quarta-feira, 31 de março de 2010

O pesadelo

Sonhei que acordava numa vida diferente e estava em paz, e radiante.

Cabelos longos, trançados, saia ampla, rasteirinha, cara limpa. Acordava cedo, saía para correr sentindo o pulsar da cidade grande, na volta lia o jornal, tomava o café preparado pela secretária e seguia a pé para a livraria, a minha livraria-café. Escolhia a trilha sonora do dia, fazia uns telefonemas para finalizar a organização do lançamento do livro que eu estava produzindo de uma escritora-mirim. Zapeava os e-mails, atualizava o blog e a agenda do site da livraria, fazia aula de francês on line. Recebia uma querida amiga que viera almoçar comigo no café da livraria (ela morava no mesmo continente, no mesmo país, no mesmo estado, na mesma cidade que eu, é lógico). Recebia alguns fornecedores e fazia algumas encomendas. Então ia para o atelier, continuar a criar e executar as bolsas artesanais que iriam para a exposição da Bélgica. Fazia um draft da bolsa que estava planejando para o presente de aniversário da minha irmã. Ia encontrar com o maridão na quadra de tênis e voltava exausta e faminta, achando ótima a idéia de jantar no tailandês. Curtia a lua abraçadinha no quintal, tomando um vinho. antes de ler um pouco e ir dormir.

No meu sonho eu sonhava que acordava numa vida diferente e estava em paz, e radiante. Era uma executiva que trabalhava com patentes para uma indústria emergente no interior do país.

Nãaaaaaaaaaaaaaaaaaaaoooooooooooooooooo!!!!!

Gisele Lins escreve aqui às quartas-feiras.

terça-feira, 30 de março de 2010

O pior amigo

Não entendo porque buscam em mim a auto afirmação do que quer que sejam. As pessoas me perguntam: estou linda? Estou magra? Fico bem com essa cor? Não posso responder... apenas olho de volta para elas, com olhos que elas julgam serem os delas, e cada um entende a resposta que já tinha antes mesmo de perguntar...

Vejo que o andar apressado dá espaço a uma ajeitada no cabelo e a um andar mais demorado na minha frente. Um sorriso se monta, a barriga encolhe... Tudo isso para enganar a quem?

Eu não passo de um espelho, e o que você vê não passa de um jogo de luzes e reflexos... Sou o pior amigo que alguém poderia ter, pois nunca expresso minha verdadeira opinião, apenas concordo com o que você já sabe.

Não se irrite por eu ter mostrado aquela ruga... ela sempre esteve ali, você que nunca quis vê-la.

Eu sou apenas um espelho, se você quer saber como realmente é, olhe para dentro de você.

Renata escreve às terças, mas hoje estava muito ocupada olhando para dentro de si mesma, por isso pediu ao espelho para escrever.

quinta-feira, 25 de março de 2010

Felicidade dá azar

(Bíbi da Pieve – Publicado na Revista Época, ed. 334 de 2004)

Chego à estapafúrdia conclusão: ser feliz dá azar. Chama. Atrai como mosquito em lâmpada. É uma coisa meio triste de dizer, mas a felicidade dá azar.

Já vinha desconfiando havia muitos anos. Quando adolescente, lembro algumas amigas reunidas numa sorveteria, entreolhando-se ao ver passar uma espécie semelhante, porém linda - pele de pêssego, bunda arrebitada. E magérrima. "Olha ali, que magrela! Desgraçada!" - acusavam-na, sorvete doce adentro, baba amarga afora.

A desgraçada ainda namorava o menino mais popular da escola. E era rica. Não bastasse, o pai era um gato. Não que ela pudesse desfrutar dessa condição dele, mas, a essa altura, soma-se tudo de bom que há na vida da ordinária, engole-se, engasga-se, empurra-se mais um pouco, engole-se de novo. Uma vez digeridas as qualidades da outra, transforma-se aquele bolo alimentar em ódio explícito. Irrevogável.

Parece até que, se a magricela lá engordar de uma hora para outra, a gorda aqui vai emagrecer à mesma proporção. Sem dieta, claro. Simples assim: se você perder algum dinheiro, eu ganho. Se você cair, eu levanto vôo. Se você quebrar uma perna, eu viro atleta. Você menos - eu mais. Automático.

Por isso é que eu me cuido muito. Deus me livre de ser feliz; vão querer o meu fígado.

