quarta-feira, 24 de junho de 2015

O que configura uma família?

Um pai, uma mãe, um, dois, três filhos?

Uma mulher, três filhos, um cachorro?

Dois pais, quatro filhos, dois gatos?

Duas mães, dois filhos, cachorro, gato, galinha?

Um homem, uma mulher, uma cunhada, um amigo agregado, dois cachorros?

Um pai, dois filhos?

Uma tia, um sobrinho?

Uma tia, um tio, dois sobrinhos?

Uma avó, três netos, um gato, uma tartaruga?

Genes em comum?


Família não deveria ser algo mais do que uma estrutura imposta? 

Tipo qualquer relação de afeto, cuidado, proteção? 

Ouvi dizer que tem quem seja contra a adoção - até por famílias ditas “convencionais”.

Por que uma criança seria mais feliz em um orfanato ou na rua do que adotada? 

Ah, mas como levar para casa alguém com genes diferentes dos nossos? Mas porque os nossos genes são tão melhores do que outros? 

A gente casa com pessoas com genes totalmente diferentes dos nossos e já bem criadas! Porque não podemos ter filhos com genes diferentes dos nossos, se nós mesmos iremos criá-los? Nem tudo é genético, tudo o que somos aprendemos com a nossa família, que pode ser pai e mãe, dois pais, duas mães, uma tia, uma avó, irmãos, amigos, conhecidos especiais – tanto que filhos adotivos muitas vezes são “a cara dos pais”.

Por outro lado, no Brasil há mais pretendentes à adoção do que crianças aptas para adotar, e mesmo assim existem muitas crianças aguardando adoção! – principalmente porque os pretendentes têm preferências quanto ao perfil da criança! Sei que devem ser tomado muitos cuidados, mas parece que o pensamento dos pretendentes (e da justiça) também precisa evoluir.

Luciana desde criança pensou que se tivesse filhos seriam adotados, e não consegue entender quem seja contra esse ato. Certa vez até acabou um quase noivado por isso, embora não descartasse a hipótese de também gerar filhos.

terça-feira, 23 de junho de 2015

Essa fome que não passa

Uma mensagem desinteressada no Whatsapp, enviada num momento de ócio ou naquela hora do café, em que estava à toa. Uma resposta nem sempre relacionada à pergunta. Um emoticon fofinho.
Uma enxurrada de palavras quando se vêm, em meio a “nossa quanto tempo” e “ também estou numa correria”. Um abraço xoxo, um beijo estralado no rosto e um “vamos fazer alguma coisa sem fala” para arrematar.
Uma noite, uma mesa de bar. Quatro almas, quatro copos, quatro histórias que não se conectam além de dividir a mesma garrafa. Histórias soltas, quatro almas que voltam pra casa do mesmo jeito que estavam quando saíram.
Situações assim são cada vez mais comuns, e ao mesmo tempo em que me sinto incomodada, aproveito para observar. Parece que estamos com fome de falar, de ser ouvidos, e não temos tempo algum para ouvir. E essas “conversas” que temos a todo o momento não nos saciam, nem aos nossos interlocutores. Apenas nos deixam mais ansiosos e com ainda mais fome. A resposta à famosa pergunta: você tem fome de quê? De falar, de ser notado, de preencher seu tempo. 
Tenho sorte em poder ter conversas de verdade. Com intervalos, com escuta atenta e generosa. Daquelas que mudam um pedacinho da minha alma ao me emocionar, e que passam a fazer parte de quem eu sou.  Inclusive tenho conversa comigo mesma, e às vezes me surpreendo ao perceber coisas que desconhecia. Ao ouvir sem preconceitos, sem tentar adivinhar o que se passa em outros níveis, ao falar sem artimanhas, podemos saciar essa fome que nos atormenta. Entender que cada um tem uma história e uma bagagem que a gente desconhece completamente nos ajuda a sermos menos arrogantes e mais curiosos, mais generosos.


Renata espera que todos possam saciar sua fome de falar e de serem ouvidos, simplesmente ouvindo mais, aos outros e a si próprios. 

quarta-feira, 17 de junho de 2015

Impressões externalizadas

Vida de boi

Existe uma onda de menosprezo aos que se diferenciam de alguma forma, seja intelectualmente, seja por algum tipo de ativismo, seja por escolher o bem.

O legal mesmo é ser boi, aqueles que trabalham, trabalham pastando, para um fim não tão digno assim. Soldadinho que obedeça a ordens. 


Vê-se professores que lutam pela sua profissão sendo achincalhados, tudo se resume a “papinho intelectualóide”. Mesmo os que nunca leram Marx, viraram "seguidores de Marx". Todo mundo virou comunista também, mesmo quem não sabe nem ao certo o que significa o comunismo. Ativistas sendo julgados – quando feministas, são resumidas como “mal comidas” ou “sapatões”. A quem se diferencia por fazer o bem, tem-se a taxação de “otário”. Quem enche sua casa de gatos ou cães porque os outros não se preocupam em castrar e muito menos em cuidar, diz-se “maluco”. 

