terça-feira, 26 de junho de 2012

Balanço parcial

Estamos na metade do ano! E são vários os possíveis comentários: como passou rápido! Passou voando! Eu nem vi passar! Não vejo a hora que acabe! Tudo depende de como você vê a vida, e de como sua vida é/está.
No meu caso, pensei que era hora de checar minha lista de metas para 2012 e fazer um balanço parcial. Fazer alguns ajustes. Colocar um "vezinho" (vulgo ticar) em alguns itens.


Resultado: algumas metas importantes já atingi, e algumas estou no caminho certo para tal. Outras...bom, outras têm cada vez menos chance de serem cumpridas. E o pior é que justamente essas já foram reaproveitas da lista de 2011, por não terem sido atigidas.
Será que tem algo errado com elas? São irreais? Seá que eu deveria partir elas em etapas, e ir realizando uma por vez? Será que me falta vontade efetiva de fazer?
Ainda não sei a resposta, mas a pergunta me intriga deveras...
Fiquei curiosa: vocês fazem essas listas? Costumam olhar pra elas de vez em quando? O que vocês fazem quando nunca riscam um item?

Renata está em fase de balanço e aceita sugestões.

terça-feira, 19 de junho de 2012

Amor

Há duas semanas estou embolando esse texto, mais ou menos como bolacha Maria em boca de velha.
Pois o teor é muito importante, e merece ser escrito com todo o tempo e cuidado. Mas quando na vida a gente tem oportunidade de parar todo o tempo necessário e fazer as coisas do jeito que merecem? Optei por escrever de forma simples, que até combina com meu jeito de viver! Lá vai:
Minha filha e eu nunca estivemos separadas por muito tempo; houve duas ocasiões em que passamos um mês distantes, com data certa para o reencontro, e foi sofrido mesmo assim. Mas isso mudou no ano passado, quando recebi uma proposta de emprego e mudei de Estado. Por várias razões, ela ficou com meus pais.
O trabalho é ótimo, o lugar é legal, as pessoas são ótimas. Mas ela não está aqui pra compartilhar nada disso.
Nos falamos todos os dias, e sempre há o que dizer. Tentamos muito continuar uma na vida da outra. E tive medo que perdêssemos um pouco da sintonia. Quatro longos meses depois, ela veio me visitar; e de novo após 4 meses. E não mudou nada! O amor é algo assim. Não é volúvel. Não é dependente das coisas externas. Não sofre com o tempo e distância. Não enfraquece.  Não precisa de explicação. É amor.


Agora ela também vai se mudar, vai morar em Florianópolis, estudar na federal. Eu não pdoeria estar mais orgulhosa! Se bem que me orgulho dela sempre. Tenho orgulho do ser humano que ela é, e agradeço todos os dias por poder fazer parte da vida dela.
E se isso não é amor, eu não sei o que é.
Saudades? Sinto saudades o tempo todo, mas aprendi com uma amiga (amada!) que sentir saudades é uma oportunidade de lembrar como amamos e como somos amadas. Lindo! Sentir saudades é bom!
Eu sei que sempre vou sentir saudades dela quando estivermos distantes; e sei que nossa sintonia nunca mudará. E sei que ela me ensinou o que é amor!

De forma simples, Renata tenta explicar o que é amor! E espera que todos vocês tenham a oportunidade de sentir isso nas suas vidas!

domingo, 10 de junho de 2012

Quem é vivo sempre aparece

Não, não morri.
Tampouco abandonei o blog.
Ocorre que, nos últimos tempos, minha vida anda simplesmente uma LOUCURA TOTAL!
Só para vocês terem uma ideia, passei os meses de dezembro, janeiro e fevereiro enlouquecida terminando minha dissertação de mestrado para defendê-la em março. 
Em abril descobri que minha mãezinha está com câncer no cérebro (e ela já havia tido câncer no útero e recém havia curado um câncer no pulmão).   ):
Em maio casei, após 7 anos e 8 meses junto com meu amor.
E agora, em junho, quando eu recém havia voltado de Lua de Mel recebi a notícia de que minha mãe estava hospitalizada com infecção generalizada.

Pois bem, pessoas queridas, eis minha justificativa para o sumiço.