Aconselho amigos a também não cometerem tal disparate e a fugir da felicidade como diabo da cruz. Caso você não saiba, ter um amigo ou parente feliz também pode ser arriscado. Fica-se contaminado: lá vai aquela filha da mãe que está feliz até as tampas pela felicidade do marido, outro sem-vergonha que subiu na vida.

E não estamos falando só da felicidade completa, que vem com o selo da alta no analista, 100%, gabaritada. Felicidade meia-boca também dá azar. Menos, é claro, mas rende um acidente doméstico aqui, um mal-entendido ali. Sabe quando bate o mindinho do pé na porta da geladeira? Pense em alguma alegria que você, distraído, deve ter cometido por aí. É batata.

Por isso os livros de auto-ajuda vendem tanto. Ninguém é louco de ser feliz. Compra-se o livro, não para deixar de frescura e cair de boca na felicidade, mas para ler no ônibus e provar ao vizinho: tira o olho, que eu sou é triste. Ninguém confessa, mas a verdadeira utilidade de ter um auto-ajuda na cabeceira é dormir em paz. Como um garoto que é abordado pela polícia e vai logo se defendendo: tô limpo! Só que a felicidade é ainda pior que a droga, não se pode portar nem para consumo próprio.

Eu me defendo como posso, e recomendo: tenha sempre uma tragédia de bolso. Pode ser muito útil. Quando menos se espera, dá o azar de você se sair bem em algum concurso, conseguir uma promoção no trabalho, arrumar um maridão nota mil. Deus o livre disso, não estou rogando praga. Mas é coisa que acontece. E aí, se você tiver uma tragédia à mão, vai ser a salvação.

Em meio aos cumprimentos naquela festa-surpresa que você não pôde evitar, é de suma importância sacar a sua desgraça. Mantenha um olhar perdido no horizonte e, quando alguém fizer a pergunta - E aí? Tá feliz? -, você ataca, todo reticente:
- É… mais ou menos… sabe, pensei tanto ontem na minha falecida tia Heleninha, que me criou… como ela estaria feliz de me ver aqui, comemorando este feito…

Isso vai acalmar os ânimos, e você deve conseguir encarar trânsito, sinais e cruzamentos perigosos até chegar a seu prédio, intacto. Ainda assim, se fosse você, eu ia pela escada. Sabe lá, esses elevadores.

Milena "escreve" aqui às quintas.

quarta-feira, 24 de março de 2010

I'm sorry


I'm Sorry but, I love you...

e é por sentir assim, que choro vendo tanto coisa que me divide do que amo tanto

I'm Sorry but I'm chôro...

Choro porque me vejo só e meu filho dorme!

I'm sorry but I love you

e choro...

Porque não posso mais fingir que isso tudo não me abala, não me tira o rumo...

I'm sorry por não sorrir quando vc diz nervoso pelo telefone que meu nervoso e meu choro era tudo que vc menos precisava naquela hora...

I'm sorry

but I love you mesmo assim...

I'm sorry por apenas não agradecer e me alegrar quando em tempos difíceis para mim vc não nos deixou faltar nada...

I'm sorry por não te fazer dormir sorrindo, but... I love you!

Todos agora dormem, But I'm sorry ...não consigo fazer, não assim...

Meu lugar de trabalho é frágil e me desrespeita, não posso deixar de defender o meu, e dizer o que quero, o que penso, me defender e calcular sair fora... I'm sorry nesta frase eu falo é de mim... da casa que já não sei onde está e onde vai ser, do meu trabalho que já nunca foi e ainda é o mesmo...I'm sorry é assim e te amo!

I'm sorry...

I'm sorry...

I'm sorry... te amar não nos protege de tanta coisa que te aflige e também a mim...

I'm sorry hoje tô vendo assim e me vejo um peso

I'm sorry por não retribuir como imagina quando diz que não pode ser pesado... mesmo quando ...é!

I love but I'm sorry!


