quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Mundo acabando e tem quem queira impor como o outro deve viver!

Julieta não quer casar e ter filhos. Não tem nada de errado com Julieta. Ela só não quer casar e ter filhos. Ela namora com Jonas, tem um cachorro e dois gatos. Julieta é feliz. Jonas também. Os bichos dela também.
Mário é casado com Júlio. Não há nada de errado com Mário. Nem com Júlio. Mário só ama Júlio, e vice-versa. 
Josiana é espírita, embora toda a sua família seja católica. Não há nada de errado com Josiana. Ela só se identifica mais com a doutrina espírita. 
Matilde e Mariano namoram há 10 anos. Eles não pretendem se casar. Não há nada de errado com Matilde, nem com Mariano. Eles só não precisam de papéis ou bênçãos para afirmar seu amor.
Carola cria seu filho Pedrinho sozinha. Não há nada de errado com Carola. Eles só foram abandonados pelo pai do Pedrinho enquanto Carola ainda estava grávida. 
Carmem e Gérson são casados há cinco anos e estão na fila de adoção de uma menina. Não há nada de errado com Carmem, nem com Gérson. Eles só querem ser pais, independente de genes.
Maria e Janete são noivas e estão preparando seu casamento para daqui um ano. Não há nada de errado com elas. Elas só estão vivendo os preparativos para o casamento e fazendo planos de vida. Depois de dois anos de casamento, Maria vai engravidar, talvez seja inseminação artificial. Não há nada errado com Maria e Janete, elas só estão construindo uma família.
Miranda e Jorge são casados há sete anos e tem três filhos – Isabela, Clara e Bruno – não há nada de errado com eles. Eles sempre quiseram uma família grande. Agora pretendem adotar um cachorro, para ensinar sobre responsabilidade e amor para seus filhos.
Dona Marlene cria os três netos. Não há nada de errado com ela. Ela só cria os netos com muito amor desde que sua filha e o marido faleceram em um acidente de carro. 
Telma gosta de sair à noite e conhecer novas pessoas. Telma já se apaixonou por meninos e meninas. Não há nada errado com Telma. Ela só é livre e faz da vida e do corpo dela o que ela quiser. 
Laura conheceu seu namorado há um ano. Eles moram juntos há oito meses. Não há nada de errado com eles. Eles só não contam o tempo e não queriam ficar mais um longe do outro. Eles têm planos de casamento, mas não agora, qualquer hora.
Josias e Cristine se separaram, eles estavam juntos há 20 anos. Não há nada de errado com eles. Eles só se consideravam apenas melhores amigos. Cristine está apaixonada por Kléber e eles vão se casar. Não há nada de errado com Cristine. Ela só não perdeu a capacidade de amar. Ainda bem.
Tarcísio e Amélia estão comemorando 50 anos de casamento e se amam incondicionalmente. Eles têm doze filhos, quarenta e cinco netos e vem alguns bisnetos por aí. Não há nada de errado com eles. Tarcísio e Amélia só foram muito felizes com o seu amor e a grande família que ele gerou.
Judite já adotou dez cachorros e dezoito gatos, que encontrou na rua. Não há nada de errado com Judite. Ela só está tentando consertar os danos da irresponsabilidade alheia.
Inezita tem sessenta anos e nunca se casou. Não há nada de errado com Inezita. Ela só nunca se casou. Ela vive com seu cachorro Max, que já tem 14 anos.
Luigi cria seus dois filhos sozinho há alguns anos. Não há nada de errado com Luigi. Ele só é pai solteiro e não faz ideia de onde esteja a mãe dos meninos.
Marlon não fala com sua mãe há dois anos. Não há nada de errado com ele. Marlon só, após ferir e se ferir muito, considera que o afastamento também é um ato de amor.
Regiane é feminista. Não há nada de errado com ela. Regiane não é mal comida, nem neurótica. Ela é muito bem comida e super sensata. Ela só luta para que as mulheres tenham igualdade de direito com os homens. 
Edson tem trinta e oito anos e é solteiro. Não há nada de errado com Edson. Ele só quer ser solteiro.
Viviane está acima do peso há anos e vive sempre linda e sorridente. Não há nada de errado com Viviane. Ela só não precisa de padrões para ser linda e distribuir sorrisos por aí.

E são tantos exemplos que poderiam ser dados. Exemplos que são julgados a todo o momento. Querem julgar o que é família, querem julgar como as pessoas vivem, suas escolhas espirituais. Querem comandar como uma pessoa deve ser, agir, viver. E não estou falando só da maldita bancada medieval que está tentando nos conduzir para um tempo que não deveríamos voltar jamais. Estou falando do cidadão comum, que gosta de se intitular “de bem”, que com seu olhar julgatório, preconceito incutido e comentários alucinados, acha que pode dizer como alguém deve viver ou não. Essa bancada só é reflexo desse pensamento medieval que paira por aí. Talvez seja excesso de tempo livre, sei lá. 

