sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Você não tem a mínima ideia do que é ser mulher nesse mundo

Os tempos têm sido difíceis. O país parece caminhar para uma involução contra todos os exemplos vindos dos países mais desenvolvidos. Mas nada pior dos que os últimos tempos, e aí estou falando de últimas semanas mesmo. 

Temos como homem que aprova o que se vota para se tornar lei um ser corrupto até a raiz dos poucos cabelos, imoral, mentiroso, misógino, chantageador, falso religioso...poderia escrever adjetivos o dia todo aqui. E outros imorais correndo para aprovar pautas absurdas antes que esse ser caia. E como demora a cair, não é mesmo? E a pior de todas é um PL da autoria do próprio ser, que é mais um abuso, entre tantos que sofremos no decorrer da vida, contra todas as mulheres. Não existe bancada feminina? Qual o motivo desse torpor todo?


Falando em abuso, esses últimos dias ainda nos proporcionaram cortes na alma quando pudemos ler os depoimentos na campanha #primeiroassédio. Mulheres que se desnudaram até a alma para dividir o primeiro assédio do qual lembraram e que fizeram com que todas nós pudéssemos resgatar os assédios/abusos que sofremos durante a vida. Aliás, uma hashtag não é para fazer o resumo no final de uma postagem, mas é um link onde estão compiladas todas as postagens sobre aquele conteúdo – então clica lá na #primeiroassédio e você nunca mais vai ser o mesmo.

Todos os depoimentos me fizeram lembrar as vezes que queria sair com uma roupa e resolvi sucumbir ao medo e sair com algo mais discreto; 

fizeram lembrar do dia em que – com 12 ou 13 anos (a idade da Valentina – nojo) um desconhecido num ônibus intermunicipal disse que me daria um beijo ali mesmo, que a minha boca era linda, entre outras coisas que fiz questão de esquecer, e terminei a viagem na cabine do motorista, onde me senti segura – me sentindo culpada por ter conversado com um desconhecido;

fizeram lembrar quando com 14 anos um cara enfiou a mão dentro da minha bunda, quando eu entrava no prédio que eu morava – mas mais pareceu que enfiou na minha alma – embora ele tenha sentido o tamanco que eu usava fincado em seus costas por um reflexo meu, fiquei me sentindo imunda por muitos dias e achando que a culpa era minha, afinal porque uma bunda tão grande?

fizeram lembrar da noite em que o cara que eu era apaixonada e nunca tinha tido nada (aí já na faculdade) – me levou para casa após um baile de formatura (e eu tinha certeza que ele não tinha nenhum interesse por mim) – de ele ter me agarrado a ponto de arrebentar meu vestido e eu só ter escapado por ter conseguido abrir o portão e entrar correndo no meu prédio. E fiquei por muito tempo sentindo vergonha por ter sido apaixonada por uma cara desses – quem vê cara não vê tara – e culpada por ter me aproximado dele. Só o vi mais uma vez um tempo depois e senti um frio tão grande na espinha e muita náusea. Claro que nunca contei isso para ninguém, afinal acreditava que a culpa era minha; 

fizeram lembrar de quando tive que mudar de um ap que adorava por ter um vizinho stalker – antes mesmo desse termo existir – por ele me esperar todos os dias na sacada e descer as escadas “coincidentemente” na hora que eu estava subindo – por ouvir as batidas na porta para pedir algo e prender a respiração para ele não perceber que eu estava ali, mesmo sabendo que ele sabia que eu estava; 

fizeram lembrar do professor que passou um seminário inteiro olhando para a minha bunda e que parou atrás de mim no caixa eletrônico, passando a mão no meu braço para me dizer bom dia...

fizeram lembrar de todas as vezes que deixei de passar num lugar escuro e caminhei muito mais por medo; de quando tive que atravessar a rua enquanto passeava com meu cachorro; de todos os “delícia”, “gostosa”, “tesão”, “te comia todinha” e etcéteras.

E hoje me abstenho de falar dos abusos morais sofridos profissionalmente. 

Aí as pessoas (ah, as pessoas!) protestaram contra o tema de redação do ENEM, o qual foi dito como feminista não sendo, e esquerdista, como se não fosse um tema de interesse geral. Como a persistência da violência contra a mulher poderia não ser um tema de extrema relevância? Sobretudo quando não há nenhum viés de mudança, mas sim de piora, com o rumo que os políticos têm dado para as nossas vidas? 

Ah o ENEM, ainda nos proporcionou ler as interpretações sobre a frase legendária de Beauvoir. Tantas gritaram que nasceram mulher sim, pois nasceram com uma vagina! Não é à toa que muita gente não passa em concursos por não saber interpretar textos. Aliás, quando alguém chega para você e diz: “que bela mulher você se tornou” – você pensa logo que não, você não se tornou mulher, você já nasceu com uma vagina – ou você pensa em toda a sua trajetória de vida?

