sexta-feira, 15 de julho de 2016

Das dores da gente

E mais um inverno chegou. Juntamente com sua chegada caíram as folhas e fez-se necessário a renovação. Está frio. Chove tanto que parece que nunca mais vai parar, o corpo fica ansiando por um raio de sol, por algo que possa aquecê-lo e lembrá-lo de que, apesar de agora parecer uma lembrança distante, sim, há calor, há amor, há aquele tipo de energia que provoca arrepio e aquece mais do que o corpo, aquece a alma da gente.

Olhando pela minha janela, para essa chuva que insiste em cair, pensei nas tempestades. Mas não desse tipo que destrói telhados de casas e arrasta o que vê pelo caminho. Falo das tempestades que nos destroem momentaneamente, corroem nossas certezas, arrancam o nosso telhado, aquele alicerce que construímos à duras penas, que levamos anos para colocá-lo no hall das coisas seguras de nossas vidas. De repente aquilo que parecia seguro, forte, firme feito rocha, se mostra frágil, pequeno, desgastado. Se, como na história dos três porquinhos, alguém viesse e soprasse essa sua "fortaleza", ela cairia.

Mas então, ela não caiu. Em alguns dias parece que tudo vai desabar, que o mundo inteiro está pesando sob suas costas, e ai, como dói. Dói lembrar, dói pensar, dói imaginar. Dói saber que a sua certeza mais profunda, não era uma certeza. Dói saber que apesar de toda a sua integridade e lealdade, você vai ser ferido. Dói saber que hoje você sente essa dor e amanhã poderá fazer com que alguém sinta. Não é porque hoje dói em você, desse jeito, agudo e intenso (mas que no fundo você sabe que será passageiro), que você pode esquecer que outras pessoas no mundo sentem, sentiram ou sentirão dores mais intensas que a sua. "Cada um sabe a dor e a delícia de ser quem é".

Quando tudo parecia perdido e irrecuperável, a centelha de luz que mora dentro de cada um de nós, acendeu. "Hey, olha eu aqui", ela parecia dizer. Seria simples ignorá-la, não dar crédito a ela, mandar que ela ficasse quietinha no seu canto, afinal, há quanto tempo você não a via mesmo? Mas nós, seres humanos, temos dessas coisas. Nós somos imprevisíveis e apesar de todos os nossos "achismos", às vezes saímos do roteiro que estabelecemos para nossas vidas. Às vezes, sabiamente, esquecemos da plateia que nos assiste, torce (para o bem e para o mal), palpita (idem), e resolvemos viver. Nessa hora o único palpite que importa é aquele que nos manda o nosso coração. E esse sim, mesmo doendo e sangrando, é sábio e sabe exatamente o que é capaz de suportar. 

Andri escreve às sextas-feiras e está vendo aos poucos a dor virar um ponto negro diluído em um imenso mar de memórias, como dizia Caio Fernando Abreu, o cara que traduz seus sentimentos

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