Ao invés de se preocuparem com o policial militar que pediu para ter relações sexuais com as filhas da amante (de 4 e 14 anos) como prova de amor (essa é das últimas!). Com o Jorge Luis, pintor, que matou oito, pelo que se sabe até o momento. Com os rumos que estão tomando a política e a economia deste país. Com a Marta que “goza” da nossa cara, saindo de um partido corrupto para outro partido corrupto para acabar com a corrupção. Com o Eduardo, que embora esteja mais sujo que pau de galinheiro é uma das pessoas com mais poderes desse país. Com a DIlma Vânia que paralisada entrega o governo para não entregar o cargo. Com o policial despreparado que matou o Herinaldo Vinícius, que saiu para comprar bolinha de gude, no Caju. Com os policiais militares que colocaram uma arma na mão do Eduardo Felipe para acobertar sua execução. Com os assaltos por segundo que acontecem não só no Rio de Janeiro, mas nas cidades do interior do país, e causam danos, prejuízos e feridas. Com essa sensação de insegurança constante. Com o trânsito, que mata e (aí sim) destrói famílias. Com o Zé Mané, estagiário de educação física de uma escola de ensino fundamental do interior, que deixava o celular no banheiro dos profes filmando – sabe-se lá o que ele queria ver! – uma vez que ele estava se preparando para trabalhar com crianças! E com a cara-de-pau do Zé Mané, que após descoberto, pediu para seguir com o estágio. Com o preço da cebola, ninguém merece cebola a R$ 7,99!


Ah, também querem tirar a assistência pelo SUS  às mulheres estupradas – nesse país em que acontecem mais de 500 mil estupros por ano! – sem pílula do dia seguinte e coquetel anti-HIV – querem que a mulher crie o filho do estuprador, que eventualmente tenha AIDS. Quem sabe vão obrigar a mulher a casar com estuprador também, afinal tiveram “relações sexuais”! Não era assim antigamente? Transou tem que casar! E tem quem aplauda.

Luciana escreve as quartas e parou por aqui pois este texto está fadado a não ter fim.


terça-feira, 22 de setembro de 2015

Plantio

Desde que me mudei pra Bahia abri mão das diferenças entre as estações sentidas no Sul, de ter dois guarda-roupas e fazer o ritual de troca de um pelo outro (e morrer de raiva dos veranicos e friagens fora de época). Mas o fato é que o tempo e as estações continuam se sucedendo, com diferenças talvez mais sutis e de menor amplitude.
Nessa semana (amanhã, se eu conseguir postar corretamente esse texto) viveremos o equinócio de setembro, marcando o início da primavera. Nele, o dia e a noite terão durações iguais e a partir daí, no Hemisfério sul, os dias vão lentamente se tornando mais longos (ebaaa \o/).
Numa época em que contamos o tempo por minutos (5 minutos de soneca, em sucessões intermináveis), em que o calendário do próximo semestre está sempre lotado, corremos o risco de nos desconectarmos do que deveria ser nossa base, nossa raiz. Os ciclos da lua, as estações, até mesmo a hora do nascer e do por do sol e da lua. Essas eram as referências de tempo de nossos antepassados e elas seguem se sucedendo mesmo que a gente não agende no nosso calendário. Pores do sol fantásticos continuam acontecendo mesmo que não sejam compartilhados no Instagram e as estações continuam se sucedendo mesmo que a gente não precise de outro guarda-roupa. Ciclos ocorrem e se sucedem, a gente querendo ou não. E participar ativamente, conectando-se, é opcional.

Podemos pensar no equinócio como a época de florescer, de germinar com cuidado e carinho nossos sentimentos, ideias e projetos, para que a colheita seja frutífera. Não custa lembrar que a gente colhe o que planta, e planta o que escolhe.


Renata deseja um feliz equinócio e um sábio plantio!

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Know-how em relacionamentos e descoberta da alma gêmea

A grande vantagem de já ter passado dos trinta é o know-how em relacionamentos interpessoais - amorosos ou não – o que faz com que percebamos que nossa alma gêmea existe sim e é aquela que vemos no espelho. São tantos experimentos, tantos erros, tantos acertos, pouco êxito, que poderíamos ter tese escrita e título de doutor em relacionamentos!


Aos vinte e poucos quando um relacionamento acaba, a vida quase acaba junto e, depois de um tempo, essas lembranças - que na época causaram até dor física – nos fazem rir. Ver meninas quase morrendo por causa de fins de relacionamento chega a dar uma certa impaciência, mas aí lembramos que temos vários desses momentos “sofrimentos-extremo-minha-vida-não-tem-mais-sentido” no currículo. E aqui, desculpe-me caro leitor, mas vem um clichê: são as experiências e até mesmo os tombos – que muitas vezes servem para acordarmos - que fazem com que cresçamos e, além disso, nos enxerguemos como protagonistas das nossas próprias vidas e não mais coadjuvantes. 

Crescemos com a ideia de que somente par é bom, que só somos completos quando em um relacionamento e ainda existem as malditas comédias românticas para reiterar esse conceito! Sério, esses filmes deveriam ser proibidos! Ainda, tem aquela velha mania de contar o tempo e desejos de eternidade! Dá para parar de contar o tempo, "fazendo o favor"? Já falei sobre isso aqui.

As pessoas passam na vida umas das outras com um propósito, não pode ser diferente. Por isso há relacionamentos curtos importantes. Há amizades relâmpago. Tem quem nos cause saudade mesmo que com um único encontro. E há também os relacionamentos longos que acabam. O que importa é o que fica, ou melhor, o que vai, o que vai para a bagagem da vida. 

E só após aprendermos a amar e respeitar aquela imagem no espelho – não entenda mal! Não estamos falando sobre a madrasta da Branca de Neve! – e saber ser feliz enquanto ímpar, seremos capazes de amar verdadeiramente outrem – seja um par, um amigo, cachorro, gato, papagaio. 


Mas é incrível, por tudo o que trazemos desde a infância, é muito difícil ser a prioridade em nossa própria vida. Temos que desaprender tudo que nos ensinaram e isso exige treino – ou terapia – constante.

Luciana escreve as quarta, mas deu uma falhada, pois esse mundo naufragante a deixou sem ar e sem voz. 
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