O bacana é não fazer nada. Ou fazer o mesmo, ser igual. Pensar igual. E se o pensamento em massa propagar ódio é mais bacana ainda. 

Preguiça disso tudo. 

~~~

Pieguice pós dia dos namorados

Já vi que não tem escapatória! O ser humano é um ser dotado de pieguice latente.

Até os mais durões, vez ou outra vão amolecer e deixá-la aparente.
Até os mais fortes serão, nem que por um dia, sentimentais, românticos, sonhadores. 
Até os mais "machos" vão se emocionar com propaganda de perfume, derreter com uma declaração de afeto, se deslumbrar com fotos de um casamento.
Até os mais resistentes vão chorar com as injustiças. Vão se entristecer com as mazelas desse mundo, com as diferenças sociais, com o preconceito e intolerância que tanto cerca-os.
Vão sorrir com o sorriso de uma criança, querer levar aquele animalzinho abandonado para casa, pensar em constituir família.

E os que não nasceram com esse vírus que vez ou outra se manifesta penso faltar o gene da humanidade, e serem apenas seres, não humanos.

E no dia dos namorados postarão fotos e juras de amor eterno, serão piegas no mais que poderiam ser. Amor para toda a vida. é o que mais se lê - citando Rubem Alves, meu avô, mais uma vez: "Somos donos dos nossos atos, mas não somos donos dos nossos sentimentos. Somos culpados pelo que fazemos, mas não somos culpados pelo que sentimos. Podemos prometer atos. Não podemos prometer sentimentos. 'Eu sei que vou te amar, por toda a minha vida vou te amar...' Lindo e mentiroso. Não se podem prometer sentimentos. Eles não dependem da nossa vontade. Sua existência é efêmera. Como o voo dos pássaros."

Mas mais engraçado que as homenagens melosas que pipocam nesse dia, são os que se incomodam com isso, eu mesma, confesso. É que acho que todo o dia é dia dos namorados – não, não estou querendo aquele mel escorrendo no feed o tempo todo! Desejo empenho rotineiro pelos relacionamentos. Rotineiro e longe das telas. Com boas surpresas fora de hora, com companheirismo e declarações inesperadas. Que a vontade de postar a foto, da flor, do presente, do café na cama seja contida e se viva o momento com seu bem-querer. 


Nem só de amor e postagens vive um relacionamento, como as amizades é preciso investimento continuo para seguir existindo. 

~~~

Falando em amizade

Ah, amizade é coisa séria, é amor, e me emociona sempre. Tanto as que cultivo ao longo dos anos, como as que enxergo em outros pelos caminhos da vida. 

Mas algumas vezes, do mesmo jeito que existe platonismo nos relacionamentos amorosos, parece existir uma unilateralidade nos relacionamentos de amizade. Uma das pessoas se empenha, empenha, investe e a outra, ah, a outra... como no caso do platonismo, não deve amar tanto assim! E sem investimento recíproco não existe sustento para nenhum tipo de relacionamento. E o que investe cansa, ou não tem mais o que investir.

Até os relacionamentos familiares precisam de reciprocidade – uma ligação, uma mensagem de vez em quando: “ei, você aí, eu existo e estou pensando em você!”. Mas em tempos de redes sociais, receber um telefonema é coisa rara – e nem no aniversário não acontece mais!

Nesse link, uma boa leitura sobre amizade verdadeira, investimento e a importância disso tudo.

Sigamos investindo nas boas “inteirações” como disse a Renata aqui. Sejam amorosas ou de amizade ou familiares – afinal amizade também é amor – e parente pode ser amigo. 

Luciana escreve as quartas e anda bem inspirada pelas novas experiências e desafios que a vida colocou na sua frente.

quarta-feira, 10 de junho de 2015

Uma semana é pouco tempo?

O que dá para fazer em uma semana?

Dá pra mudar de casa, mudar de bairro, de vista, juntar escovas de dente, trabalhar, ficar morando em duas casas – tomando banho em uma e dormindo na outra. Dá para surtar com o cachorro que não se conforma em mudar. Dá para perceber que não vai ter uma ajuda com a qual estava contando muito. Dá para trabalhar, não aproveitar o feriadão por estar mudando. Dá para estressar com a operadora da internet que disse que talvez em seis meses o sistema libere para você transferir sua linha telefônica. Dá para chamar mil vezes a atenção do cachorro que insiste em latir para si mesmo numa casa toda de vidro. Dá para limpar as duas casas, tirar tudo de uma e colocar tudo em outra. Dá para ligar para uma dúzia de pintores, na esperança de achar um que não queira um rim seu. Dá para sentir muito medo do cachorro que mora na propriedade. Dá para tentar abstrair o fato do proprietário não ter feito nada do que havia acordado. Dá para ter uma tremenda dor nas costas. Uma crise alérgica permanente. Dá para ter um cansaço que não passa e vários lapsos de memória. 