Juliana escreve esporadicamente, chora esporadicamente, chove em noites quentes de verão...

terça-feira, 23 de março de 2010

TPM

Tensão pré menstrual, para alguns ingênuos, é “uma síndrome que atinge as mulheres e que ocorre, em maior ou menor grau, nos dias que antecedem a menstruação. Ela se caracteriza por uma irritabilidade e ansiedade mais acentuadas, bem como manifestações físicas, como por exemplo dor nas mamas, distensão abdominal e cefaléia. Decorre da retenção de sódio e água” (Wikipedia). Mas, consultando outras fontes e pela minha experiência vasta nesta área, digo o que é TPM:

Tara Por Matar

Tensão Pró Monstrual

Todos Problemas Misturados

Típico Período Mortal

Tendências a Pontapés e Murros
Temporada Proibida para Machos
Tô Puta Mesmo!
Tocou, Perguntou, Morreu
Tire a Porra da Mão!
Tente no Próximo Mês
Tô Pirada, Meu
Tempo Para Meditação
Totalmente Pirada e Maluca
Tendência Para Matar
Tira as Patas, Moleque
Tenha Paciência, Meu
Toda Problemática no Momento.
Total Paranóia Mental

Tudo Por Manha

Levo em tom de brincadeira, mas sei o quanto é desgastante estar na TPM. Acreditem, é pior do que conviver com alguém que está na TPM. Porque você não pode simplesmente ir embora, tem que ficar lá, sentindo ódio à toa, vontade de chorar à toa, desejo doido por chocolate... Sentindo os peitos doerem apenas por existirem... E saber que, no próximo mês, tem mais.


Renata decidiu virar uma mulher sem TPM. Heeeelp!

segunda-feira, 22 de março de 2010

De Noite

Quando menos esperei você me deixou de lado,
e aonde nunca imaginei, vieram ao meu encontro para me socorrer,
tentei te mostrar, mas em sua mente inebriada não havia espaço para a verdade,
talvez por vontade própria, talvez por não saber o que fazer,
você preferiu seguir a boiada e agir como todos ao seu redor,
mesmo que não concordando extamente.
Mais uma vez me vi num lugar estranho,
com vontade de me levantar, dar adeus e sair,
mas de novo, pensei na gente, e não só em mim,
e me deixei ficar, mesmo sem a certeza de que você algum dia enchergaria os dois lados da moeda.

E fui ficando sem saber até quando.
E me fiz acalmar, tentei adormecer e pretendi que não estava ali,
sozinha, calada, sóbria, surda.
E esperando permaneci, ouvindo pequenos sussurros,
que preferia não os ter ouvido,
vendo gestos que gostaria de não compreendê-los,
existindo calmamente, enquanto a fera em mim observava,
como um gato que espera o momento exato, para caçar, correr,
ou simplesmente bater em retirada.
Como se meu nome não fosse ouvido mais, apenas minha vontade.

Silvia escreve às segundas pensamentos calados de uma noite passada.

domingo, 21 de março de 2010

Inversões de valores: Onde está o foda-se quando se precisa utilizá-lo?

Urgente, urgente! Fiz a promessa de ligar o foda-se, e não estou conseguindo! Por favor, se alguém souber técnicas para ligar o foda-se me envie. Aceito apostilas, vídeo-aulas, técnicas básicas em dez lições, elixir, garrafada, qualquer coisa! Estou em situação de desespero porque não agüento mais ver o errado ser considerado o certo. E vejo isso em coisas pequenas, que poderiam ser evitadas, que poderiam ser feitas de outra forma.

Vejo pessoas misturando pessoal com profissional, público com particular, e ninguém abre a boca pra falar que é errado! E, quando eu abro, eu é que estou errada, estressada, nervosa. É óbvio que estou nervosa! Não quero me acostumar com tudo isso. Mas preciso pelo menos me incomodar menos! Alguém me ensine, por favor!?!

Eu vejo pessoas jovens ocupando lugares de idosos nos ônibus, e ninguém fala nada. Vejo pessoas tratando o bem público como se fosse pessoal, e se apropriando dele, e não há uma voz que se eleve diante disso. E, quando chego em casa, e tento me desligar disso, vejo na televisão pessoas contando sua vida pessoal para entrevistadores, somente por uns minutos de fama, e os reality shows, que exploram e vulgarizam pessoas, sexualidade, vidas, relacionamentos, tudo. E o povo aplaude! Eu quero ficção, desenho animado, humorísticos. E realidade justa!

Por isso, repito meu grito: alguém que saiba qualquer dica sobre procedimentos para ligar o foda-se, favor enviar para mim.

Tania precisa muito ligar o foda-se. Vai continuar tentando....

sexta-feira, 19 de março de 2010

Em Cima do Muro

Minha primeira experiência com gente em cima do muro foi ainda na época do colégio. Nem me lembro mais qual era a situação, mas me lembro que uma pessoa que eu considerava amiga não tomou partido, deixou que falassem mal de mim perto dela sem se manifestar. Aos quatorze anos isto faz toda a diferença pra gente.

