tô indo trabalhar na correria de sempre (não resisto a cinco minutos a mais na cama), zapeando o rádio e acabei deixando acidentalmente na Band News. Normalmente deixo é na Guarani FM mesmo, pra não começar meu dia ouvindo notícia ruim. Peguei o Boechat no meio de um comentário falando que na cédula eleitoral dos Estados Unidos vinham cinco matérias sobre as quais a população poderia (sim, porque lá o voto é facultativo) se manifestar sobre a alteração ou revogação da lei, além de votar e que isto deveria ser implantado no Brasil. Terminou por exemplificar que no mês passado (?) tinha havido votações por lá e que no estado x, por exemplo, não me lembro qual era o estado, a população havia decidido revogar a lei que autorizava o casamento gay.

Meninas, me deu uma dor de estômago tão grande na hora, meu pâncreas se contorceu de horror, fiquei ao mesmo tempo cega e surda, quase provoquei um acidente de trânsito. Como é que uma pessoa que tem o poder de se comunicar com as massas fala uma coisa destas no rádio!!! Me deu um asco deste cara! Olhem o currículo do âncora do Jornal da Band: ganhador de três prêmios Esso, começou a carreira no início da década de 70 e passou por O Globo, Estado de São Paulo e Jornal do Brasil. Que decepção, meu Deus!! Um cara destes me solta que as pessoas devem poder discriminar as outras de forma livre e legítima! Sim! Porque uma coisa é orçamento participativo, outra bem diferente é meter o bedelho nas liberdades individuais!! E uma vez que se fala de liberdade de orientação sexual e regulamentação jurídica da união civil entre pessoas do mesmo sexo você está sim tratando de liberdades individuais, ora bolas!! Vou além, estamos falando de Direitos Humanos!! Estamos falando do Pacto de São José da Costa Rica!! Ou a união entre duas pessoas sem filhos não é constituição de família?! Então eu e meu marido não somos uma família, nem seremos nunca, né, porque a gente não quer ter filhos!! Não estamos sob o amparo do Pacto de São José da Costa Rica!!

Aí, meninas, veio o meu choque maior. Fui conferir o Tratado pra poder vir de sola, né, no exemplo infeliz do Ricardo Boechat. Aí não foi meu pâncreas que se contorceu, nem meu estômago que embrulhou. Tive foi uma vontade súbita de cortar os pulsos!! Mas como isto só me renderia, além de muito deboche pela idiotice do ato, duas cicatrizes horrendas e incapacidade temporária para o trabalho – impensável para um profissional autônomo – restringi minha indignação a uma dose de whiskey. A Convenção Americana de Direitos Humanos é expressa ao dizer que “é reconhecido o direito do homem e da mulher de contraírem casamento e de constituírem uma família”!!

Primeiro: do homem e da mulher!!! Segundo: observaram o verbo que antecede a palavra casamento? CONTRAIR!! Deve ser doença, né? Gente, vá lá, a convenção é de 69, mas não foi 1968 o ano que mudou o mundo?!! E o Boechat? Tava aonde em 1968? Lá no apartamento da Nara Leão participando do movimento da Bossa Nova? Com o Caetano tropicaliando por aí? Ou Bossa Nova e Tropicália eram coisa de vagabundo, maconheiro e gay? Ah, nem, viu? Que preguiça que me deu agora...

Gente culta, instruída, que se comunica com as massas, que forma opinião, falando no rádio que é bacana a população que sequer para pra pensar no que vai comer no dia seguinte poder revogar irrefletidamente uma lei que representa uma evolução da sociedade auto intitulada civilizada!! Onde é que vamos parar, hein? Porque pouquíssima gente tem a capacidade de se colocar no lugar do outro e menos gente ainda tem o hábito de se colocar no lugar do outro. E nem é por mal, não. É porque de uma forma geral, nem sempre somos educados assim. E mesmo quando somos, nem sempre o fazemos. Aceitar o diferente não é um hábito da sociedade. Nem deveria. Deveria ser simplesmente natural. Aí eu não teria passado mal com o exemplo infeliz do Ricardo Boechat e talvez não fosse necessário haver um Pacto de São José da Costa Rica.

Mas isto é utopia do mundo encantado de Laeticia. Eu já me contentaria com uma mudança nestes paradigmas hipócritas desta sociedade pseudo-católica-apostólica-romana que encobre a vida sexual nem sempre hetero de padres teoricamente celibatários. Bem faz a Suíça, lugar civilizado, onde os gays casam-se e descasam-se faz tempo. E onde não deve haver jornalistas de renome prestando este tipo de desserviço à sociedade que deve estar em permanente evolução.

Laeticia vai morrer defendendo o direito das pessoas serem felizes, independentemente de qualquer coisa.

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