Os depoimentos do #primeiroassédio me cortaram a alma e me fizeram sentir sortuda pela violência sofrida como mulher no decorrer da minha vida tenham só marcado minha alma, vendo tantas outras que sofreram violência física e tiveram seus corpos e suas almas dilaceradas. As atitudes perante a redação do ENEM fizeram temer mais ainda por tantas mulheres abusadas, violentadas, machucadas – muitas vezes por seus próprios companheiros. As pedras atiradas no feminismo, mesmo quando não se trata dele – por homens e mulheres – me fazem perceber que não são só os homens que não fazem ideia do que é ser mulher nesse mundo, muitas mulheres também não. E que culpa é essa que a gente tanto sente?

E não, não é uma simples vagina que nos torna mulheres.

Luciana normalmente escreve as quarta e está muito contente com a mobilização feminina contra o PL5069 - está apenas começando!

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Violência contra a mulher

Gente, depois de semanas sem escrever no blog, juro que não queria voltar escrevendo sobre esse assunto. Mas não tem condição de não falar sobre isso.

Vocês devem ter visto que o assunto da redação do Enem, que foi no último final de semana, foi “a persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira”. E isso é um fato. Não é preconceito. Não é mimimi. Não é o caso de percepção ou impressão. Fato.

Se por um lado fiquei muito feliz pela escolha do tema, que teoricamente colocou 7 milhões de pessoas para pensar sobre o assunto. Mas essa felicidade se acabou no momento em que tive a (infeliz) ideia de ler os comentários das pessoas sobre a escolha do tema. E nem falo daqueles políticos babacas que usam qualquer “oportunidade” para autopromover sua babaquice, mas de gente normal (não sei se normal foi a escolha mais adequada de adjetivo). 

E o que vi foi o reforço do machismo por homens e por mulheres, o reforço de preconceitos e muita falta de informação. Muita! 

Já escrevi e já falei bastante sobre violência contra a mulher e às vezes eu desanimo de tentar sensibilizar as pessoas. Mesmo mulheres que já foram (e são) vítimas acabam aceitando a situação, e se sentindo até culpadas pela violência que sofrem. 

Vou indicar para vocês um vídeo que está sendo bastante divulgado nas redes sociais e que pode tanto servir de apoio para as vítimas como pode tentar criar um pouco mais de empatia em quem “não acredita” em violência contra a mulher: https://www.youtube.com/watch?v=0Maw7ibFhls

Renata escreve às terças e hoje não tem energia para fazer um escândalo, mas espera que todas façam!

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Um quindim para finalizar um dia péssimo é quase poesia gastronômica

Mundo de mal a pior... aliás, segundo alguns aí era para ter acabado hoje, e cadê fim?! Talvez já tenha acabado e a gente que não tenha percebido. Talvez esse seja o lado B da humanidade e não nos avisaram. O que se notícia parece muito com o que ouvi falar sobre o purgatório outrora. Sim, eu estou apocalíptica desde a semana passada, como pode-se ler aqui,

E, mesmo com tantos problemas e dificuldades,  tem quem consiga piorar o dia-a-dia! Seria tão mais simples a rotina leve, já que o resto está esse caos!

Comendo o meu quindim – aquele que cura qualquer dia ruim – lembrei desse texto, o qual complemento:

Oração – Tudo o que eu desejo é que eu não seja (não venha a ser): Gente que não se arrisca. Gente que deixa de viver por medo. Gente que só fala de gente. Gente que lembra de uma história de tempos com qualquer coisa que a gente conte... e conta! Gente que a todo o tempo conta história de gente que a gente nunca conheceu... nem vai conhecer. Gente que não respeita a gente. Gente infeliz que não faz nada para deixar de sê-lo. Gente que manipula a própria situação, para não encarar o que de fato é o problema. Gente que não sabe amar e nem tenta aprender. Gente orgulhosa. Gente que buzina no trânsito. Gente irredutível. Gente que não faz nada por si. Gente que não faz nada por ninguém. Gente que desce a serra em alta velocidade. Gente negativa. Gente que se acha exemplo para tudo. Gente movida pela vaidade. Gente que dá conselho para quem não pediu, nem demonstrou precisar. Gente que não escuta a gente. Gente que não se resolve como gente. Gente proprietária da verdade. Gente que não valoriza nada. Gente que critica tudo. Gente que vive no passado. Gente raivosa. Gente que joga lixo no chão. Gente egoísta. Gente que não se gosta. Gente que sente inveja. Gente que só flutua pela vida, sem fazer diferença nenhuma. Amém.


Luciana escreve as quartas e só o que ela deseja é manter seu equilíbrio.

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