O tempo foi passando e fui percebendo que o raro são justamente as pessoas que tomam partido, que se posicionam, que guardam coerência entre palavras e atos. Não consigo deixar de achar no mínimo estranho, porque lá em casa me ensinaram a ter opinião, a sustentá-la e a arcar com as conseqüências disto, independentemente de quais fossem.

Daí que às vezes acho que me tornei uma daquelas pessoas “ame ou odeie”. Estou certa de que muitas vezes fui tomada por arrogante, coisa que não sou. Mas formo opiniões sobre os mais diversos assuntos, inclusive aqueles que não são da minha conta porque não são da minha conta – caso em quê guardo minha opinião pra mim até que alguém me pergunte o que penso – e aquelas que não são da minha conta porque dizem respeito a uma estrutura na qual minha existência é simplesmente insignificante, senão desconhecida, e, portanto, sequer vão tomar conhecimento dela – como, por exemplo, a forma como uma empresa é administrada, uma instituição de ensino avalia seus candidatos, se o projeto de lei que prevê gorjeta pros garçons de 20% do valor da conta deve ser aprovado, se a Marina Silva é uma boa candidata à Presidência, etc. Mas eu sou aberta à mudar de opinião. Basta que me dêem argumentos.

Talvez pelo fato de estar sempre expressando minhas opiniões, eu me sinto muitíssimo incomodada com gente que não tem ou não divulga seus próprios pensamentos. No maior estilo de quem acha que vai conseguir agradar a todos o tempo inteiro. Lastimável.

Outro dia me perguntaram o que eu achava de determinada pessoa. Minha resposta foi retórica: é pra ser sincera ou agradável? (Tenho tentado deixar de ser uma pessoa “ame ou odeie”, mas acho que minha pergunta-resposta teve efeito justamente contrário...) Seja sincera, me responderam. E lá fui eu destilar minha ácida opinião a respeito do cidadão: acho que se ele se deparar com um tapete verde é capaz de cair de quatro e começar a pastar achando que é grama!

Olha o veneno escorrendo no canto da boca, Laeticia! Uai, mas não era pra ser sincera? Ah, acho que ele está no caminho certo, tem boa vontade, se esforça e vai acabar aprendendo a ser mais polido com as pessoas. É uma outra resposta, bem mais agradável, mas que tecnicamente tem o mesmo significado da minha resposta sincera: o cara É um cavalo (os cavalos que me perdoem), porém, sem um pinguinho sequer da conhecida elegância eqüina.

Ocorre que muita, mas muita gente mesmo, concorda comigo. Também acham o cara um grosso, mal educado, rude, desagradável, deselegante e, considerando que seu trabalho é justamente lidar com pessoas, incompetente. Na minha frente, dizem que concordam plenamente comigo. Mas quando o eqüino bípede chega, sou obrigada a agradecer aos céus por não ser diabética. Porque aí as pessoas tornam-se subitamente tão doces que seriam capazes de afetar a quantidade de glicose no meu sangue! Ou seja, GENTE QUE NÃO SE POSICIONA! GENTE QUE NÃO TEM OPINIÃO! E pior: GENTE QUE NÃO TEM VERGONHA NA CARA!

Quer coisa pior do que gente assim? Há pessoas que chamam esta característica de diplomacia, outros chamam de falsidade, eu chamo simplesmente de falta de caráter, de dignidade. E eu tenho medo dessa gente. Porque são pessoas com as quais sei que não posso contar. São pessoas que, ainda que concordem comigo, jamais vão se expor, muito menos fazer coro às minhas palavras. São pessoas que sempre dançarão conforme a música, que não tentarão mudar, que nunca farão a diferença. São pessoas que, dependendo dos acontecimentos, vão sempre pular de um lado pro outro do muro e, sendo possível, vão passar a vida inteira se equilibrando em cima dele, mas que nunca farão parte de nada, nem de lugar nenhum.

Laeticia não é radical, mas tem opiniões próprias; fala o que pensa, sabe que isto custa caro e paga este preço por que já escolheu de que lado vai ficar: o lado de gente que tem opinião!

quarta-feira, 17 de março de 2010

A porta que bate

Das duas às cinco: oitenta e oito vezes a porta do escritório bateu.

Antes de chegar a contar tentei música clássica nos fones;

tentei concentrar mais;

tentei lembrar que é só uma porta.

Não deu.