Mas aos pouquinhos estou voltando. ;)

Déia escreve aos domingos e, enquanto não volta à ativa, deixa uma fotinho do casório p/ que vocês possam dar uma espiadinha...




domingo, 3 de junho de 2012

A Irritante Arte de Bisbilhotar

Se há uma coisa que me irrita é gente intrometida. Sei que há aquelas pessoas que perguntam como estamos, e sobre a família, etc, mas isso é educação e trato social. Ficar mexericando a vida da gente é outra coisa; é falta de serviço, e ter uma vida bem monótona pra ficar se preocupando com a vida dos outros. Infelizmente, tenho conhecidos que se preocupam demais com minha vida. E são poucos os que realmente se preocupam comigo, e perguntam sobre minha saúde, minhas novidades.

Convivo, em vários lugares que frequento, com pessoas que perguntam minha vida toda, e invadem mesmo minha privacidade. Meu Deus, como tem gente querendo saber o que não lhe interessa! Gosto de gente que conversa, dialoga, conta suas notícias e ouve as minhas. Gente que só saber perguntar é uma chatice. Querem saber tanto, que interrogam até sobre se tenho dinheiro no banco, e quanto. Se eu vou comprar carro (não tenho carro), e quando. Se eu vou viajar em determinado feriado prolongado. Se eu não conhecesse, pensaria que iria me sequestrar!

Pra piorar, tem gente que me telefona, no celular, no fim de semana, e pergunta onde eu estou! Oras, não passou pela cabeça da pessoa que eu posso não querer contar onde estou?! E, algumas vezes, a mesma pessoa me telefona, em casa, e me pergunta onde eu estava! É o fim! Dá uma vontade de responder malcriadamente!

Mas mamãe me deu educação, e eu preciso saber usá-la, principalmente nessas ocasiões!!!


Mini-resumo: Tania também se preocupa com os outros, e pergunta, mas nada de intromissões!!!!

sábado, 2 de junho de 2012

It´s a long long long long way….

     
Como eu já disse, o Acre é longe e eu vim de lá. E nesse exato momento estou escrevendo de dentro do avião, justamente na penúltima parte da saga de uma longa jornada de volta pra casa. No último texto (que na verdade foi o meu primeiro aqui), terminei dizendo que estava voltando pra minha terra, após ter concluído os trabalhos presenciais do mestrado, para assim reassumir meu serviço em Rio Branco. Acontece que, de fato, “it´s a long long long long way”, como diria Caetano. E nessa long road, a gente vê muita coisa no caminho, imagina então numa trajetória de 4 mil Km, quase de Oiapoque ao Chuí (pesquisei e vi que o extremo Norte fica na verdade no Monte Caburaí, em Roraima). Tudo isso em pleno feriado, onde tudo se vê e todos se movem.

Embarco no sábado de manhã, 1h30 da tarde, com aquela fina ressaca de despedida de sexta. A noite foi boa, bar de rock tradicional da cidade, com Red Hot cover. Ainda não tinha conhecido o bar com a pinga mais famosa e gostosa da cidade, e olha que eu nem gosto de pinga, mas essa era realmente boa. Saldo da noite: positivo. Saldo de sono: negativo.

A previsão de chegada em Porto Velho, Rondônia, meu destino final de hoje (ficava mais barato pernoitar em Porto Velho, ficar na casa de uma amiga e ir pra Rio Branco no dia seguinte) é de 1h40 da manhã. Detalhe: horário local. O que significa que, pelo horário de Brasília, estarei chegando às 2h40, depois de longas escalas em Congonhas e depois em Brasília (o que pelo lado bom me rendeu os textos de estreia aqui do blog). Ou seja, são mais de 12 – eu disse 12 – horas de jornada, incluindo tempos de voo e tempo em escala. Vocês têm noção do que é isso? É quase uma viagem internacional atravessando o Atlântico. Incluindo valores, diga-se de passagem. É, de passagem, literalmente.

