sexta-feira, 22 de agosto de 2014

O lado bom de errar

Intuição de mãe não falha. Falha. Sou a prova disto. Desde que descobri minha gravidez tinha uma certa intuição a respeito do sexo do meu bebê. Não falei pra muitas pessoas, mas algumas pessoas sabem disto. E ontem fiz uma ecografia e (finalmente! Como demora pra chegar este dia) descobrimos o sexo da nossa joia preciosa! É uma MENINAAAAAAAA!!

Meu amor, saiba que a mamãe errou sim! A vida toda desejei ter uma menina pra encher de lacinhos, maquiar, fazer trança, colocar roupas frufruzentas. Mas quando me descobri grávida, talvez pra não criar nenhum tipo de expectativa, imaginei: é um menino. E sabe o que de bom aconteceu com tudo isso? Aprendi, silenciosamente, a ser mãe de menino. Imaginei mil vezes os diálogos que teria com ele, nossos jogos de futebol e lutinhas no tapete da sala. Imaginei como seriam nossas conversas sobre o amor, sobre a vida, sobre integridade, sobre respeitar as mulheres e não tratá-las como objetos. Decidi que iria aprender (na marra!) a gostar de azul e que montar um quarto de menino poderia ser tão encantador quanto montar um de menina.

Todo mundo sempre me disse “tu tem cara de mãe de menina”. É, eu tenho sim! Mas o dia em que Deus resolver me presentear com um menininho lindo, terei aprendido como ser mãe dele, e terei aprendido com você filha! Tu nem veio ao mundo ainda e já me ensinou uma grande lição, e eu só posso te amar a cada dia mais e mais.

Aprendi a ser mãe de menino. Já nasci sabendo ser mãe de menina. Imagino agora como será a nossa relação, minha princesa. Unhas pintadas, maquiagem, meus sapatos desfilando em pezinhos minúsculos, meus colares num pescocinho infantil, pulseiras espalhadas pela casa. Conversas sobre coisinhas de mulheres, dieta, primeiro amor. Nós duas falando mal dos homens (tá, a gente tem que se divertir também né?). Filmes de comédia romântica, contando juntas as calorias de um saco de pipocas. Sei que nossa vida cor de rosa não será sempre um mar de rosas, mas ela será doce e teremos muita paciência uma com a outra. Quero que você possa se espelhar em mim, confiar em mim em todos os dias da sua vida. Que sinta vontade de me contar teus segredos, que queira me ouvir. Que nossos olhos brilhem ao olharmos uma para a outra.

Eu te amo filha! Obrigada por me mostrar que “errar” pode ser, às vezes, tão doce!


Andri escreve às sextas-feiras e não poderia estar mais feliz do que está agora.

terça-feira, 19 de agosto de 2014

Do preconceito ao... preconceito

Semana passada minha cidade natal apareceu no Fantástico. Não, não é motivo de orgulho, mas de vergonha alheia e preocupação.
Para dar um pouco de contexto, um dos maiores orgulhos de grande parte (friso que não são todos) dos moradores de Caxias do Sul é sua descendência italiana. Nunca entendi o porquê. As pessoas valorizam e buscam sua origem longínqua na Itália, viajam para lá ver os “parentes” e se declaram italianos. Para mim, quem nasce no Brasil é brasileiro. Aliás, para mim e para a Constituição Federal, mas enfim...cada um cada um.
Dito isso, se entende que foi uma cidade construída por imigrantes, que não se encontravam na melhor das situações no seu país de origem. Fizeram uma viagem sofrida até o Brasil, encontraram uma realidade diferente da que estavam costumados: a língua, as pessoas, os recursos. As falsas promessas. E muitos prosperaram, deixando como legado o sobrenome que ainda tem forte ligação com a Itália.
Isso foi no final do século XIX, muito tempo se passou, muitos outros imigrantes e migrantes chegaram ao Brasil, ao Rio Grande do Sul e, sim, a Caxias do Sul. Lecionei lá por muitos anos, e sempre fiquei impressionada com a quantidade de pessoas de diversos lugares do país que escolhia a fria (em vários sentidos) cidade para morar. Muitos chegaram ao sul como mão-de-obra para a construção civil, que não era encontrada no local. Outros porque tinham amigos e parentes vivendo lá, e achavam que poderiam recomeçar suas vidas. Outros porque enfrentavam uma situação tão ruim que perderam o medo e o apego e decidiram arriscar.
Recentemente, um novo movimento de imigração vem surgindo, de pessoas vindas de países como Haiti, Bangladesh, Gana e Senegal, numa das maiores ondas de imigração registradas no país. A situação se repete: pessoas chegam com esperança de uma vida melhor, mais segura, com mais dignidade; encontram outra terra, outra hábitos, outra língua, outro clima. Encontram portas abertas mas também encontram muitas portas fechadas. Encontram o “nós” e o “eles”, numa dicotomia impossível de conceber. A reportagem do Fantástico divulgou o que quem mora ou circula pela cidade de caxias do Sul já tinha percebido: o preconceito.
Argumentos falhos e mentirosos tentam dar suporte a ideias absurdas de exclusão, tão levianos que nem vale a pena repetir aqui. Quem tiver interesse, pode acessar a matéria e fazer sua própria análise.Não vou ser preconceituosa e dizer que toda a população pensa assim, até porque, felizmente, não acredito nisso. Mas queria tanto que tais pessoas pusessem a mão na consciência, se vissem no espelho, usassem um pouco do cristianismo que é tão difundido na cidade, para ver os imigrantes como o que são: pessoas. Gente. Igual aos moradores, igual aos migrantes, igual aos demais imigrantes... gente! Tem gente feia, bonita, magra, gorda, alta, baixa, negra, branca, amarela, cor de rosa (como os próprios “gringos” quando voltam da praia), gente honesta, desonesta, chata, divertida.... gente de tudo o que é tipo. Mas é tudo gente. Sem preconceitos.