Na primeira contagem lembrei do cartaz

“por favor não bata a porta”.

Eu mesma fiz, não autorizaram.

Não deu.

Na segunda contagem lembrei: foi proibido sentar na grama.

Na terceira que minha unimed é uma droga.

Na quarta que a comida é ruim.

Na quinta que o sindicato é pau mandado do patrão.

Então pensei que revistam os carros;

que revistam as bolsas;

que as britas acabam com meus saltos;

que engordei.

Daí eu lembrei que estou há milhas da civilização;

há muitos meses da pós-graduação.

Não quero saber de prestação.

Nem a pau encaro pedreiro e construção.

Pensei nos amigos ao longe.

No tempo em que tinha sonhos.

No tempo em que tinha tempo.

Na porta que bateu outra vez.

Não deu.

Não dá mais.



Gisele Lins escreve aqui às quartas-feiras. Esteve preste a surtar, mas nada como um bom psiquiatra e uma boa manicure nesta vida. Esta semana ouviu que “não punir os maus ofende os bons” e não pára de pensar em “e quando os bons é que são punidos?”.

terça-feira, 16 de março de 2010

Qual a grande diferença?

Minha filha está fazendo cursinho pré-vestibular (ai, meus pés de galinha!) e sempre conta sobre as aulas e sobre os professores. E não sei se isso é fato no Brasil todo, mas me espantei com a tremenda diferença que há entre professores de ensino regular e de cursinhos!

Estou generalizando, obviamente existem exceções dos dois lados, mas os professores de cursinho ganham bem mais, têm muito mais status e têm uma produção e dedicação maiores que os de ensino regular.

As diferenças são gritantes: enquanto professores de cursinho dão seus e-mails e celulares para os alunos, case estes tenham dúvidas, professores de ensino regular, muitas vezes, se negam a atender alunos fora de seu período de aula, mesmo dentro de horário escolar.

No cursinho, os professores produzem o material didático que usarão baseados na pesquisa do que os alunos devem saber ao sair de lá; a maioria dos professores de ensino regular nem sabe o que os alunos devem saber a cada etapa de ensino e não produzem material didático.

Professores de cursinho têm aulas motivadoras com estratégias que visam à aprendizagem dos alunos, e não vou cair na discussão se isso é aprendizagem ou decoreba, fato é que funciona.

Não acho que uns tenham mais capacidade que os outros, não. Acho que o fato de haver competitividade entre cursinhos, e de o desempenho dos professores ser medido pela aprovação dos alunos, gera um esforço maior. Além, é claro, da compensação financeira.

Fiquei realmente chocada com as diferenças, e acho que muito do sistema educacional, referente ao regime de trabalho e remuneração dos professores deveria ser mudado, para que se tenha professores que realmente exerçam sua função, a de ensinar.

Renata escreve aqui às terças-feiras, às vezes mais indignada, às vezes menos.