Falando em preços, já de cara posso dizer que paguei um pequeno grande mico, pra estrear com chave de ouro a minha saga do dia. Sabe aquele nosso famoso jeitinho brasileiro? Pois é, nem sempre ele é aconselhável e conveniente. O fato é que era lógico que iria pagar excesso, já que estava indo de mudança. Isso somado ao fato de ser mulher e ter uma veia meio cigana. E é claro que, sabendo disso, eu fiz de tudo para encher a mochila de mão (que tinha rodinha, se não eu não dava conta), para dar uma amenizada no peso da mala. A amiga que foi me deixar tinha ido estacionar o carro, enquanto eu descia e agilizava o check-in. A fila estava curta e como em alguns aeroportos eles pesam também a bagagem de mão, e como com certeza a minha deveria estar ultrapassando todos os limites, eu, “espertamente”, pedi para uma moça e uma senhora, aparentemente mãe e filha, para olharem minha mochila, enquanto fazia o check-in, para que eles não tivessem que pesá-la. E eu ainda expliquei tudo isso e percebi que elas, não fizeram uma cara lá muito boa, especialmente a que parecia ser a filha. Vai ver questão de temperamento ou humor do dia, pensei. Ok, check-in feito, excesso de malas (como o previsto) pago, voltei nas moças, agradeci e saí ao encontro da minha amiga, que já tinha estacionado o carro. Pronto, “crime” consumado! Troquei algumas palavrinhas com minha amiga e na hora marcada me despedi dela e me dirigi à sala de embarque. O que eu não esperava era que, lá dentro, a dita cuja da moça (a da cara não muito simpática) me aparece com um crachá estampado no pescoço, bem da dita companhia área que eu estava embarcando! Ahhh, queria enfiar minha cara debaixo do travesseiro que eu carregava... hahahaha.. Pois bem, tem coisas que só comigo mesmo, viu.

Continuando a saga, tive a sorte de viajar bem na época da nova resolução da bendita empresa área, de suspender lanchinhos nos voos. Ah, que saudade das extintas Varig e Vasp, com aquelas bandejas quentinhas, cobertas por papel alumínio, com direito a sobremesa, cervejas e até whisky (não que eu goste, mas na minha época de faculdade, os colegas que também moravam fora, chegavam “no grau”, ao descer os degraus). Mas quem não tem cão, caça com gato, e dá-lhe amendoim e barra de cereal! O que me salvava eram as lanchonetes de cada aeroporto. E é por lá que a gente mais vê de tudo.

E nessas, uma das cenas que mais me chamou a atenção no saguão do aeroporto, foi uma turma na mesa ao lado da minha. Penso que na tentativa de espantar o tédio da espera, eles brincavam de "stop". E eu, também no tédio da espera, quase pedi pra participar! Hahaha. O melhor não foi isso: quando chegou a letra A, cidade, estado, país. Adivinhe??? Yeah, a mocinha grita: ACRE! hahaha.. morri! Pensei: é, pois é pra lá que eu vou!

Outras duas coisas interessantes me aconteceram e me deram cada vez mais a certeza que o mundo é realmente um ovo, quase reduzido à gema, de tão pequeno. Meu destino inicial foi Bauru, certo? Pois bem, fiz escala em São Paulo, capital e quando fui embarcar de novo no avião, de São Paulo para Brasília, reconheci de longe um colega do mesmo hospital que eu estagiava em Bauru, com sua esposa.Daí eu questiono: eu não poderia ter encontrado eles no voo de Bauru? Sim, poderia, deveria. Mas não. Eles estavam em São Paulo, vindo de um casamento, e agora estavam indo pra casa da mãe dela, e assim como eu, iam fazer escala em Brasília. Primeira constatação do dia que o mundo nem é tão imenso e a vida é cheia de encontros inusitados. A segunda constatação disso veio em seguida.

Quando estava finalizando o primeiro texto do blog na conexão em Brasília, depois de, claro, matar a fome de arroz e feijão, vi que o relógio marcava 5 minutos para o horário que deveria estar no portão de embarque. Meu Deus!!!! Perdi a hora no meio das palavras e pensamentos!! Então, eu pergunto a mim mesma: com emoção ou sem emoção??? Ah, com emoção, sempre! Comigo sempre com emoção, ora infelizmente, ora felizmente. E era um tal de respira fundo e cadê a saída, cadê o embarque, cadê o portão, correndo desesperadamente nos corredores infinitos do aeroporto de Brasília. Que Deus me acuda e eu não perca esse voo, pensava. Mas no meio do caminho não tinha um pedra. Pelo contrário, tinha uma grande amiga, conterrânea e colega de profissão, sentada com uma colega e uma mala imensa ao lado dela. Destino: férias em Orlando. Gente, não tinha como não parar e trocar 10 palavras no mínimo, mesmo que esbaforida, atrasada e desesperada. Lembre, eu gosto é de gente, gosto do movimento e da interação, mesmo que isso me custe bons sustos! Fazia anos que a gente não se via e mesmo no meio do desespero, deu pra matar as saudades mesmo que rapidinho, e ainda consegui chegar atrás do último passageiro. UFA!!!! Sim, sempre com emoção. E vamos lá, porque it´s a long, long, long, way e ainda faltam 2h e meia para chegar no começo do fim. E depois disso, sete dias intensos de um curso chamado “Professional & Self Coaching” me aguardam. Estou super ansiosa, pois só tenho ouvido falar coisas maravilhosas a respeito....Mas são cenas dos próximos capítulos.
........
Domingo, última etapa da saga. Acordei, tudo deu certo, não perdi voo, não paguei excesso. E de novo escrevo da janela do avião. Do alto avisto um rio branco, que não é branco. “Um rio torto que não vê o mar”. A long trip finalmente chegou ao fim. Mas a vida, graças a Deus, não; ainda tem chão.


