domingo, 5 de dezembro de 2010

Sinceridade nua e crua

Por um certo período de tempo, lecionei para o ensino fundamental.
Eu adoro crianças, mas... uma, duas de cada vez...
Uma sala de aula cheia delas, para mim, é demais!

Prefiro mil vezes as inconstâncias adolescentes...
Adolescentes não se importam em fingir sentimentos.
Se gostam de você, lhe oferecem o mundo.
Se não gostam...bem...azar o seu! Eles não estão mesmo interessados em lhe agradar...

E isso eu aprendi no meu primeiro ano como professora.
Certa vez um desses adolescentes que, obviamente, "não ia com a minha cara" estava tentando, a todo custo, impedir que eu desse minha aula: ria altíssimo, fazia piada de tudo e, o que é pior, incomodava os demais.

Lembram do Taz, aquele personagem mal-humorado do desenho animado, que vinha rodopiando como um tornado, destruindo tudo o que via pela frente? Pois é. Esse menino, por vezes, era assim!
É claro que eu jamais vou querer ter em sala de aula um aluno-estátua, que fica apenas olhando fixamente para mim, fingindo que presta atenção... Mas também não quero um aluno que aja como o Taz dos Looney Tunes...

Pois bem, na primeira oportunidade eu chamei o garoto para conversar e pedir sua colaboração e eis o que o danado me responde:

"Professora, o negócio é o seguinte: Eu não vou com a tua cara, tá sabendo? Não acredito em professor que é simpático demais, querido demais... Mas eu te respeito, porque tu sempre me respeitou...Então até vou tentar colaborar um pouquinho."

Obviamente que eu, no auge da minha inexperiência, não esperava uma resposta dessas.
Fiquei meio que sem ação por alguns momentos...não sabia se ria da situação ou se deveria dar-lhe alguma resposta específica.

Por fim, optei pela sinceridade absoluta:
"Olha 'fulano', é uma pena que tu não gostes de mim, porque eu gosto muito de ti. E, além de te respeitar, passei agora a também a te admirar!" e dispensei o menino.

Dia desses, malhando na academia, reencontrei esse menino, agora homem feito.
Sorrindo, ele veio falar comigo.
Relembramos esse episódio e demos boas risadas disso.

E ele disse que, no fundo, "até" gostava de mim, mas não podia admitir isso assim tão fácil.
Primeiro eu tinha que conquistá-lo.... ;-)

Definitivamente, o universo adolescente é de uma riqueza ímpar!

Déia escreve aos domingos e se sente absolutamente realizada em uma sala de aula cheia de adolescentes...

3 comentários:

Anônimo disse...

Ai que legal seu relato Déia !
Também sou professora de língua portuguesa e literatura e os adolescentes são os que mais me atraem, estou sempre aprendendo com eles. Passada essa fase eles podem se tornar amigos.

Beijos

Anônimo disse...

Déia, me identifico muito com os seus textos, acho q talvez pq goste de filosofia. Sou formada em história e tenho verdadeira paixão por essa area do conhecimento e das ciências humanas de uma forma geral...parabéns pelos textos!

Andréia B. Borba disse...

Olá meninas tudo bem?
Agradeço a visita e os comentários de vocês. É muito saber que meus relatos, de certa maneira, se parecem com o de tantas outras mulheres!
Agradeço, também, pelo carinho de vocês!
Abraços, Déia

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