sexta-feira, 12 de março de 2010

I. L. O. V. E. Y.O.U.





Tem vida nova no pedaço, uma música tocando nas rádios australianas que está entre as top 10 das últimas semanas.
Pra ser sincera, a princípio ela não me fascinou. Achei estranha, não soava bem nos meus ouvidos.
Após repetidas exposições a obra prima durante meus 1000 Km semanais de percurso casa-trabalho na direção (pois a minha rádio preferida insistiu em me convencer que a música era das boas), começamos a nos aproximar mais e estamos tendo um relacionamento. Não sei ainda ao certo se é dos bons ou dos ruins. Ele está se desenvolvendo ainda, algo bem no início como quando se sabe que está interessado em um certo alguém mas não se tem certeza de onde vai chegar e nem se queremos mesmo ter um compromisso sério. É aquela fase de admiração mas sem perder a razão, sem pensar na mesma coisa 24hs por dia.
O que afinal fazia com que aqueles sons mexessem comigo e me fizessem rejeitar e/ou apreciar “those three words”?
Parece relação de amor e ódio, não é? Isso não te lembra alguma coisa?
Não demorei muito a sacar o motivo.
Quem me conhece tempo suficiente , daquela época que não nos cobrimos com máscaras e expomos nossos sentimentos cruamente na adolescência, sabe que naquele período eu era feita manteiga pura.
Piegas mesmo. A pessoa mais sonhadora que já conheci. Acreditava no amor fundamental, puro e verdadeiro, nos chocolates, foundee, flores, viagens românticas, família feliz, marido atencioso, dedicação semi-integral (porque integral sufoca e sufocar não pooooooooode!). Que o diga meus ex-namorados de então.
Uns 15 anos mais tarde e hoje me encontro em um lugar bem diferente da minha vida, talvez porque o foco tenha saido de mim mesma e se transportado para a pequena pessoa que habita minha casa e enche meu coração.
O amadurecimento muda a gente e em muitas coisas para melhor. Passei a ver a vida de uma maneira mais realista e em consequência achei meu príncipe encantado (isso é contraditório, eu sei, mas era o que eu achava, ao menos quando o conheci – muitos risos!), me permiti ser mais feliz e chorar muuuuuito menos por amor. A criança aqui era a própria Foz do Iguaçu em dia de enchente. Pra chorar não precisava nada (ainda sou mole mas longe do que eu era).
O foco da minha vida era o amor. Não só o amor pelo sexo oposto, mas o amor em seu significado universal e completo … as vezes eu tinha a sensação que ao nascer, minha mãe tinha decidido injetar o poema de Carlos Drummond de Andrade na minha mente e feito esta minha função na Terra: “Que pode uma criatura senão, entre criaturas, amar?”
Me afastei bastante dessa pergunta por muito tempo e agora percebi que foi isso que a música me colocou em contato (por isso a dubia reação a mesma). Foi um canal de comunicação com o que se perdeu na aridez dos tempos e obrigou-se a acomodar as exigências da vida, das responsabilidades e diluindo sua essência em um copo d’agua, que secou com tempo.
Se eu gostava? Acho que não, ninguém gosta de sofrer e se expor de maneira assim tão visceral. Mas sinto saudades de algumas de suas nuances. Sinto falta da intensidade. Da intensidade da entrega, da crença no futuro e dos infindáveis sonhos cor de rosa. Vou tentar coletar o melhor dos dois mundos. Bem, ao menos tentar. Não é que experiência serve mesmo de alguma coisa?
Se por ventura tiveres o interesse em conhecer a causa dessa reação, o clipe está aqui: http://www.youtube.com/watch?v=di0DqJyQutk&feature=channel
Quem sabe não comeces com um tanto de desprezo e, como eu, aprenda a crescer com a relação?

Lil escreve aqui esporadicamente e hoje não tem certeza se é melhor ser uma mulher forte e independente ou uma adolescente amorosa e romântica. Oh dúvida cruel…

quinta-feira, 11 de março de 2010

Minimalismo


E daí que de vez enquando eu paro para pensar naquilo que realmente uma pessoa precisa para viver.
Trabalho - confere.
Comida - confere.
Vestuário - confere.

Agora, precisa trabalhar até a exaustão?
Precisa comer só o que se gosta e gastar os tufos no supermercado?
Precisa um guarda-roupas gigante com roupas saindo pelo ladrão?

Ando ultimamente com uma proposta minimalista para mudar de vida.
Tem um tempo que decidi não trabalhar além das 40 horas semanais para as quais eu fui contratada. O resultado dessa decisão na minha vida trouxe resultados indescritíveis. Tênis, basquete, costura, acupuntura, manicure, séries de TV e livros são alguns deles.

Quanto à comida, alguém pode explicar porque é que temos tanto prazer à mesa? Muita gente ainda morre de fome nesse mundo onde consumimos (e jogamos fora) quilos e mais quilos de alimentos. Refletirei.

E minha próxima meta a curto prazo é promover um bota-fora no meu guarda-roupas. Tenho coisas jamais usadas que com certeza servirão para alguém que delas necessita.

Se funcionar, um dia desses aplicarei o ideal minimalista no resto da minha vida.
Claro que será muito mais difícil dispor da minha coleção de canetas, canetinhas e lápis de cor, mas até lá, viva o desapego.

Milena escreve aqui às quintas. Nessa, um tanto quanto chocada com a quantidade de coisas que acumulamos nessa vida.

quarta-feira, 10 de março de 2010

Da noite para o dia

No jantar: carne embebida em laranja e canela
deixam a casa com um cheiro bom.
Só.
Não me resta se não: escrever, pois começo a saber que nasci assim para viver escrevendo nas noites escuras, escutas silenciosas de saudades...

Um Miguel, um que aparece de lá... Com jeito e cheiro bom,
e me anima a noite mesmo que distante...
Como pode tanta palavra assim para um que não sabe e nem merece?
É a vida. Bebe que passa... Bebe a vida!