Gabriela escreve esporadicamente, já que a vida cigana do pra lá e pra cá não ajuda. Mas espera por dias mais calmos e terrenos,
 porque andar de avião pra ela é um suplício!

Raízes são para esconder?

Há duas semanas ou mais, caminhando de volta para casa, uma mulher e seus dois filhos, andarilhos de minha cidade me ofereciam mudas de flores para comprar.

Na ocasião disse que não!

Hoje, com um troco no bolso, pude comprar as mudas...e na hora da “paga” ela me diz: mas você vai levá-las assim? Eu não tenho sacolas... com a vergonha de quem me pedia quase em silêncio para que não deixasse as raízes expostas.

Respondi que sim,que levaria sem sacolas... escondendo as raízes na bolsa que estava comigo e que tenho.

Fazendo o meu caminho de volta pra casa pude pensar na cena e nas imagens que aquela pessoa solta na cidade me dava. E mais...uma pergunta: Raízes são para se esconder?

São para se guardar, para cuidar e fazer achar o caminho de volta!

Dormi sozinha e feliz, com Orquídeas e saudades no bolso!

Da minha janela posso ver um novo colorido e agora torço para que as mudas me tragam alegrias no olhar...sigo plantando!

Salve a cidade porque faz brotar!

Salve a minha raiz que me permite perceber novas mudas sem medo!

Impressões, Impressões... agora na tríade que a vida nos coloca como enigma, só me resta escrever um livro!

Juliana escreve esporadicamente e andava um tanto em silêncio...as vezes palavras brotam no meio da madrugada.

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Que fazer?

PessoALL,

Não sei se vocês estão acompanhando, mas o Governo Federal reduziu os vencimentos dos médicos federais em 50%. Ou seja, se antes eles trabalhavam 20 horas para receber menos de R$1.500,00, à partir de agora trabalharão 40 horas pelo mesmo salário. Fora outros benefícios cortados e obrigações impostas. Vai chegar o momento em que nosso país não terá saúde pública por falta de médicos, já que ninguém vai querer trabalhar pro Estado. Complicado. Como o Bola é médico, temos muitos amigos médicos e a Raquel, ginecologista e obstetra muito conceituada, que abre espaço na agenda do consultório particular pra atender na rede pública por convicção, escreveu um texto que eu gostaria de tornar público. Segue abaixo. É longo, mas vale a pena.