 


Renata sente orgulho de muitas coisas da sua terra natal. E espera que a tal onde migratória sirva para ensinar essa pequena lição para algumas pessoas, sobre empatia, compaixão e preconceito. 

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Colorir a alma da gente

Festival Internacional de Folclore acontecendo aqui na minha cidade, Nova Petrópolis. Oportunidade única para conhecer outras culturas, gente diferente e ao mesmo tempo essencialmente igual a nós. Estava há pouco sentadinha ao sol do começo da tarde, curtindo o horário de folga e assistindo algumas apresentações. Todas lindas e contagiantes, mas eis que surge no palco o Grupo Compagnie de Danse Pom’kanel de Martinique. Martinica é uma ilha que fica na América Central e foi colonizada pelos franceses. Isso foi o que aprendi sobre este lugar. Mas existem aquelas informações que os livros didáticos não trazem e que somente nossos olhos são capazes de nos mostrar com perfeição.

Quando eles sobem no palco, a energia se espalha em poucos segundos. Você tem vontade de dançar junto, é impossível ficar parado. Suas roupas coloridas, suas peles negras, são um espetáculo à parte. Dançam o tempo todo sorrindo, transmitem nos olhos o que sentem e o que sentem é inexplicável através de palavras. Desejo que como eu, as pessoas que moram ou estão de passagem por nossa cidade tenham se permitido o prazer de deleitar seus olhos por meia hora que seja, com tamanho espetáculo.

A apresentação por si só, já teria me bastado para muitas horas de alegria ao relembrá-la. Mas como sou daquelas pessoas que gosta de tirar sempre uma lição de tudo o que acontece, cá estou eu, refletindo para saber o que, além do prazer gratuito que a arte proporciona, esta apresentação de dança pode me ensinar.

Aprendi com este povo tão simpático que levar a vida sorrindo realmente é o melhor remédio. Que devemos nos permitir conhecer nosso corpo e usufruir dele da melhor forma, pois é um instrumento de comunicação, ele realmente fala, mesmo quando nos mantemos calados. Aprendi que ser cordial é uma virtude. Que as cores transmitem energia. E, principalmente, aprendi que não importa se falamos o mesmo idioma, a linguagem da música e do sorriso é universal.


Eu, que andava tendo uns dias meio down, estou decidida a sair na rua e puxar papo com um estranho, quem sabe a pessoa maravilhosa que posso acabar conhecendo? Esqueçam vocês também aquele papo de mãe “não vá falar com estranhos”, e falem. Falem com todos que cruzarem seus caminhos, permitam-se! A felicidade não vem para quem fica em casa se lamentando. Ela está na rua, nos lugares e situações mais inesperadas.

Andri escreve às sextas-feiras, vai ali bater um papo cabeça com o primeiro estranho que aparecer e já volta

Créditos da Imagem: Mauro Stoffel

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Navegar é preciso


Há muito tempo sem passar por aqui, estava ensaiando um texto sobre a importância do trabalho. De quanto ele dignificava o homem, de quanto ele nos fazia bem, etc. e tal. Estava bem feliz com minhas conquistas profissionais, numa fase muito boa para "negócios". Ficava indignada com algumas amigas e conhecidas que tinham largado mão de sua vida profissional, para se dedicarem exclusivamente aos filhos, marido e o lar. Me perguntava: como isso seria possível, em pleno século 21?? E não cansava de repetir: “Meu Deus, como me realizo no trabalho, como me sinto bem sendo útil, sendo reconhecida, fazendo mil coisas ao mesmo tempo...” E dá-lhe aparecer e aceitar proposta de trabalho. Eis que.... "bum"! Estafa, crise aguda de estresse, ansiedade, e a coisa toda. 