Degusta, devora devagar, a carne, a canela... Tudo que já foi bom...
Eu já andei sorrindo moço, e não foi pouco não... Mas um dia passa... Melhor beber a vida...
Como pode?
Tanta palavra surda, muda, faz mudar... Não faz entender quem deveria, derivaria, desviraria, devia... Vai!
Nem sabe que vai e já foi de mim faz tempo!

É sempre assim a minha urgência...
Indulgente, alucinada, anda pela madrugada cheia de aparatos que nem sempre agradam... urgência minha!
Sozinha, com febre, espera àspera espera...

E esta não tem a cara da primeira carta de amor, e ainda é urgente.
Se pudesse um dia sumia, e vou... um dia...
Sei desde de hoje, que a reação dele não será igual a minha quando o vejo sumir...
Sinto falta... muito tempo.

Neste tempo de longe muita coisa aconteceu, umas eu não sei, outras você não sabe...
outras a gente sabe e não diz...
O que não deu para espiar pelo buraco da porta.

Boa noite amor, vou sumir estes dias.
Bom café, bom jantar... diga adeus a quem puder, olá para os que chegarem... não deixem te levar o que você tem de melhor: seu sorriso largo e uma mão grande, que junto veio com este nome seu: mesmo para servir...
Ofereça o que você tem de melhor,
mas não entregue em bandeja de prata minha cabeça...

Farei matinalmente meu exercício de agora que se seguirá até sua volta:
não toco no telefone antes dele tocar...
Se quiser, poderá... se puder queira!

Durmo cedo, já vai clarear... Passa!
Tudo tudo já vai clarear!
Boa Noite...
Bom dia, boa noite,
Bom dia, boa noite,
Dia bom...
Juliana escreve esporadicamente

segunda-feira, 8 de março de 2010

O que você realmente quer?


Até ontem ela sabia exatamente o que queria, mas com o passar dos dias suas idéias que antes eram tão claras, se tornaram, de uma só vez, manchas. Sombras de algo nítido que um dia foram. E Anastácia percebeu que assim como seus desejos e certezas, ela também havia se modificado, mas ainda estava vivendo em meio a incertezas e isso a deixava atônita.

Anastácia nunca gostou muito de dúvidas, de não saber o que se quer, de não ter respostas, mesmo que negativas, sempre preferiu o NÃO ao TALVEZ, ou ainda, ao NÃO SEI. E como as pessoas usam o tal do não sei, o dizem pra tudo, mesmo quando sabem, talvez seja por que parece a resposta mais fácil, e pensa-se que está livre das possíveis perguntas e questionamentos dizendo simplesmente - não sei. Ledo engano.

Essa pequena combinação de duas palavrinhas deixa seus usuários à mercê de decisões alheias, já que não se sabe, alguém o saberá, e, assim sendo, reclamar depois não vale, pois se vale, significa que sabia-se previamente o que dizer, e por que dizer não sei?! Taí combinação explosiva que Anastácia nunca gostou de fazer muito uso, mas de uns tempos pra cá sentia que dizia não sei com mais frequência do que gostaria, será que não sabia mesmo ou não queria dizer o que sabia. Fato é, que nessa dúvidas e noutras ela sabia exatamente o que não queria mas não o que queria.

Silvia escreve às segundas. Complicado né!?

quarta-feira, 3 de março de 2010

Querer pela metade

“Não há coisa pior do que querer pela metade”.

Tem coisas que deveriam ser obrigatoriamente impossíveis se não por inteiro, como meio querer, meio amar, meio viver. Mas um belo dia você descobre que elas existem e, com elas, ainda consegue explicar o porquê vivemos com uma sensação perene de que falta alguma coisa. É lógico que falta! A outra metade!

Não é que eu seja insegura, ou demore demais pra decidir as coisas. É que me falta a outra metade do querer. Nesse mundão onde se pode tudo, se quer tudo. Como não há espaço (nem tempo) para ter tudo, começamos a querer pela metade, para poder querer mais coisas ao mesmo tempo.