"Era uma vez uma menina brasileira, nascida em família de classe baixa, que morou por 20 anos na beira de uma rodovia, na entrada de uma favela.
Ela era inteligente e adorava estudar. Sabendo disso, seus pais resolveram investir nos seus estudos. Abriram mão do seu próprio conforto e de suas aspirações para realizar o sonho da filha: ser médica.
Por causa de seu desempenho escolar, ela estudou por onze anos com bolsa num colégio particular. Mas os gastos com transporte e material escolar sacrificaram financeiramente seus pais.
Na escola ela sofreu bullying, por suas roupas simples, porque carregava seu material numa sacola de feira e passava vergonha na casa das colegas por não conhecer TV com controle remoto e outras modernidades da época.
Mas tudo isso valeu a pena, pois ela entrou “de primeira” numa faculdade pública. Durante a graduação, o sacrifício não foi menor: estudando em horário integral, não podia trabalhar para se sustentar e dependia do esforço dos pais, os quais também bancavam os estudos da irmã caçula.
Horas incansáveis de estudo, madrugada adentro, se privando do convívio com a família, para, finalmente, ao final de seis anos, receber seu diploma: médica!
Mais dedicação para o concurso de residência médica e ela inicia sua especialização de três anos. Depois, passa num concurso para trabalhar naquele que foi o hospital universitário federal onde ela teve toda sua formação, desde a graduação até a especialização. O salário era baixo, mas havia quatro grandes pilares de sustentação de um “castelo”: 1) trabalhar para a população carente; 2) ajudar na formação de novos médicos; 3) dedicar à ciência e 4) a estabilidade e os benefícios de um cargo público, coisa tão incomum no meio médico em geral e que lhe traria alguma segurança financeira.
Empolgada, logo entrou para o mestrado. Aí o castelo começou a desmoronar: o governo não dá a mínima pra ciência. Abandonando sua veia de pesquisadora, ela pelo menos se sentiu consolada por ter tido uma grande experiência profissional e por essa qualificação ter melhorado seu vergonhoso salário.
De alguns anos pra cá, outro pilar de sustentação do castelo desabou: enquanto os governantes – verdadeiros responsáveis pelo descaso e caos da saúde pública no Brasil – estão protegidos em seus palácios e gabinetes, os médicos, sobrecarregados e mal remunerados, ficam na linha de frente encarando a insatisfação da população. O que deveria ser apenas uma batalha contra as doenças, virou uma grande guerra: contra as condições precárias das instituições de saúde, equipes médicas desfalcadas, falta de estrutura, de medicamentos e de leitos, ameaças e agressões físicas e verbais.
Na tentativa de superar tais condições, nossa personagem precisa improvisar como o “Mac Gyver” e se munir de “super-poderes” para atender a demanda do serviço e fazer seu trabalho da melhor maneira possível.
A parcialidade da mídia corrobora para que a população se volte contra a classe médica, bombardeando os noticiários com matérias sensacionalistas. A exploração de situações protagonizadas por “laranjas podres do cesto” rotulou toda uma classe, tornando o médico um vilão. Nenhum veículo da mídia retrata o cotidiano do médico do serviço público, que luta arduamente naquela guerra e precisa ter múltiplos empregos para complementar sua renda, para sustentar os seus e fazer jus aos anos de estudo e dedicação. Nessa empreitada, ele se priva dos momentos com família e amigos. Não sabe o que é horário comercial, lazer, final de semana ou feriado.
Mas nossa personagem ainda alimenta sua alma com os pacientes que reconhecem seu trabalho. Ela se sente estimulada com a nobre função de formar médicos e especialistas. Submete-se a tais condições pensando que tem o privilégio de ter um emprego federal, com férias, décimo terceiro, aposentadoria e alguns benefícios (que são ínfimos se comparados àqueles do judiciário, por exemplo).
E então, estranha e inusitadamente, sua governante aparece com uma medida provisória que reduzirá seu salário em 50% e aos poucos extinguirá seus benefícios e plano de carreira. Bum! O castelo desabou! Uma MP tão estrategicamente bolada que a colocaria num beco sem saída. Sua reação inicial foi de indignação e revolta. Depois, começou a racionalizar e imaginar como isso afetaria seu dia-a-dia e seu futuro. Por fim, caiu em profundo desgosto, por perceber sua insignificância aos olhos do governo.
Ela olhou para trás, reviveu cada momento da sua história de esforços e sacrifícios, lembrou da privação de seus pais, pensou em cada centavo investido em sua formação, em cada hora de sono perdida, em cada dia ausente do convívio familiar. E chorou.
Olhou para frente e vislumbrou aquele hospital universitário sofrendo com exoneração em massa; profissionais extremamente capacitados abandonando seus cargos. A população sofrendo sem atendimento de qualidade num serviço terciário. Graduandos de medicina e médicos residentes órfãos de aprendizado. E se entristeceu.
Olhou num contexto mais global, tentando entender as razões de tal medida e se alertou com as mazelas de outros profissionais de saúde, dos professores, dos policias, etc. Imaginou o futuro deste país que não valoriza aqueles que são a base de uma sociedade decente e verdadeiramente rica. E teve medo.
Só não perdeu a esperança porque valoriza o ser humano. Se esse texto te sensibilizou ou te fez pensar, então há esperança. Trata-se de uma história real."

Raquel W. Santos,
Ginecologista e Obstetra
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