Mas enfim, não vim aqui para entrar nos detalhes do problema, que só quem já teve uma crise dessas para saber do punk hard que é. Nem para descrever como saí dela. Vim falar que navegar é preciso. 

Largar tudo, se desconectar, dar um breack para os comerciais.. Pura questão de saúde. Viajar, passear, namorar mais, falar besteira, dançar, ouvir música... Tudo isso é tão fundamental quanto o trabalho. 

Na verdade, penso que, no caso de viajar, uma coisa está ligada a outra. Claro, se você não tem o privilégio de nascer em berço esplêndido ou ter um maridão que lhe sustente (e também para quem não tem problema com isso, o que não é o meu caso, particularmente). Sempre falei que trabalho para poder viajar. Não é para ter carro do ano, casa luxuosa, bolsa e roupa cara. É para botar o pé na estrada e desbravar, se encantar, contemplar. Não há um ano em que eu não viaje, mesmo sob indignação da família, que insiste para que eu “me firme”. Mas cada um sabe onde seu sapato aperta.

E o meu sapato aperta quando começo a me obcecar demais pelas tarefas cotidianas, quando perco o sono e aí. ... Deus ajude! Me descobri workholic e nunca imaginei. E olha que o coração vai bem, não é fuga de um relacionamento ruim. É vício mesmo. Freud ou Jung com certeza explicam!! Rs.. 

Enfim, é daqui que vos falo, fazendo exatamente o que mais amo: ouvindo música, escrevendo ( bem vinda de volta inspiração), de dentro de um avião, rumo a Venezuela. Porque sim, navegar é mais que preciso: é vital!




Gabriela voltou das férias, segue trabalhando com moderação e já planejando a próxima estação!







terça-feira, 5 de agosto de 2014

Vaquita

Tenho andado sumida do blog (e de outras áreas da vida, mas que não vêm ao caso nesse post), principalmente, porque priorizei trabalho nesses últimos tempos. Tive visita da família e isso também recebeu bastante do meu tempo. 

Nas últimas semanas estou fazendo um curso na Carolina do Norte, Estados Unidos, sobre conservação marinha. Tenho muitos assuntos para contar! Há um grupo bem diversificado, com alunos de graduação, mestrado e doutorado. E há também um grupo internacional, formado por estudantes e/ou profissionais, de 21 países, onde me encaixo.

Quero falar das diferenças e similaridades culturais; de como foi estar aqui na final da Copa; das perguntas que fazem sobre o Brasil; mas o assunto que não sai da minha cabeça e que eu quero que vocês saibam é a vaquita.

Leram certo: v-a-q-u-i-t-a. 

“WTF?” vocês devem estar pensando. Calma e senta que lá vem história.

A vaquita é simplesmente o cetáceo (ordem que inclui as baleias e golfinhos) mais fofo do mundo! Ela é pequeninha, foi descoberta na década de 50 (isso é muuuito recente) e vive em um só lugar do mundo: na parte norte do Golfo da Califórnia. Dentre TODOS os lugares do mundo! Isso quer dizer que existe só uma população de vaquitas. Tá, e aí? Por que não paro de pensar nelas? Existem bichos fofos e bichos raros aos montes.


O fato é que se estima que existam 97 vaquitas no mundo. Se vocês tem dúvida se leu certo, eu repito noventa e sete animais. Só. E a maior ameaça é a pesca com rede de emalhe que visa capturar outra espécie ameaçada (um peixe chamado totoaba), cuja captura é proibida. E adivinha por que as pessoas pescam totoaba? Por que uns caras lá na China usam a bexiga dela como um ingrediente valioso.

Gente, me digam que não sou só eu que não me conformo que vamos levar a vaquita à extinção porque uns caras gostam de comer bexiga da totoaba! Pelamordedeus! Detalhe: uma bexiga dessas podem valer até 10 mil dólares na Ásia. Esse é o preço de uma espécie?

O governo do México está tentando reverter a situação, mas não é algo fácil: fiscalização, monitoramento, educação, incentivos... todo mundo sabe que não é fácil. Mas se não for feito algo AGORA, não tem mais volta. 

http://www.ecologiaverde.com/campana-para-proteger-a-la-vaquita-marina-el-mamifero-marino-mas-amenazado-del-mundo

E é isso que não me sai da cabeça: a vaquita, a totoaba, a ganância, a ignorância, a extinção. Se alguém tá pensando: tá, e eu com isso? Queria dizer que estamos todos ligados. Que o produto que a gente consome tem uma história e que cada passo dessa história tem consequências. Que a gente tem que se informar, tem que fazer escolhas melhores (de produto, de caminho, de candidato, de vida), tem que assumir que é problema nosso.



Renata segue pensando na vaquita e não sabe se sente mais pelas 97 vaquitas que estão literalmente à beira da extinção ou pelos 7 bilhões de seres humanos que podem levar a tantas outras espécies, inclusive a si mesmos, à extinção...



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