Considere ainda que é possível querer muito algo pela metade, e será o caos. Eu quero MUITO trabalhar em um lugar com melhores condições humanas, mas eu gosto das atividades que eu faço hoje, então, também quero ficar. Eu quero MUITO morar mais uma vez fora do país, conhecer outra cultura, experimentar ser um profissional em outro lugar, aprender outra língua, mas justo agora o Brasil parece que vai bombar no meu ramo, será que não vou perder o bonde? Eu quero MUITO organizar mais a vida, fazer exercícios com regularidade, cuidar da alimentação, mas é tão bom chegar em casa cansada e fazer uma pestaninha, ler um pouquinho, ficar abraçadinha no sofá vendo besteira na tevê, sentar no quintal e tomar um vinho. Eu quero MUITO ir embora deste fim de mundo onde tem tantas limitações, mas aqui eu tenho uma casa legal, acordo com passarinhos cantando, durmo no silêncio absoluto, faço coisas triviais por um preço absurdamente barato, levo 12 minutos para estar no trabalho, não tenho trânsito (tirando o dia em que o trator vai na padaria na mesma hora que eu)...

E assim, vou permanecendo onde estou... Alguém sabe onde encontrar as outras metades de querer, que podem nos levar pra frente (ou para trás, mas ao menos para algum lugar) mais rápido?

Gisele Lins escreve aqui às quartas-feiras.

Um pouco chocada com a constatação de verdade tão simples e cruel, mas feliz por ser esta a primeira frase a incluir no Cérebro, seu novo caderno de vida, que mora na Mafalda, sua nova capa de patchwork para caderno-livro onde mora a vaquinha mais linda do mundo. Presentes de Milena.

terça-feira, 2 de março de 2010

Conselhos...

Há várias evidências de que tenho cara de ser extremamente confiável. Velhinhos pedindo ajuda para sacar dinheiro, pessoas praticamente estranhas pedindo informações ou oferecendo favores. Não sei se é o meu tom de voz, sempre aparentamente calmo, ou meu rosto mesmo, mas já me deparei com muitas situações em que percebo como pareço confiável. Antes que surjam dúvidas, adianto: sou realmente uma pessoa confiável! Mas em geral leva um tempo para se fazer esse julgamento.

Além disso, as amigas pedindo conselhos, desde sempre, mostra como pareço confiável. E o pior é que eu sempre aviso: olha, sou péssima para dar conselhos, não consigo aconselhar nem a mim mesma! Mas devo dizer que muitas vezes dou conselhos muito bons! Inclusive alguns eu deveria seguir!

O momento em que se pede conselho é o momento da indecisão, da dúvida. Normalmente, é o momento em que se sabe exatamente o que se deve fazer, mas a coisa certa não é a mesma opção que a coisa desejada. Daí surge a dúvida...

O conselho que acho mais útil é: o que você diria se essa situação não fosse com você, mas com sua melhor amiga? A gente sempre tem conselho para as amigas, afinal. E quem melhor para ser nossa melhor amiga do que nós mesmas?

Como eu falei, a gente sabe o certo a fazer, apenas não quer. Tirando-se do foco um pouquinho, se colocando como “melhor amiga”, fica muito mais fácil saber. Só resta fazer.

Renata sabe exatamente o que fazer. Só resta ter força para fazer...

segunda-feira, 1 de março de 2010

Já é fim de ano?!

E chegou em casa sem saber de onde,
olhou pros lados e cumprimentou as pessoas,
de sua família, de seus pensamentos,
sentiu um cheiro conhecido no ar,
do Rio, da casa de sua avô e da sua bisavô também,
e se sentiu mais em casa.

Foi até o seu quarto e teve a ótima notícia,
uma encomenda havia chegado,
caixinhas que o correio,
de quando em quando entregam,
e fica-se com a sensação que alguém desconhecido te enviou um presente,
sem quê nem por quê.

Esqueceu por um tempo suas preocupações,
ligou pro namorado só pra dizer "olá", "boa noite",
pra logo depois voltar à rotina da semana,
agenda, caderno, livros, aulas e o caderno de novo,
e se lembrou novamente que havia trocado de academia e,
amanhã era o novo primeiro dia.

E ficou com a sensação de que havia feito tanto num só dia,
tudo de uma só vez desde o Domingo de manhã,
que sentiu com se houvesse passado semanas ou quem sabe meses.

Mas não, tinha sido apenas um dia,
mas bem que poderia ter sido todo um ano, pois logos ela se lembrou;
ainda tinha mais uma etapa pela frente,
sua chefe quer assistir a uma aula sua e isso, com certeza,
a deixa muito ansiosa e com mais vontade que seja fim de ano.

Silvia anda muito ansiosa, fazendo tudo de uma só vez, talvez por ser assim mesmo, talvez por estar pensando demais na tal aula que irá apresentar.
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