Mas também dá para se deslumbrar muitas vezes com a nova vista. Dá para perceber que tem muitas pessoas com as quais você pode contar. Dá para saber que tomou as melhores decisões - com relação a casa, ao bairro, a junção de escovas, ao espaço para o cachorro, a vista, a rede na varanda, o sossego. E dá para avaliar certas decisões mais antigas que levaram a isso.

Ufa, já é quarta de novo e em uma semana dá para mudar completamente a sua vida - mesmo sem superpoderes!


Luciana escreve as quartas, mesmo que, nos últimos tempos, quase perca o dia e está toda feliz com seu tudo novo de novo.


quarta-feira, 3 de junho de 2015

Em falta de superpoderes

Como seria bom ter superpoderes, ou varinha de condão ou pó de pirlimpimpim que fosse. Ou ser a Mulher Maravilha. Para conseguir ajudar de fato um amigo perdido, não só dando apoio. Para poder diminuir a distância das pessoas que a gente gosta. Para poder sumir do mundo quando as pessoas se incomodam com uma propaganda linda de uma loja de perfumes. Para poder calar a boca de quem fala mais do que pensa. Para tirar todas as crianças das ruas. Para tirar todos os cachorros das ruas. Para tirar a dor de quem sente.

Como seria bom ter superpoderes para as coisas irem sozinhas para dentro das caixas em uma mudança. Para aceitar mais fácil as mudanças, de vida, de estado civil, de casa, de paisagem, de humores. O novo.

Como seria bom ter superpoderes, para manter a conta bancária fora do vermelho em tempos de crise. Para fazer desse país um lugar melhor. Para fazer desse mundo habitável.

Como seria bom.



Luciana escreve as quartas e parou um pouco de encaixotar coisas para escrever hoje. Ainda bem que ela tem poucas coisas! O que importa a ela de verdade ela leva na mente e no coração.

terça-feira, 2 de junho de 2015

Coisa de bicho

Algumas semanas atrás eu estava de férias, aquele tempo em que a gente corre e tenta fazer tudo o que não consegue fazer no resto do ano. Uma dessas coisas, claro, é cuidar da saúde. Fui refazer um exame (nada grave, só um tira teima) pois não fiquei muito tranquila com o resultado da primeira tentativa.
Antes de vocês revirarem os olhos e me chamarem de hipocondríaca, quero contar que a médica que fez o exame da primeira vez, estava no celular discutindo com o ex-marido sobre dinheiro. Por isso não fiquei assim tão certa de que o exame foi bem feito.
Ok, segunda tentativa: estou na salinha preparada sob o aventalzinho de papel. Chega o médico, tri novinho. Eu já ia brincar e dizer que não faria o exame com estagiário, mas segurei a língua porque eu precisava que o exame fosse bem feito, e mexer com o ego do cara não ia ajudar em nada.
Ele começa o exame e as perguntas de praxe e me explica que, caso eu engravide, devo tomar cuidado com a minha circulação, especialmente se fosse ter um parto normal. Digo que não tenho planos de engravidar, mas que, se engravidasse, ia querer parto normal sim. Aí, ele emenda um: não entendo porque essa moda de parto normal, isso é coisa de bicho.
C o i s a  d e b i c h o !

Eu já ia mandar um: que bom que tu não é bicho, tá mesmo mais pra uma ameba!
Mas lembrei que, se falasse, ia ter que fazer o exame pela terceira vez... respirei. Fechei os olhos. E comecei a levemente argumentar sobre as vantagens de um parto normal. A recuperação. O vínculo. A liberação de hormônios. E ele cada vez falava: mas na faculdade a gente aprender que é muito ruim pra mulher (que tipo de faculdade é essa???).  Em defesa do estagiário médico, devo dizer que, em alguns momentos, ele ouviu e disse que nunca tinha pensado sobre um e outro aspecto que eu levantei.
Quando ele acabou o exame (que disse que está tudo certo comigo, obrigada) eu deixei de me segurar e finalizei nossa sessão com um: até porque um filho não pode ser tratado como um apêndice supurado, que você corta, abre, tira e costura.


Renata fica abismada com o baixo nível de informação de pessoas que, infelizmente, são ouvidas como deuses por grande parte da população. E no final, não discorda totalmente do médico. Talvez ele só não tenha aprendido na faculdade, mas os seres humanos são bichos. 
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...